Amigos tricolores

Quantas saudades de ouvir o grande José Silvério soltar esse grito do fundo da garganta. Claro, que se paramos para pensar, quando ele soltava esse grito é porque o São Paulo tinha sofrido algum perigo de gol do adversário, mas que havia acabado tudo bem, pois o nosso goleiro tinha feito não apenas uma defesa, mas uma pintura para ser capa de jornal no dia seguinte!

Armelino Donizetti Quagliato é do interior de São Paulo, nasceu na cidade em Porto Feliz, na região de Sorocaba. Nasceu em 10 de Janeiro de 1965. Atualmente, possui pouco mais de 60 mil habitantes, fica a 120km da cidade de São Paulo, porém, foi na cidade de Capivari, a 140km de São Paulo, que Armelindo, que depois ficaria conhecido como Zetti, começou a praticar futebol, no time da cidade, o Capivariano, atualmente na série A3. O mesmo time que revelou Cicinho, o folclórico Amaral e o zagueiro Dante. Capivari fica a 30km de Porto Feliz, mas Zetti viveu a sua infância em Capivari.

Além de São Paulo e Palemiras, Zetti jogou no Santos, Seleção Brasileira, Fluminense, União Barbarense e no Sport, onde em 2001, pendurou as chuteiras, para se tornar técnico.

Jogador de vôlei?

Zetti já tinha uma altura acima da média para a idade e sua vocação para esporte era nítida. Ele começou a praticar vôlei, na época um esporte pouco falado no pais do futebol. Seu irmão mais velho era goleiro, e como Zetti o admirava, quis seguir na mesma posição.

Dispensado por ser “gordo”

Zetti foi tentar a sorte em um time maior, no Guarani. Ainda juvenil, foi dispensado por ser gordo, mas o goleiro não ficou parado e já foi tentar uma nova chance no Palmeiras, mas como o time contava com muitos goleiros, Zetti, que havia sido aprovado, foi jogar no Toledo do Paraná, fazendo, em 1983 a sua estreia como profissional. Em 1984 ficou no Palmeiras, mas sem jogar, foi emprestado ao Londrina, também do Paraná, para não perder ritmo de jogo. Em 1987, ele fez sua estreia pelo Palmeiras. Uma mudança de técnico fez com que Zetti assumisse o lugar do então titular Martorelli.

Gol de neto que nunca manchou sua carreira

Zetti sempre foi um profissional exemplar, na verdade ainda o é. Eu moro próximo a sua escola de goleiros e sempre que posso, dou uma olhada nos treinos. Quando Zetti está perto, é uma grande festa. Em 1987, Neto jogava pelo São Paulo e na semifinal do Paulistão, fez um gol de falta que ficou histórico, pois Zetti tomou o seu maior frango e talvez um dos maiores da história, a bola passou por entre as suas pernas e o São Paulo fez o gol. Neto, teve uma pequena passagem pelo São Paulo e se não fosse esse gol, mal lembraríamos desse episódio.

Zetti chegou a ficar 1.238 minutos sem levar gol, com isso, ele chamou muito a atenção de diversos times. A torcida do Palmeiras gostava e confiava no goleiro.

Perna quebrada, o ponto de sorte para o São Paulo

Calma! Quebrar a perna nunca é bom, seja o jogador que for! Mas foi graças a esse episódio triste na carreira de Zetti que ele veio para o tricolor. Em 1988, em um Flamengo X Palmeiras, em uma disputa na área, Zetti se chocou com Bebeto e acabou levando a pior, quebrou a perna, o que o deixou um longo período em recuperação, abrindo a chance de uma promessa palmeirense assumir o gol, era Velloso. Zetti voltou, não queria ficar no banco, por isso, conseguiu um acordo com o Palmeiras, comprou seu passe e o alugou para o São Paulo. Em 1990 o tricolor recebia Zetti para ser reserva de Gilmar Rinaldi, um dos poucos remanescentes dos Menudos do Morumbi.

