Os dois times paulistas que se enfrentam no clássico deste domingo estão em estágios bem distintos, apesar do início da temporada. O São Paulo foi ao mercado e buscou jogadores com talento claramente reconhecido. Dois casos são exemplares: Anderson Martins e Diego Souza. O Santos, por escassez no caixa e pés no chão, apresentou o Gabriel e busca fazer com que, em ambiente e cenário conhecidos pelo atacante, ele volte a ser o jogador sobre quem um dia se pensou ser forte candidato a uma vaga na Copa da Rússia.

A cada dia vejo, sem entender muito bem, o Dorival Júnior pressionado. A pressão não é do trio formado por Raí, Ricardo Rocha e Lugano. É mais de fora para dentro e carrega uma incoerência, aliás traço comum em muitas das análises feitas nesse período: pedem um São Paulo mais organizado e, de repente, em nível próximo ao do Corinthians e do Palmeiras e sempre pedem paciência por ser começo de temporada. Além disso, esquecem que o time treinado pelo Fábio Carille tem a memória de tudo o que fez de bom e ruim no ano passado, enquanto a equipe orientada pelo Roger Machado compensa a construção de um jogo coletivo mais sólido com o desempenho individual. E aí entram dois jogadores que começam a temporada muito bem: Felipe Mello e Lucas Lima.

O Jair Ventura sabe que, do ponto de vista coletivo, ainda há muito o que se fazer no Santos. Mas quem acompanhou o trabalho do JV no Botafogo sabe que um dos seus méritos é convencer os jogadores sobre a possibilidade de se realizar em campo tudo aquilo que é treinado. Foi esse um dos segredos do Botafogo nos 17 meses que o Jair Ventura estava à frente do elenco. Tirar do jogador o máximo, fazer com que ele creia no que é proposto e tenha um alto nível de concentração e segurança não é trabalho dos mais fáceis. Em vários aspectos, técnicos e financeiros, o Santos que contratou o Jair Ventura para esta temporada tem muita semelhança com o Botafogo que o apresentou ao respeitável público.

A mania de fazer previsões está cada vez mais presente no cotidiano, tal e qual a de observar o desempenho das equipes pelo resultado. Qualquer palpite sobre o resultado do clássico não passará de um exercício de adivinhação, que alimenta conversa sem compromisso e típica para o lazer. Mais importante é aceitar, sem incoerências, que o começo de um trabalho permite até um exagero na oscilação. O mais importante é saber como anda a parceria entre técnicos e jogadores. Ela indica o que será a temporada.

PC Vasconcellos – Sportv