Lugano ainda não decidiu o que fazer em 2018. Contra o Bahia, no dia 3 de dezembro, o zagueiro uruguaio se despediu do São Paulo como jogador – “o reconhecimento e a admiração me preencheram a alma” –, mas pode voltar logo ao clube em outra função. Aliás, embora tenha muitas dúvidas, essa é a possibilidade mais concreta.

Foi o que Lugano disse ao jornal “El Observador”, do Uruguai, em entrevista publicada nesta segunda-feira. Ele ainda pode continuar jogando; se parar…

– Atualmente, eu não tenho paciência para ser técnico. Também não atuaria como empresário porque é um ambiente complicado. Além de ser sujo, tenho muito medo da responsabilidade de que meninos e famílias dependam de mim. Estou mais perto da proposta do São Paulo, para trabalhar com gerência esportiva, mas também tenho muitas dúvidas se estou preparado, e isso atrapalha a minha decisão neste momento, pois há uma expectativa muito grande sobre mim, e eu começo do zero.

Aos 37 anos, pouco antes de limpar o seu armário no CT tricolor, Lugano recebeu um convite do ex-diretor de futebol Vinícius Pinotti para seguir carreira fora de campo no São Paulo. O ex-jogador Raí, novo executivo da área após a demissão do antecessor, também quer o ídolo uruguaio a seu lado.

– Fiz um curso de gestão esportiva na Universidade de São Paulo e outro na de Barcelona, pela internet. E também fiz o curso de ter sido capitão da seleção por 10 anos, com muitos anos no futebol e esses conflitos dos últimos anos, que não se estuda em nenhum lugar. Mas tenho dúvidas se estou preparado para começar agora – explica o zagueiro.

Os “conflitos” a que Lugano se refere aconteceram neste último ano como jogador do São Paulo. Em seis meses sob o comando de Dorival Júnior, o zagueiro atuou apenas uma vez: na última partida da temporada, a da despedida.

Apesar disso, mesmo fora de campo, foi apontado por dirigentes e jogadores como fundamental na luta do time contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro.

– O São Paulo viveu uma fase complicadíssima. Na história, foi a mais difícil por questões políticas e estruturais que o clube nunca tinha vivido. Sofreu uma crise profunda, com graves divisões internas, e aminha função foi tentar unir esse imenso barco rumo a um objetivo comum. A pressão não foi pequena e, naquele momento complicado, houve a união de todos, da torcida, da diretoria, da oposição, dos jogadores… Fiz parte disso e, de certa forma, foi o último grande desafio que tive, pois o time se salvou e ficou com uma base forte para o próximo ano e um planejamento definido.

As lembranças dos últimos dias de São Paulo ainda emocionam Lugano. A primeira passagem, de 2003 a 2006, foi a mais vitoriosa, com as conquistas do Paulista, da Libertadores e do Mundial de 2005. Mas foi nesta última, sem título e com crise, que o zagueiro uruguaio sentiu o quão importante foi para a história tricolor

– As emoções foram ao máximo, porque juntaram muitas coisas, o fim de um ciclo no São Paulo e também provavelmente no futebol. O que fizeram os torcedores é púbico, e também é incrível e emocionante, mas o reconhecimentos dos companheiros e funcionários, da forma como aconteceu, sem muito show, me deixou emocionado. Isso me fez pensar que fiz alguma coisa para merecer esse carinho, especialmente num país estrangeiro, tão grande, por onde passaram tantos jogadores e numa fase do clube que não é a melhor. Esse reconhecimento e essa admiração me preencheram a alma.

Diante dessa declaração, o entrevistador do “El Observador” fez uma pergunta básica, direta: “Você chorou?”

– Sim, mas sozinho e no quarto. Meus companheiros prepararam um vídeo para a preleção do último jogo e não me contaram nada. Foi um momento muito especial porque foi interno, somente entre nós, e todos ficavam me olhando para ver se eu chorava. E eu falava: “Não, não vou chorar. É claro que vou chorar no meu quarto ou na minha casa, mas vocês nunca vão me ver chorando”. E não chorei na frente deles. Os resultados no futebol são aleatórios, se perde mais do que se ganha, mas esses sentimentos e o carinho sincero e espontâneo você leva para a vida inteira. Depois eu chorei na concentração – respondeu Lugano.

GE