Amigos Tricolores

Sei que esse artigo vai causar diversos comentários de “Fora Dorival”, “Fica Dorival”, “time não joga”, “time não tem padrão”, “deixa o cara trabalhar” todas as discussões que sempre tem em todos os posts desse blog, independente do assunto, Dorival Jr é pauta de discussões nos comentários, aliás, em vários outros canais. Faz parte, no Brasil, o técnico é sempre o culpado de tudo, mas deixo claro, que esse artigo nada tem a ver com o trabalho do Dorival Jr, o objetivo desse artigo é falar de André Jardine, que a todo o momento é pedido pela torcida tricolor para o comando do time principal. E com méritos.

André Jardine

Esse gaúcho de 38 anos é apaixonado por futebol, largou o 2o ano de uma faculdade de engenharia civil e um estágio em uma construtora para cuidar de escolinhas de futebol. Passou por Inter e Grêmio e em 2015, chegou ao São Paulo, para até o momento, fazer história nas categorias de base, no Sub-20.

No Tricolor, o técnico possui importantes títulos como: Campeão da Libertadores, bicampeão da Copa do Brasil (invicto), bicampeão da Copa RS, Copa Ouro e Paulista. Foi vice-campeão da Copa São Paulo 2018, na minha visão, com um futebol melhor que do campeão, Flamengo. Jardine revelou jogadores como: David Neres, Luiz Araújo, Lucas Kal, Eder Militão, Lucas Fernandes, Caique, Toró, Lizieiro entre outros. Já rendeu um bom dinheiro ao São Paulo, com vendas e títulos.

Respeitado na base

André é uma pessoa muito respeitada pela base do São Paulo. Tem respaldo da diretoria – mesmo porque tem dado mais resultados na base do que qualquer outro no profissional do time principal – tem admiração dos jogadores da base, sabe a linguagem deles. Jardine não tem pressa para subir ao profissional, mas seus resultados já estão o deixando em evidencia no cenário nacional. Em breve – se já não ocorre – vão começar as sondagens para ele assumir times principais, mesmo menores no cenário – ou virão os convites de algum time da primeira divisão do Campeonato Brasileiro. E isso vai mexer com ele, mesmo que em suas entrevistas, ele pareça ser uma pessoa calma, bem ponderada e com a certeza do que quer, uma chance como técnico de um time principal da 1a divisão mexe com qualquer pessoa.

Chegar a um time de ponta é questão de tempo

Jardine mantendo a sua performance na base do São Paulo não será eterno por lá.

Um técnico é avaliado pelos títulos que traz ao clube e nesse ponto, Jardine tem ido muito bem. Ele é fã do time organizado taticamente com boa posse e toque de bola. O time que joga para frente sempre, de toques rápidos em direção ao gol. Lembra um pouco o estilo de Telê Santana do jogo coletivo e para frente, com toques de bola em direção ao gol.

A própria imprensa já está exaltando essa promoção.

Para escrever esse artigo, joguei “André Jardine” no Google, até para entender um pouco mais sobre o técnico. Em diversos sites, já se comenta sobre ele assumir o comando de um time principal, citando, claro o caminho natural que é o São Paulo, em meio a insatisfação da torcida e dirigentes com Dorival Jr, que repito, esse artigo não está questionando o seu trabalho. E muitos comentários, nas matérias, apoiam a diretoria nessa decisão. Estamos acostumados a acreditar que muda técnico, o time ganha, mas no São Paulo, já está provado que não é assim.

A torcida teria paciência?

Como sempre reforço aqui, eu faço parte de 6 grupos de WhatsApp do São Paulo. Não consigo ler tudo, mas, indo para o trabalho, tenho tempo, já que abiquei de carro. Uma frase me chamou a atenção em um desses grupos sobre o assunto do Jardine no lugar de Dorival foi “se com o Rogério Ceni, ídolo, não deram tempo, vão dar para o Jardine?”

Concordo que há uma diferença, o Jardine é técnico, o Rogério ainda não – será um dos melhores em poucos anos – o Jardine começou na base e seria promovido ao principal, tal qual o Jair Ventura e Zidane. Seria o caminho natural, porém, não há dúvida, que graças a fila de anos sem títulos e constantes humilhações em clássicos, o são paulino se tornou o torcedor mais sem paciência e critico do mundo.

E se o São Paulo, começa o Brasileiro com Jardine e ele empata o primeiro jogo, perde outro, vem um clássico com Palmeiras ou Corinthians e uma derrota. Quantos pedirão a cabeça do Jardine na 3a rodada? Já será questionado e nomes como Cuca, Luxa, Felipão, Abel, Levir voltam a pauta. Como sempre ocorre quando um técnico não agrada.

