Amigos tricolores

Um artigo tem como um objetivo expressar a opinião da pessoa que o escreve. Ele é publicado em algum veículo que tenha aderência ao assunto. Escrevo, também, sobre marketing digital, mas não nesse Blog, claro. Sou muito grato por esse quase 1 ano escrevendo para o blog que sempre me foi referência. O Zanquetta faz um trabalho brilhante, muito melhor que muito setorista de outros veículos de maior audiência.

Meus últimos 2 artigos, sobre Telê Santana e Muricy, tiveram ótimas repercussões, então, alinhei com o Zanquetta que vou soltar alguns artigos nessa linha mais histórica do nosso São Paulo. Nunca quis usar esse espaço para ficar promovendo o livro, por isso, sempre evitei um pouco falar do glorioso passado do São Paulo, minhas fontes – como varias vezes aqui disse – são as opiniões de torcedores, que trazia – e vou trazer ainda – para debates, sempre colocando a minha visão.

Meu coração é tricolor

Eu tenho 38 anos. Nasci São Paulino, herança do meu avô Severino, que passou para o meu pai, Mauro, que passou para mim, e claro, que passei para a minha filha. Na época dos “Menudos do Morumbi” – para mim, até hoje o melhor time que tivemos – eu era pequeno, torcia para o time que meu avô (falecido em 2014) e meu pai torcem! Minha mãe, bom, ninguém é perfeita, torce para o time da Lava Jato.

Eu já era um fã do São Paulo, vivia com o manto sagrado do time para tudo que é lugar, mas fui realmente entender o que era o São Paulo FC, um pouco mais velho, em 1989 naquela final do Paulista que ganhamos do São José. Ali, eu mudei de torço para o time do meu pai, para torço para o meu time, mudou apenas a percepção, mas não a paixão: São Paulo Futebol Clube!

Surge Raí

A introdução se deve ao fato de poder contar porque Raí, para mim, é o maior ídolo do São Paulo. As novas gerações elegem Rogério Ceni – com méritos – as mais antigas tem em Pedro Rocha, Roberto Dias, Leonidas da Silva, entre outros, como ídolos. Cada um teve seu momento, mas lembrando que ídolo vai além de craque levanta título. Foco nisso, pois hoje o Brasil está tão carente de ídolo, que qualquer “meia boca” vira rei no time ganhando 400, 500 mil reais.

Raí surgiu na época em que eu comecei a entender mais sobre futebol e o São Paulo FC. Ele foi o grande ídolo de uma geração. Eu vi Raí surgir no São Paulo, de irmão do Sócrates a comandante do São Paulo rumo a conquista do mundo! Era diferenciado, dentro e fora de campo.

Rei do Morumbi

Quando Raí chegou do Botafogo-SP, ele pouco foi utilizado, sendo emprestado para a Ponte Preta por um período. Raí era talentoso, mas ele tinha a sombra do irmão mais famoso – na época – e como ele, um grande craque do futebol, que quase jogou no São Paulo, mas infelizmente acabou indo para o lado negro do futebol. Seu jeito tímido impediu que ele explodisse no São Paulo logo que chegou. Sua passagem pela Ponte Preta foi curta, mas importante para ele amadurecer, porém, coube ao mestre Telê Santana dar o amadurecimento que o meia tanto precisava.

Raí, se tornaria em poucos anos o Rei do Morumbi, e por aquelas coincidências da vida, a virada de “irmão do Sócrates” para “Rei do Morumbi” se deu, em 1991, com 3 gols em uma final de Paulistão, em cima do time que o irmão era ídolo. E para dar inicio aquela goleada, Raí não fez um gol, ele fez uma pintura!

Daquele gol em diante, o São Paulo teria um camisa 10 a altura da sua história, algo que depois, foi muito raro acontecer. Leonardo, em 1993, o substituiu a altura, mas desde que Raí parou no futebol, passaram alguns que davam medo de ver com a camisa do São Paulo de tão ruins que eram! Um time que teve Sastre, Pedro Rocha, Zizinho, tinha que manter a altura, mesmo porque, Raí vinha para substituir Pita, um talentoso meia que fazia parte do melhor ataque que tivemos: Muller, Silas, Pita, Careca e Sidney!

Telê e Rai. Que dupla!

