Quando faltar futebol, que seja na raça!

São Paulo joga pro gasto, vence Corinthians e sai na frente nas semifinais do paulistão.

Há quem defenda que o nosso arquirrival é o Palmeiras. Mas, pra mim, esse papel sempre foi ocupado pelo Corinthians. Quando criança, sempre ficava alegre quando via o tricolor amassando os adversários. No entanto, a sensação de ver o São Paulo ganhar o majestoso era única e, até certo ponto, compatível a conquista de um título.

Mas os tempos mudaram e algumas coisas improváveis aconteceram. Os caras conseguiram um estádio, conseguiram um mundial legítimo e o São Paulo, de uma forma inexplicável, desaprendeu a jogar clássicos e se desencontrou do caminho dos títulos.

Em 2018 ainda não tínhamos vencido nenhum clássico. E isso já tinha passado da hora de acontecer. Mas, no caso do majestoso, tinha um agravante, afinal, nossa última vitória contra o time de Itaquera, em mata-mata, tinha sido em 2002. O Corinthians estava entalado, literalmente.

Para a partida, Aguirre tinha vários desfalques importantes, como os zagueiros Rodrigo Caio e Anderson Martins, o volante Hudson e os meias Cueva e Valdívia. Por isso, optou por jogar numa espécie de 4-1-4-1, com um trio de meias formado por Jucilei (centralizado), Liziero (esquerda) e Petros (direita), com Nenê mais a frente e Marcos Guilherme próximo de Trellez.

O jogo, como esperado, começou disputado. O São Paulo, querendo mostrar serviço, adiantou a marcação e logo nos primeiros minutos já mostrou uma postura diferente. A apatia, tão presente nos últimos clássicos, foi deixada no vestiário. A vontade dos jogadores era nítida. Dividiam cada bola e entravam em cada jogada como se fosse uma final de torneio intercontinental, tipo uma tal de Libertadores.

O problema é que sobrava vontade, faltava futebol. Mesmo com os retranqueiros de Itaquera mais desmontados que carro roubado, o São Paulo não conseguia criar chances claras. O time não conseguia penetrar na defesa dos visitantes e abusava de passes horizontais. Nenê não conseguia criar, Trellez estava isolado e os laterais, por mais que subissem ao ataque, não conseguiam nada produtivo.

A partida ficou muito disputada no meio. As faltas, entradas ríspidas e troca de elogios começaram a aparecer com frequência. O tricolor até criava algumas chances, mas nada claro, que pudesse de fato tirar o incômodo empate do placar. Até que no último lance da primeira etapa, Trellez roubou a bola (de novo ele) no campo de ataque e finalizou, Cássio espalmou e, no rebote, Nenê empurrou para o fundo das redes, levando os pouco mais de 42 mil espectadores ao delírio.

Com a vantagem, Aguirre recuou o time na segunda etapa e passou a apostar nos contra-ataques. O problema é que os visitantes não atacaram e a partida ficou monótona. Os times começaram a abusar de passes errados e dos chutões e o embate esfriou. Aguirre até tentou mudar o panorama com a entrada de Lucas Fernandes mas, como dizem, um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Chances surgiram para os dois lados, mas nada suficiente pra evitar a quebra do tabu que já durava 16 anos.

A vantagem está longe de ser ideal pra decidir a vaga na decisão como visitante. Mas a primeira vitória em clássicos no ano, dá moral aos jogadores e deixa o clima mais leve para o confronto de quarta-feira.

Se faltar futebol, que seja na raça! Isso é, e sempre foi, São Paulo.

Por: Matheus Dantas