Amigos tricolores

Frequentemente, graças a essa época de má fase do São Paulo, uma época que espero ser bem passageira e que já esteja no final, sou questionado, sobre como seria atuação do mestre Telê Santana no São Paulo atual.

Escrever um livro, sobre o mestre no São Paulo entre os anos de 1990 e 1996, foi sem dúvida, um dos maiores prazeres que eu tive na minha carreira. Não sou um escritor profissional, já escrevi livros sobre marketing digital, que é a minha profissão, sobre o São Paulo é a minha paixão.

Imortalizar o grande mestre nas páginas do livro

(ao Mestre com Carinho. O São Paulo FC da era Telê – Editora Inova) foi sem dúvida um grande presente que recebi de alguma força divina, talvez até do próprio mestre, pois quando comecei a escrever, em 2011, ele já não estava mais entre nós, pois faleceu em 2006.

A primeira pergunta que eu respondo, sobre o que Telê Santana faria se estivesse no São Paulo atual é que hoje ele nem viria para o São Paulo. Tele estava cansado do futebol principalmente da imprensa esportiva, que tanto o criticava e o chamava de “pé frio” uma vez que ele foi o treinador nas Copas de 1982 e 1986 e mesmo com time recheado de craques como Zico, Sócrates, Falcão, Cerezo, Muller, Careca, Júnior não conseguiu trazer as Taças para o Brasil, mas essa fama era injusta, uma vez que Telê foi campeão em praticamente quase todos os times que ele passou. E vale lembrar, que Telê Santana só treinou times grandes como: Fluminense, Atlético Mineiro, Grêmio, Flamengo, Palmeiras e São Paulo. Saiu do São Paulo em janeiro de 1996, só treinou o time por 15 dias e em apenas um jogo. Ele tentou um retorno ao Palmeiras, porém ficou apenas dois dias e a sua saúde o tirou do futebol.

Telê quase não treinou o SPFC!

Como estava dizendo, Telê Santana realmente quase não veio para o São Paulo pois graças às críticas da imprensa ele estava de saco cheio do futebol, então quando me perguntam como seria Telê Santana no São Paulo hoje, eu já digo que ele nem viria, pois se ele já estava de saco cheio do futebol naquela época imagina hoje com as Redes Sociais e o quanto a torcida do São Paulo é cada vez mais crítica, por exemplo, me lembro de alguns torcedores reclamando que o Raí nada havia feito em menos de uma semana de trabalho do nosso novo diretor de futebol. Em 1994, depois de perder a Libertadores, a torcida pediu Luxembrugo no Morumbi. Isso mesmo, meses depois do Bi Mundial, a torcida pediu Luxembrugo no lugar de Telê!!!! Por mais que Luxa fosse um grande técnico na época.

Mas se por acaso Telê estivesse hoje no São Paulo, com certeza jogadores descompromissados nem estariam treinando. Esses jogadores que chamamos de “mimimi”, passariam a quilômetros de distância do CT da Barra Funda. Jogadores sem talento e sem garra, jamais estariam nos no elenco do São Paulo. Tele não trabalhava apenas com jogadores talentosos, ele transformava jogadores em atletas que tinham vontade de vencer prova disso é Ronaldão, um limitado lateral-esquerdo que se tornou zagueiro de Copa do Mundo.

Jogadores mimados!

Hoje, o que vemos são jogadores que não tem a menor vontade e muito menos uma mente campeã. A única coisa que os preocupa é o seu salário no banco. Passam horas fazendo tatuagem, escolhendo carro, saindo com todas as mulheres possíveis, fazendo cortes diferentes no cabelo, colorindo e descolorindo, em lojas escolhendo roupa de marca, óculos de marca, perfumes, não saem de Twitter e Instagram, mas não passam um minuto a mais no treino para aprimorar um chute um drible um domínio. Esse tipo de jogador, com Telê Santana não jogaria, entretanto, é o tipo do jogador brasileiro, hoje dificilmente você vê um jogador que não passa por essas características.

Telê Santana trabalharia muito para aprimorar os jogadores, mas que com essa geração, derrubaram o técnico em menos de um mês, pois esses jogadores, dessa nova geração o que muitos chamam da “geração perdida” não podem ouvir não ou críticas, não podem ser corrigidos ou ficam nervosos e abandonam, isso ocorre muito em faculdades e empresas.

No futebol é mais fácil fazer birra, pois o jogador nunca é culpado. Sempre é o técnico ou a diretoria. O jogador, que é quem entra em campo, erra passe, erra gol, não acerta um lançamento, não dá um drible, não acerta um cruzamento, falha na marcação, toma um gol bobo, uma bola defensável, mas as críticas vão para o técnico, que acaba pagando o pato de tudo, e o jogador se preocupa com duas coisas: salário e fama, e ao que parece, alguns só jogam futebol, pois é uma forma de aparecer na TV.

Futebol bonito sempre!