Em um amistoso contra o Pouso Alegre, Zetti, em 15 de Julho de 1990, fez sua estreia pelo São Paulo e agradou a todos. Na época, o técnico ainda era Pablo Forlan que gostou do desempenho do goleiro e o firmou como titular. Gilmar, na época com 32 anos, viu uma chance de ser titular no Flamengo e se transferiu para lá, deixando Zetti ainda mais tranquilo com a titularidade. Com a chegada de Telê, Zetti se firmou como titular

Telê e Zetti

Assim como Raí, Zetti não era grande amigo de Telê, mas o respeito é enorme até hoje. Zetti me disse, para entrevista para o livro, que ele foi o jogador que mais vezes foi titular no comando do mestre. Em 1990 ambos disputaram a final contra o Corinthians, perdemos, mas Zetti até hoje não se conforma com aquele gol “a bola estava nas minhas mãos, eu ia defender, mas desviou em um zagueiro, fiquei muito mal com aquilo” disse o goleiro para o livro.

O melhor do mundo!

Em 1993, Zetti foi eleito pela Federação Internacional de História e Estatistica do Futebol, o 5o melhor goleiro do mundo, porém, para os São Paulinos, que se acostumaram a ouvir o “espaaaaaaaalma Zetti” ele era o melhor, não tinha para ninguém! Foram 429 jogos pelo São Paulo com 509 gols sofridos, para muitos ele ainda é o melhor goleiro da história do São Paulo.

Titulos do goleiro

Além do mundial de 1994 com a Seleção Brasileira, Zetti tem seus principais títulos com o São Paulo. Ele ficou no tricolor por 7 anos, quase o mesmo período que Telê, ambos chegaram em 1990, Zetti, meses antes, logo, os mais de 30 titulos de Telê, Zetti estava em todos. Zetti é um tri campeão mundial, sendo 92 e 93 com o São Paulo – e como protagonista – e 94 com a seleção. Em 1992, pegou o pênalti na final da Libertadores que nos deu o primeiro titulo.

Zetti X Rogério Ceni

É inevitável a comparação, pois Rogério substituiu Zetti, quando ele, em 1997, se transferiu para o Santos. Eu, particularmente, fã do goleiro fiquei tão triste como quando Raí foi para a França. Cheguei a conversar com Zetti, que muito humilde acredita que não há muito o que comprar, mas para o livro, fiz uma pesquisa que deu o seguinte resultado. 90% das pessoas que viram ambos jogar, acreditam que Zetti foi mais goleiro, inclusive eu. Já posso ver, nesse blog, pelo menos 20 comentários sobre esse tema, opinião cada um tem a sua.

Rogério já disse que achava Zetti melhor, ambos são amigos, Rogério reverencia muito Zetti, não vai falar algo que ofenda aquele que muito o ensinou, Zetti, por outro lado, tem respeito pelos 25 anos de diversos títulos do M1TO, então, cada um com as suas conclusões.

Técnico Zetti

Assim que pendurou as chuteiras, Zetti fez um curso e treinou a base do São Paulo FC. Em 2003 fez sua estreia como técnico do Paulista de Jundiaí. Passou por Guarani, Fortaleza, São Caetano, Bahia, Ponte Preta, Paraná, Atlético Mineiro, Ituano, Juventude e Paraná, mas sem muito sucesso. Em 2013 resolveu parar para se dedicar a vida de empresário – hoje tem uma escola de goleiros – e de comentarista esportivo do Canal ESPN Brasil e na Rádio Capital de São Paulo.

O ser humano Zetti

Entrevistar o Zetti foi demais. Ele te deixa muito a vontade para um papo. Super solicito e educado, Zetti é um cara muito humilde, por isso, está onde está. Durante a entrevista, ele brincou com o faxineiro, alunos e professores, disse que se o Telê estivesse lá, nenhum estaria sentado descansando. Todos riram. Dá para ver o lado humano do ex-goleiro, mas jamais ex-idolo!

*Felipe Morais. Publicitário, apaixonado pelo São Paulo Futebol Clube. Sócio da FM Planejamento, Palestrante sobre marketing digital, comportamento de consumo e inovação. Coordenador do MBA de Marketing Digital e do MBA de Gestão Estratégica de E-commerce da Faculdade Impacta de Tecnologia. Autor dos livros Planejamento Estratégico Digital (Ed. Saraiva) e Ao Mestre com carinho, o São Paulo FC da era Telê (Ed Inova) – www.livrotele.com.br – facebook.com/plannerfelipe e @plannerfelipe