Primeiramente, gostaria de defender a aparentemente radical coluna de Danilo Mironga. Como os leitores mais próximos sabem, eu o conheço muito bem (é colunista do FOMQ). Devo dizer que não exagerou em qualquer ponto. Mesmo na alusão ao Botafogo. Em termos de desorganização e escolhas desastrosas (que o clube carioca deixou para trás), o “Botafogo” de hoje é o São Paulo Futebol Clube. Tampouco há excessos na definição de Dorival como “meio-técnico”, pois foi do próprio treinador a assertiva de que “não treina ataque”. A rispidez da coluna teve o claro objetivo de despertar. Foi escrita após uma absurda euforia com a virada sobre a Linense. O SPFC não apenas perdeu o senso de ridículo, como hoje deveria integrar o dicionário na definição desta palavra.

O cenário tricolor se agravou. Em 2017, colocaram um estagiário como técnico. Agora o estagiário é gestor. Acompanhado de um auxiliar cuja saída do SporTV foi celebrada por telespectadores, tal a ruindade de seus comentários. Esse foi o suporte que Raí escolheu. De quebra, ainda ganhou o que Mironga, jocosamente, chama de “super-ultra-hiper-mega-power-intendente” Lugano (o que choca, no caso, é constatar que Mironga assistia Floribella…). São escolhas que combinam mais com relações públicas que gestão esportiva. Como o episódio da entrevista de Cicinho, mobilizando o departamento de marketing e as dependências do clube para uma despedida. Estivesse o clube nadando de braçada, muito legal. No atual panorama, não me vem à cabeça substantivo que não seja “alienação” – do clube e dos que aplaudiram sua atitude. Só faltou chamá-lo para “sub-super-ultra hiper…”.

Há algumas semanas, redigi coluna destacando que o torcedor pode e deve criticar Raí. O que não esperava é que Raí desse tantos motivos. Para quem achava que um ex-jogador não poderia fazer pior que o antigo diretor remunerante, eis a prova de que este tipo de argumento (“não dá pra ser tão ruim quanto fulano”) é falacioso. Sempre dá, especialmente quando se está falando de uma decadência progressiva. Para mudar o curso do rio rumo à cachoeira, não basta pegar o “manual” do dirigente moderno (até porque essa obra não existe). É preciso fazer o que Hernanes, em raro momento de fúria, conseguiu após derrota contra o Fluminense. “Não pode ganhar um jogo e achar que está tudo bem” – declarou. Foi só o Profeta sair para tudo voltar a ser como antes. Minto. Antes uma vitória sobre o lanterna não serviria para um jogador dizer “se deixar chegar…”. É inédito até como falta de noção.

A torcida também se engajou no desafio de estourar as barreiras do patético. Retomando a moda de não ser modinha, dirigiu-se ao CT da Barra Funda na véspera da derrota contra o Palmeiras. Numa tarde de dia útil. Fosse para um jogo importante do Brasileirão ou decisão de Libertadores, seria compreensível. Mas primeira fase do Paulistão? Isso me lembrou um quadro do SNL, em que William Shatner está numa convenção “trekie” e, irritado, detona os fãs da série por perderem tanto tempo com ela. “GET A LIFE!”. Num país em que está tão difícil manter – ou conseguir – emprego, é realmente surreal. Vai trabalhar! Vai estudar! Vai até ver programa de fofocas, em vez de gastar com transporte e sair à toa nesta cidade violenta. E parem de ficar procurando manchetes e posts animadores! Faz anos que vocês fazem isso e o time só piora. Já não é esperança. É desespero!

Por isso repito: o São Paulo Futebol Clube, com estes dirigentes, estes jogadores e esta torcida, é a encarnação do ridículo. Algo inimaginável há dez anos. Embora tenha sido há dez anos que a soberba começou a tomar conta do Morumbi. O tricampeonato brasileiro foi a raspa do tacho e teve um grave efeito colateral: fez a diretoria acreditar que podia decidir qualquer coisa e, graças à estrutura do clube, daria certo. Plantaram as sementes. Agora colhem os frutos da incompetência institucionalizada. E acham que está tudo bem, é só uma fase, etc… Ridículo. Ridículo. Ridículo.

Gustavo Fernandes – No Ângulo