Por mais que pudesse parecer, Raí e Telê não eram grandes amigos, mas se respeitavam demais. Raí, me confidenciou em entrevista para o livro, que Telê o ajudou muito a ser quem era e quem é. Os conselhos do mestre até hoje moldam a forma dele viver. Raí, em campo, representava o que Telê queria: futebol bonito, para frente e sem firula. Raí era assim, não era um jogador que pegava na bola e driblava 4 ou 5, como Denilson por exemplo, mas tinha uma visão de campo, inteligência, bom passe e um poderoso chute. Dominava a bola como poucos, tratava dela “com carinho”. Um craque! O São Paulo teve duplas sensacionais como Oscar e Dario Pereira ou Muller e Careca, mas nenhuma foi tão vencedora como Raí e Telê. Saudades do eterno mestre.

Ídolo não foge

Telê chegou ao São Paulo em 1990, no final daquele ano. Deu tempo de pegar o São Paulo mal na tabela e colocar o time na final, mas infelizmente perdemos o título. Em 1991, veio Paulista e Brasileiro. No Brasileiro, Raí, não marcou o gol do titulo, coube a Mário Tilico o fazer, mas depois, Raí marcou os 3 gols da final do Paulista. Em 1992, um ano memorável, Raí marcou gols nas 3 principais finais, sendo que na Libertadores e Mundial, o São Paulo marcou 3 gols (1 na Libertadores e 2 no Mundial) e se lembra quem fez os 3 gols? Raí! Ele ainda deu um show na Espanha marcando gols contra Real Madrid e Barcelona onde o São Paulo fez “apenas” 4 gols, em cada um dos times, em suas casas. Ainda naquele ano, foi responsável por 3 dos 6 gols que o São Paulo marcou na Sociedade Esportiva Crefisa, na época, Parmalat, na final do Paulistão.

Em 1993, Raí marcou apenas 1 dos 5 gols do São Paulo na final da Libertadores. Logo na sequencia, ele foi embora para desfilar sua elegância no Paris Saint Germain. Em resumo, sempre que precisamos de Raí, lá estava ele, até, em 1998, quando ele voltou apenas para jogar um jogo, e marcou um dos 3 gols do São Paulo sobre sua principal vitima: o time da Lava Jato, fora o passe milimétrico que ele deu para o França fazer o 2o gol do tricolor. Sim, meus amigos, bons tempos…

Ídolos também erram

Raí perdeu 2 penaltis contra “Os Lava Jato” e isso marcou demais. Até hoje, tem torcedor desse time que ousa a tirar sarro do Raí por causa daquele jogo, se esquecendo de que o ex-meia marcou 4 gols em 2 finais contra eles. Pelé perdeu pênalti, Zetti tomou frango histórico, Michael Jordan já errou diversas cestas decisivas, Senna perdeu corridas por bobeira. Não há pessoas perfeitas, todos erram, mas é importante salientar que errando ou não, Raí jamais fugiu de campo, nunca se escondeu atrás de zagueiros e mesmo que tenha “apenas” 128 gols, sendo o 11o maior artilheiro do São Paulo, muitos desses 128 gols foram decisivos e nos deram títulos, por isso, um recado aos mais novos: Ídolo traz título, ídolo ganha jogo, ídolo não é aquele que faz uma jogada bonita e vira “gênio”.

Raí, o dirigente

Raí está preparado para trazer o São Paulo de volta a elite. A marca São Paulo é gigante, nenhum time ganhou mais títulos importantes do que nós – ao menos em campo – e isso faz o São Paulo enorme. A camisa do tricolor quando veste é algodão, quando enfrenta, é – ou deveria ser – chumbo!

Raí tem tudo para trazer de volta o São Paulo da sua época. Tem educação, é inteligente, foi o grande ídolo de uma geração. Campeão no Brasil e França e até dizer que ele é tri campeão mundial, já que ganhou jogando pelo São Paulo em 1992, pela Seleção Brasileira em 1994 e porque não lhe dar os créditos em 2005 que ele estava na comissão do Tri? Ele merece.

Raí, uma pena que a idade chega para todos e que você parou. Falta craques como você no São Paulo!

*Felipe Morais. Publicitário, apaixonado pelo São Paulo Futebol Clube. Sócio da FM Planejamento, Palestrante sobre marketing digital, comportamento de consumo e inovação. Coordenador do MBA de Marketing Digital e do MBA de Gestão Estratégica de E-commerce da Faculdade Impacta de Tecnologia. Autor dos livros Planejamento Estratégico Digital (Ed. Saraiva) e Ao Mestre com carinho, o São Paulo FC da era Telê (Ed Inova) – www.livrotele.com.br – facebook.com/plannerfelipe e @plannerfelipe