Você já deve ter se acostumado a ler aqui na coluna PAPO TÁTICO que o sucesso de uma equipe é a soma da sua estratégia de jogo, da boa execução de cada função dentro de campo e também um pouco de sorte (que é resultado de todas as variantes de um trabalho bem feito). Mas nada disso funciona se essa mesma equipe não mostrar disposição, garra e vontade de vencer. O São Paulo apresentou os problemas de sempre (e mais alguns novos) na estreia de Diego Aguirre no comando da equipe, na derrota por um a zero para o São Caetano. O jogo de ida das quartas de final do Campeonato Paulista mostrou que o Tricolor Paulista sofre de um problema gravíssimo: falta de intensidade. Não que Nenê, Jean, Diego Souza, Petros, Rodrigo Caio, Jucilei e companhia tivessem entrado para perder. Longe disso. No entanto, Diego Aguirre sabe o São Paulo é uma equipe apática e que vai ter que trabalhar muito para modificar esse panorama até a próxima 3a feira. 

Assim como Dorival Júnior, o técnico Diego Aguirre apostou na entrada dos veteranos Diego Souza e Nenê e na manutenção do 4-2-3-1 usual da equipe. Com o primeiro jogando como referência no ataque e Cueva jogando mais centralizado, o camisa sete são-paulino foi o ocupar o lado direito da linha de três meias, tal como você pode notar no frame abaixo. A ideia de Aguirre era que Nenê fizesse o papel de “ponteiro criador” enquanto Valdívia acelerava pela esquerda. Só que os problemas começaram justamente na escalação. O time do São Paulo pouco se movimentava e abria crateras gigantescas no seu meio-campo. Não havia trocas de posições, infiltrações, jogadas de ultrapassagem ou triangulações. Apenas Valdívia e Éder Militão (poucas vezes) tentavam algo nesse sentido. E toda vez que Nenê recebia pela direita, este olhava para a área e tentava o cruzamento para um Diego Souza encaixotado entre os zagueiros do São Caetano. E essa falta de intensidade gerava um problema grave na compactação da equipe paulista.

Diego Aguirre mandou o São Paulo com Nenê pela direita e Diego Souza na frente num 4-2-3-1. A equipe, no entanto, pecou demais pela falta de intensidade e pela lentidão nas tramas ofensivas. O frame mostra também os espaços no meio-campo são-paulino com Petros longe de Jucilei. Crédito da foto: Reprodução / Premiere Futebol Clube.

Se seus jogadores de ataque não se movimentam como o esperado, é mais do que natural que o sistema defensivo sofra as consequências desse problema. E foi o que acabou acontecendo. Aliás, é preciso deixar claro que o São Caetano não fez nada além de apertar (um pouco) a marcação na saída de bola do São Paulo. Com os jogadores afastados uns dos outros e sem se apresentarem para dar opção de passe, o time comandado por Diego Aguirre pouco conseguiu fazer na partida. O lance do gol de Chiquinho (em falha de Jean) mostra esse problema com clareza. Notem no frame abaixo como Alex Reinaldo tem liberdade para receber a bola, levantar a cabeça e fazer o cruzamento. E notem também como Chiquinho aparece por trás da defesa são-paulina sem marcação nenhuma para aproveitar a infelicidade do goleiro e balançar as redes. Não espere um time compactado se os jogadores desse time não se movimentam e não cumprem suas funções dentro de campo. Esse acabou sendo o retrato do São Paulo no Anacleto Campanela neste sábado.

Com a defesa mal posicionada e sem a ajuda dos jogadores de meio-campo, Alex Reinaldo tem liberdade total para fazer o cruzamento que Chiquinho completou para as redes. O problema da falta de intensidade se reflete em todo o time do São Paulo, principalmente na defesa. Crédito da foto: Reprodução / Premiere Futebol Clube.
Vendo sua equipe sucumbir diante de um adversário com mais disposição e que aproveitava toda essa apatia do São Paulo na partida de sábado, o técnico Diego Aguirre sacou o peruano Cueva para a entrada de Marcos Guilherme com o objetivo de dar mais velocidade ao São Paulo. Mas o problema da falta de intensidade e de movimentação persistia mesmo com as substituições seguintes (as entradas de Bruno e Liziero nos lugares de Éder Militão e Jucilei respectivamente). O Tricolor Paulista seguia estático e só conseguia levar perigo quando a defesa do São Caetano permitia. O frame abaixo mostra um desses momentos. Valdívia recebe pela esquerda e Júnior Tavares faz a ultrapassagem levando um marcador com ele. O camisa vinte cruza, Nenê desvia e Marcos Guilherme perde boa chance dentro da área. Mas notem quantos jogadores dão opção de passe. Apenas o camisa 23 aproveitou o espaço atrás da defesa adversária. Todos os outros atletas são-paulinos estavam bem vigiados pelos defensores do azulão. Faltava intensidade, movimentação e um pouco de vibração também.

Marcos Guilherme é o único jogador do São Paulo que não sofre com a marcação forte do São Caetano. O camisa 23 acabou desperdiçando uma das chances mais cristalinas da segunda etapa num momento em que o Tricolor Paulista partia para o “abafa”. Faltaram intensidade e movimentação no escrete comandado por Diego Aguirre. Reprodução / Premiere Futebol Clube.

Logo na sua primeira partida como treinador do São Paulo, Diego Aguirre já sabe que é praticamente impossível montar o time titular com Cueva, Diego Souza e Nenê. A formação do segundo tempo, com dois jogadores velozes pelos lados que abriam o corredor para a subida dos laterais pode ser uma saída interessante para que o técnico uruguaio consiga devolver ao time a intensidade e a movimentação que ele deseja. Cueva e Nenê têm condições de jogar mais centralizados numa linha de três meias ou logo atrás do atacante de referência num 4-4-1-1 já utilizado por Diego Aguirre em alguns momentos. O fator complicador está no comando de ataque. Diego Souza tem boa técnica e bom chute, mas é lento e vem mostrando dificuldade para fazer a jogada de pivô. O colombiano Santiago Tréllez está lesionado e o garoto Brenner ainda não passa tanta confiança apesar de ter ido bem com Dorival Júnior no comando em algumas oportunidades.

Diego Aguirre sabe que precisa corrigir essa falta de intensidade do time do São Paulo. E também sabe que é perigoso apostar em jogadores mais lentos quando o futebol pede velocidade e um ritmo quase enlouquecedor das suas equipes. O grande X da questão é saber se ele terá o respaldo da diretoria são-paulina para trabalhar ou se ficará à mercê das críticas da torcida como outros treinadores ficaram.

Torcedores.com – Luiz Ferreira