O time vai respeitar?

Não sejamos hipócritas. O futebol brasileiro está cheio de jogador “mimimi”, muito graças ao Sr. Robinho que mostrou que é só chorar, que as coisas acontecem. No começo do ano tivemos Cueva, que depois de um papo sério com Raí voltou a jogar bem. O São Paulo tem jogador “malandro” e quem acha que jogador não derruba técnico, também acredita no Papai Noel e em duendes.

Será mesmo que os jogadores mais experientes – e nem quero citar nomes para não ser injusto – vão respeitar o que o Jardine vai falar? Um desses jogadores vai marcar o lateral? O outro vai deixar que o Brenner seja cobrador de pênalti? O outro vai seguir na faixa de campo, que não é a dele, para jogar em outra faixa porque no esquema tático o Jardine o enxerga ali? O outro vai marcar a saída de bola?

Luxemburgo, quando treinou o Real Madrid, disse que tinha um pouco de medo de comandar um astro como David Beckham, por tudo o que envolvia o “astro-modelo-jogador-celebridade”. Não teve um só problema com o cara, que chegava cedo, treinava forte, era prestativo e não reclamava. Aqui no Brasil, jogador que não é 10% do que Beckham foi como celebridade e não ganhou nada já se acha um Deus.

Elias, por exemplo, que jogou no Corinthians e hoje está no Galo chegou, certa vez em um evento da Federação Paulista de Futebol, com cinco seguranças. De todos os jogadores que lá estavam, só o “estrela” chegou assim. Até o Ronaldo Fenômeno muito mais famoso e rico chegou sozinho. Pode parecer um caso isolado, mas isso, chuteiras coloridas, 200 tatuagens mostram que o ego no futebol superou a técnica, mostra que os jogadores querem ser celebridades e ganhar dinheiro. Jogar futebol, é apenas para aparecer na TV e como sempre, no Brasil, a culpa é do técnico, ou seja, nada acontece com as celebridades que estão em campo, então, “tudo bem” não correr, não chutar, não acertar, nada, no final do mês 2 coisas vão cair: Salário e o técnico.

Se não coloca é cedo. Mas quando será o momento certo?

Preparo o Jardine tem. Isso é inegável. É um sujeito calmo e sereno, mas isso, as vezes pode ser um problema, ainda mais quando o time não vive uma boa fase. Quando Muricy voltou ao São Paulo em 2013 e evitou nosso rebaixamento, ele deixou bem claro que não foi nada bonzinho ou politico, disse verdades e de forma “Muricy Ramalho” de ser. Jardine tem outro perfil, é um estudioso, um tático, mas nunca jogou bola profissionalmente (apesar que foi da base de alguns times) e isso faz a diferença no contato com o jogador, na “resenha” deles, jogador respeita quem foi craque e quem ganhou titulo. No 2o ponto Jardine tem o que mostrar, mas com a base e temo que a meia dúzia de jogadores paneleiros não compre “Jardine” logo, ele poderá ser queimado por todos os lados, a começar dos jogadores.

Jardine, um hibrido entre a base e profissional

Na minha visão. O São Paulo tem que definir o técnico para 2018. Seja o Dorival ou qualquer outro, mas promover o Jardine para ser auxiliar fixo, como foi por anos o Milton Cruz. Dar-lhe pelo menos 1 ano nessa função. Ele poderia ser um consultor na base, ajudando os técnicos com os garotos, montagem de times e nos campeonatos, mas seu papel principal seria de auxiliar técnico. Passado essa experiência, caso o técnico em 2018 não desse resultado, subiria o Jardine para já começar a pré-temporada como técnico do São Paulo, mas ainda avalio que ele precisa desse estágio mais próximo aos “tubarões” do time titular para aprender a malandragem, que por exemplo, Rogério Ceni tinha, mas não tinha o conhecimento teórico e tático de Jardine.

*Felipe Morais. Publicitário, apaixonado pelo São Paulo Futebol Clube. Sócio da FM Planejamento, Palestrante sobre marketing digital, comportamento de consumo e inovação. Coordenador do MBA de Marketing Digital e do MBA de Gestão Estratégica de E-commerce da Faculdade Impacta de Tecnologia. Autor dos livros Planejamento Estratégico Digital (Ed. Saraiva) e Ao Mestre com carinho, o São Paulo FC da era Telê (Ed Inova) – www.livrotele.com.br – facebook.com/plannerfelipe e @plannerfelipe