– Diego Lugano.

Esta é a resposta do novo técnico do São Paulo, Diego Aguirre, para a pergunta “um jogador?”, em uma entrevista em formato ping pong publicada em seu site oficial.

A escolha diz muito sobre os valores, princípios e perfil valorizados por Aguirre em um atleta. O substituto de Dorival Júnior será apresentado nesta segunda-feira à tarde, no CT da Barra Funda. Ele acertou contrato até dezembro de 2018, sem multa rescisória.

O São Paulo sabe que Aguirre é cotado para assumir o lugar de Óscar Tabárez após a Copa do Mundo e fez uma combinação com o técnico: caso ele seja chamado para treinar a seleção do Uruguai, não deverá deixar o clube no meio do ano, mas só em dezembro.

Abaixo, o GloboEsporte.com conta bastidores, métodos de trabalho e curiosidades sobre o novo técnico do Tricolor.

Respaldo e sonho realizado no São Paulo

Diego Aguirre jogou por Internacional (1989 e 1990) e São Paulo (1990 e 1991) no Brasil. Agora, poderá dizer que treinou os dois únicos times do país pelos quais atuou. Isso representa a realização de um sonho para o uruguaio.

No Tricolor, Aguirre será fortemente respaldado pelo trio Raí (executivo de futebol), Ricardo Rocha (coordenador) e Lugano (superintendente de relações institucionais). Os três dirigentes e ex-jogadores bancaram a contratação do treinador. O uruguaio considera esse respaldo fundamental para executar seu trabalho.

O técnico chega ao Morumbi com muita gana e vontade de vencer, depois de trabalhos por Internacional e Atlético-MG, onde, por razões distintas, não pôde conviver durante todo o tempo com os dirigentes que o contrataram – ele também treinou o San Lorenzo, de 2016 a 2017.

O vice-presidente de futebol do Internacional, Luiz Fernando Costa, que viajou até Montevidéu para negociar com Aguirre em dezembro de 2014, sofreu um infarto em janeiro de 2015 e faleceu.

Aguirre foi campeão gaúcho e semifinalista da Libertadores no Internacional (2015). No total foram 48 jogos oficiais, 24 vitórias, 15 empates e 9 derrotas (aproveitamento de 60,4%). Ele foi demitido às vésperas do Gre-Nal no qual o Colorado foi goleado por 5 a 0.

 Depois, Aguirre foi contratado pelo Atlético-MG em dezembro de 2015, após negociar com o diretor de futebol Eduardo Maluf. Durante o primeiro semestre de 2016, o dirigente se afastou do dia a dia para cuidar da saúde, pois estava com câncer – ele acabou falecendo no ano passado.

Em maio Aguirre pediu demissão do clube após a eliminação para o próprio São Paulo, nas quartas de final da Libertadores. No Atlético-MG, Aguirre fez 31 partidas, com 16 vitórias, sete empates e oito derrotas: aproveitamento de 59,1%.

– No primeiro encontro que tivemos com ele, não tivemos dúvida de que estávamos acertando com a pessoa certa. Tinha brilho nos olhos, conhece bem o Atlético-MG e acho que acertamos. Tem a cara do Atlético-MG. Vai mostrar isso durante o ano – disse Maluf, à época da contratação.

Aprendizado com Diego Simeone e método de trabalho

Entre os trabalhos por Internacional e Atlético-MG, Aguirre passou por um período de aprendizado na Europa, onde visitou o Atlético de Madrid d

De certa forma, o estilo de trabalho dos times do “Cholo” é parecido com os de Aguirre. Ele preza por equipes de muita força, pegada e que lutam até o fim, mas também privilegia atletas talentosos. Na avaliação interna do São Paulo, a postura da equipe vinha sendo morna e Aguirre pode contribuir para mudar.

– É um cara muito experiente que gosta de time com raça, com vontade. Espero que dê certo aqui no São Paulo e que ele possa nos ajudar muito. Ele é um grande treinador – disse Valdívia, treinado por Aguirre no Inter em 2015.

Aguirre também gosta de aproveitar garotos da base, fator importante no São Paulo. Aproximadamente metade do elenco profissional tem passagem por Cotia.

