No final de 2013, após o até então pior ano da história do SPFC, o Tricolor On The Rock fez uma série de entrevistas com os são-paulinos mais influentes segundo nossa e equipe.Essa série se chamou: “Meu Tricolor em 2014″.

Pois bem, estamos aqui mais uma vez, após um ano em que mais uma vez o clube esteve perto de cair para a série B e a única coisa que o torcedor tricolor pode “comemorar” é o famoso: Time Grande Não Cai. Mais uma vez vamos fazer uma série de entrevistas, mais uma vez vamos convocar os tricolores para debater nosso SPFC em busca de sugestões de quem ama o clube.E alguém ama mais que o torcedor? Não.

O entrevistado de hoje é nosso amigo Milton Jr, vamos às perguntas:

TOTR: Quem foi o grande responsável pelo péssimo ano do Tricolor e por quê? 

 

Milton Jr: A direção como um todo, obviamente incluindo-se aí a presidência. A decisão de vender e comprar no atacado prejudicou demais as ambições esportivas do SPFC no ano.

O presidente Leco errou ao nomear para a direção de futebol Vinícius Pinotti, que no marketing vinha bem. E errou por duas razões: primeiramente porque Vinícius não tinha a vivência no futebol cuja exigência prevê o estatuto e, de outra parte, porque quis continuar tendo papel decisivo nas negociações.

Já Vinícius Pinotti errou ao não enxergar que estruturar o departamento de futebol com um coordenador (ou supervisor) era fundamental para que pudesse aprender e também se concentrar mais no papel de negociador, deixando o planejamento de elenco mais a cargo das comissões técnicas e da inexistente coordenação, o que faria mais sentido quando se pensa que o time precisa contratar conforme o norte técnico traçado pelos profissionais da bola.

Ou seja, tal qual o presidente, apostou numa postura centralizadora, contrariando a ideia de profissionalização.

Vale a pena mencionar que a época de realização das eleições (agora felizmente já mudada) foi péssima para o SPFC no ano de 2017.

TOTR: Qual o principal motivo para o SPFC estar nessa situação? Elenco caro, bons treinadores, mas que; desde 2013 com exceção ao bom trabalho de 2014, vem colecionando fracassos e flertando com a segunda divisão? 

 

Milton Jr: Trata-se de um problema multifatorial.  A contratação de treinadores com visões antagônicas de tática leva a falta de absorção pelo elenco de um ou mais sistemas de jogo que possam ser utilizados harmonicamente.

Some-se a isso a péssima prática enraizada, na última década, dos dirigentes contratarem independentemente de estarem atendendo a uma demanda de atletas cujos perfis fossem indicados pelas comissões técnicas.

Tal prática gerou, por exemplo, a situação vivida no ano de 2017, quando atletas que de ofício jogam numa posição não foram utilizados porque não têm a confiança da comissão técnica, o que traz uma situação péssima, na qual os atletas preteridos desvalorizam e se desmotivam, embora continuem onerando a folha de pagamento.

Outra situação que prejudicou demais o clube foi a contratação de jogadores medianos que não vieram precedidos por desempenhos que realmente pudessem os credenciar a jogar no SPFC.

Esses, além de onerarem o clube com valor da negociação e salários, ainda tomam espaço dos atletas jovens que poderiam ocupar muito bem o papel de composição do elenco e valorizarem na medida em que fossem mais frequentemente utilizados.

TOTR: Rogério Ceni iniciou o ano com técnico do SPFC, mas não suportou as eliminações no Paulista, Copa do Brasil, Sul-americana e o Z4 no Brasileiro; você acha que era a hora de Ceni? Como analisa o trabalho dele no comando tricolor? 

 

Milton Jr: Não achava que era o momento de Ceni, pois imaginava-o concluindo o extenso curso da UEFA antes de encarar um desafio tão grande.

Porém, é uma questão de cunho personalíssimo. Por isso, desde o momento em que Ceni aceitou, o apoiei incondicionalmente.

O problema é que embora taticamente Ceni, como qualquer profissional que inicia uma nova função, tenha acertado e errado, acabou tendo que lidar com a instabilidade política do clube e com a estratégia desenfreada de vendas, que minou toda e qualquer unidade de grupo que pudesse ter sido construída na pré-temporada.

Lamento demais que o trabalho tenha sido interrompido e que não tenha lhe sido possibiliado trabalhar com ótimos jogadores que chegaram, como Hernanes, Petros, Jucilei Arboleda etc.

E aqui não vai demérito algum ao Dorival Jr., pois qualquer treinador que tivesse assumido a equipe naquele cenário enfrentaria dificuldades absurdas.

Mas ainda acho que como já conhecia o grupo, Ceni poderia ter chegado um pouco mais longe no Brasileirão do que Dorival.

TOTR: Para alguns torcedores um dos erros da direção é a constante mudança de treinadores, você concorda com essa afirmação? Sobre Dorival, você acha que ele deve ser mantido ou deve sair? Se sair, quem você contrataria? 

 

Milton Jr: Concordo totalmente, como acabei me antecipando nas questões anteriores.