Telê Santana jamais defenderia ou aprovaria o estilo de jogo que alguns times jogam hoje principalmente o nosso rival da Marginal sem número: o futebol burocrático, o futebol de 1X0, o futebol que prioriza a defesa. O jogo feio, com erros de passe inacreditáveis, os jogadores que não sabem dominar uma bola, mas possuem 38 tatuagens. Vale reforçar que não tenho nada contra tatuagens, inclusive tenho uma, mas falar das tatuagens personifica o que hoje é o jogador de futebol: muito mais vaidade do que talento, e talvez, a última fase de jogadores realmente talentosos no Brasil foi a fase em que Telê Santana era o técnico do São Paulo, afinal, hoje não temos Raí, Muller, Djalminha, Alex, Edmundo vestindo a camisa de um grande time. Nosso ídolo, Neymar, sem dúvida é um craque, e talvez até melhor do que os jogadores citados, mas dificilmente mais profissional, mas atleta, Neymar hoje, é uma celebridade não um jogador de futebol. Telê jamais aprovaria algo assim.

Penso que se hoje Telê estivesse vivo, ele jamais seria técnico.

Não por falta de capacidade muito menos por estar desatualizado. Capacidade ele tinha de sobra, não é à toa, e para muitos, inclusive para mim, foi o maior técnico do país e talvez um dos cinco maiores técnicos da história do futebol mundial. Ele era um estudioso, não tinha medo, poderia jogar contra qualquer time que não tinha medo o time adversário que se adaptar-se ao fim do seu time. Essa é uma filosofia de Telê Santana, modificada hoje para uma filosofia mais defensiva do que estudar o adversário para como diz Muricy Ramalho agredir o adversário, ir para cima, tentar o gol. Hoje, como Parreira disse, o gol é um mero detalhe, aliás como disse Dorival Júnior, técnico não faz gol. Telê, talvez até concordasse que técnico não faz gol, mas é ele que tem que armar o time, escolher as peças, armar jogadas e treinar a exaustão para que em campo o time faça gol.

Telê nos bastidores

Telê hoje seria um grande comentarista, conhecedora fundo do futebol, seria um comentarista odiado pelos técnicos, pois como foi o melhor, seria uma referência, como é atualmente, mesmo 12 anos após o seu falecimento, Telê ainda lembrado como um técnico diferenciado, que gostava do futebol bem jogado e bonito, para frente em direção ao gol. Diferente do que os técnicos de hoje em dia, preocupados em segurar o seu cargo, fazem com seus times. Telê seria um grande crítico desse futebol e talvez, se tivéssemos seguido a sua cartilha de bom futebol, o 7X1 não teria ocorrido.

O mestre hoje, não duraria em muitos times por muito tempo, graças aos jogadores cada vez mais mimado, dirigentes cada vez mais despreparados e torcedores cada vez mais críticos, usando as suas Redes Sociais como canal para desabafo, críticas e xingamento, o que na minha modesta opinião, de nada vai mudar, pois, os diretores e presidente dos times não leem esses comentários em Redes Sociais, grupos de WhatsApp ou blogs sobre o São Paulo.

Telê, se vivo estivesse, estaria nos bastidores do futebol. Tony Ramos, ao me ceder a entrevista para o livro, levantou essa bola, de que tele não estaria mais no banco, não teria mais estômago para treinar times, mas se não fosse um dos grandes comentaristas do país, em uma grande emissora, com certeza estaria como diretor de algum grande time, o que seria péssimo para qualquer técnico ter a sombra de Telê Santana diariamente, mas para aqueles talentosos técnicos, teria visto como uma escola, na qual eles poderiam aprender diariamente.

Telê comentando

Como sempre digo nas entrevistas ou quando me enviam mensagens pelo Facebook ou Twitter, eu não acho que Telê Santana conseguiria treinar os times de hoje graças ao a quantidade de jogadores mimados que temos, entretanto, com certeza o grande mestre ainda estaria nos ajudando, a resgatar o futebol brasileiro, defendendo o futebol arte com dribles, jogadas de pé em pé, jogadas ensaiadas e gols maravilhosos. O que temos hoje no futebol, é um “catadão” de jogadores mimados, que vestem camisas, que na década de 90, só as vestiriam se compraz em uma loja, que não tem a menor condição de representar os grandes times, mas que por falta de talento lá estão.

 

 

 

 

 

*Felipe Morais. Publicitário, apaixonado pelo São Paulo Futebol Clube. Sócio da FM Planejamento, Palestrante sobre marketing digital, comportamento de consumo e inovação. Coordenador do MBA de Marketing Digital e do MBA de Gestão Estratégica de E-commerce da Faculdade Impacta de Tecnologia. Autor dos livros Planejamento Estratégico Digital (Ed. Saraiva) e Ao Mestre com carinho, o São Paulo FC da era Telê (Ed Inova) – www.livrotele.com.br – facebook.com/plannerfelipe e @plannerfelipe