O técnico é adepto da filosofia de rodar o elenco e dar minutos de jogo para todos os atletas. Aguirre considera inviável manter a intensidade necessária com o elevado número de partidas por ano e o desgaste causado pelos deslocamentos no futebol brasileiro.

Dessa maneira, também deixa todo o elenco motivado a competir e costuma escalar os atletas de melhor rendimento nos treinos, independentemente dos nomes.

Relação com Lugano

Aguirre foi o primeiro técnico de Lugano, no Plaza Colonia, do Uruguai, em 2002. Ali começou a criar uma relação de anos com o zagueiro, capitão e referência da seleção celeste.

Foi Aguirre quem impulsionou a carreira de Lugano. Como técnico do Plaza Colonia, ele se encantou com as atuações do jogador. No mesmo ano, Lugano foi jogar no Nacional.

Na temporada seguinte, Aguirre foi contratado pelo arquirrival Peñarol. O técnico não queria enfrentar seu pupilo e pediu ao empresário Juan Figer que arrumasse uma equipe fora do Uruguai para Lugano. O zagueiro acabou acertando com o São Paulo.

e Diego Simeone, na Espanha.

Ele foi à capital espanhola em 2015, acompanhado do preparador físico Fernando Piñatares, também contratado para trabalhar no São Paulo – além deles, estarão os auxiliares Juan Verzeri e Raul Enrique Carreras.

 Aguirre gosta de aprimorar seus métodos de trabalho e se interessa por compartilhar sistemas táticos. No ano passado ele fez outra visita a Simeone na Espanha para se atualizar.
Não à toa Aguirre citou o nome de Diego Lugano ao ser interpelado a falar o nome de um jogador para a entrevista em seu site.

Na mesma publicação, Aguirre diz que a falta de compromisso é o que mais lhe deixa enojado, justamente uma das principais qualidades do ex-zagueiro.

Em 2016, os dois se abraçaram e conversaram por algum tempo no Morumbi, na véspera do duelo entre São Paulo e Atlético-MG pelas quartas de final da Libertadores. Era o dia do treino do Galo.

Diego Aguirre chegou ao São Paulo como se tivesse nascido no dia 13 de setembro de 1985, 20 anos mais novo que a realidade. Tratava-se de um erro de digitação. Naquela época, o material distribuído à imprensa era feito na máquina de escrever (veja acima). Corrigir dava muito trabalho.

Aval uruguaio

Aguirre foi para o São Paulo após jogar pelo Internacional. Na época, ele tinha destaque por ter feito o gol do título da Libertadores pelo Peñarol em 1987. O empresário Juan Figer, o mesmo que participou da negociação do agora treinador, o levou ao clube. Ele teve a aprovação do compatriota Pablo Forlán, ex-lateral-direito tricolor e pai do atacante Diego Forlán, então técnico do time.

Ele disputou 17 jogos, com cinco vitórias, oito empates e quatro derrotas. Fez sete gols, mesmo número de Raí e Mário Tilico. Foram os artilheiros daquele período. Mas o São Paulo era um time em transformação, abalado pela péssima campanha no Campeonato Paulista, mas com um elenco talentoso, que ganharia um Brasileiro, dois Paulistas, duas Libertadores e dois Mundiais nos três anos seguintes.

 Telê Santana

Em outubro, Forlán pediu demissão. Ele era o terceiro técnico de 1990, depois de Carlos Alberto Silva e do interno Pupo Gimenez. O São Paulo deu, então, a tacada que o levou a conquistar o mundo pouco depois: contratou Telê Santana.

O treinador chegou no dia 12 de outubro ao CT da Barra Funda, mas não utilizou Aguirre nas partidas. O último jogo do uruguaio no São Paulo foi no dia 4 de outubro, um empate sem gols diante do Vasco.

– Trabalhei com o Telê, não houve nada de errado com ele, fomos até a final. Era um contrato curto, de empréstimo, não fiquei em 1991. O São Paulo tinha grandes jogadores – disse Aguirre, em 2016, quando o São Paulo de Edgardo Bauza e o Atlético-MG do uruguaio se enfrentaram na Taça Libertadores.

Salário da época

Diego Aguirre foi registrado de 15 de junho a 14 de setembro, com salários de mil e quinhentos dólares e luvas de 20 mil dólares. Ao fim dos três meses, a diretoria estendeu seu vínculo por mais três, até 20 de dezembro.

GE