Agora, você só pode pensar num trabalho de longo prazo se existir convicção absoluta de onde se quer chegar e, mais importante, como se quer chegar.

Eu vejo Dorival como um profissional absolutamente correto, íntegro e não é preciso viver o dia a dia no clube para perceber que em termos de ambiente faz um grande trabalho.

Não gosto da forma como faz as substituições e taticamente também não é dos que mais me agrada, por isso cheguei a me manifestar pela escolha de outro profissional para 2018.

Ocorre que nas últimas semanas quase todos os jogadores que foram pilares de postura em 2017 (Hernanes, Pratto, Petros etc) deram entrevistas enaltecendo Dorival e defendendo a continuidade do trabalho.

Então se eles, que estão lá, já são tão experientes no futebol e ainda são diretamente impactados pelo trabalho dizem que Dorival é o técnico certo pra 2018, quem sou eu pra discordar.

TOTR: O elenco tricolor está entre os mais caros do país e conseguiu apenas a 13ª campanha no Brasileiro além de eliminações no Paulista, Copa do Brasil e Sul-americana; levando em conta que times com orçamentos mais baixos conseguiram resultados importantes, qual você acha que deveria ser a política do São Paulo? Salários altos, jogadores baratos, apostar na base?

Milton Jr: Acredito na seguinte equação. Jogadores caros e comprovadamente eficientes com jovens vindos da categoria de base e, portanto, ainda não tão caros.

Excepcionalmente é possível trazer de fora um ou outro jogador de baixo custo, desde que venha escorado num grande desempenho em competição de alto nível.

TOTR: Qual o setor ou setores que em sua opinião nosso time mais precisa de reforços? 

 

Milton Jr: O calcanhar de Aquiles do SPFC são as laterais. Então, se a verba estiver minguada, é aí que concentraria esforços.

Veja que trazendo um bom lateral direito é possível utilizar o excelente Militão na função de zagueiro ou até, quem sabe, como volante, como ocorria muito na base.

E também é importante parar de pensar time e começar a pensar elenco.

Para o gol, traria alguém somente se fosse desses goleiros que chegam pra resolver a posição. Um exemplo que não exclui outros com esse perfil seria Armani.

Chegaria para agregar potencial técnico. Acho interessante o clube pensar num jogador desse tipo, que chega não para ser revendido, mas sim para elevar o potencial esportivo do clube e através da conquista de títulos levar à valorização de todos os demais atletas.

Agora, é preciso segurar a espinha dorsal titular de 2017. Essa é a missão número um.

TOTR: Existe informações de que a atual administração estaria pagando as dívidas do clube com austeridade e vendendo jogadores, você tem alguma informação nesse sentido? Como você vê essa política? Esse é o caminho certo? 

 

Pudera. Com tantas vendas administrar com probidade não é mérito, é obrigação.

Não tenho informações, até porque considero que o trabalho informativo deve ser estritamente feito pelos repórteres que cobrem o clube.

Claro que o caminho da austeridade é o caminho certo, mas o clube nunca pode perder em conta que o maior ativo de um clube de futebol é o desempenho esportivo e sua torcida, daí porque não adianta ser austero e agir como um banco de investimentos que se preocupa apenas com resultados financeiros.

É preciso conquistar em campo, até porque isso também é altamente lucrativo.

Gera maior valor para exposição de marcas, maior receita com bilheteria, melhores contratos de direitos de transmissão e por aí vai.

TOTR: Por último, quais as suas expectativas em relação ao time para 2018? 

Milton Jr: Minhas expectativas aumentaram severamente com a nomeação de Raí para a Diretoria de Futebol e também com tudo que o ouvi dizer na primeira entrevista que concedeu após assumir o cargo.

Disse ter recebido carta branca e isso é fundamental para mudar os rumos da condução do futebol no SPFC. Nesse sentido, inclusive, penso que Leco deveria ter o bom senso de praticar um ato de autruismo, afastando-se publicamente da condução do futebol e dedicando-se exclusivamente à gestão do social do clube. O São Paulo Futebol Clube precisa de paz e união e tal ato contribuiria demais para fomentar isso.

Isso também porque acredito demais na capacidade de Raí. Tanta vivência no futebol brasileiro e internacional  e suas experiências pós carreira de jogador o credenciam a assumir missão tão difícil quanto honrada.

Em muito tempo não via tanta clareza e firmeza de propósitos num dirigente no comando do futebol. Sabe onde quer chegar, sabe das dificuldades e dos riscos.

Aos que dizem que é improvável que arrume a casa, digo o seguinte:

É tão improvável como um hat-trick na final de 91. Improvável como um gol na gaveta do Zubizarreta. Improvável como matar uma Libertadores no peito. Ou, como após conquistar Paris, voltar em 98 e com a cabeça dar um jeito.

Não haveria alguém melhor para ocupar a função. E graças a Deus que são paulinos de bem, como Raí, ainda preferem não dar de ombros mesmo num cenário tão complicado e desafiador. Que venha 2018!

http://www.tricolorontherock.com.br/para-voltar-ser-sao-paulo-por-milton-jr/