Vinicius Pinotti, diretor de futebol, e Leco durante treino do São Paulo no CT da Barra Funda, em São Paulo SP 27/06/2017 Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press

Enquanto o Corinthians conquistou o título de campeão na 35ª rodada, o São Paulo precisou de mais uma para conseguir seu maior e único ”título” de 2017: escapar do rebaixamento para a 2ª divisão.

Comentando a conquista corintiana no post anterior, disse já no título que o sétimo Brasileiro tinha um dedo de gestão. Se formos levar tudo a ferro e fogo é claro que todo título é fruto de gestão, mas não precisamos ir tão longe e no caso corintiano é inegável a importância da gestão do futebol nas conquistas a partir do retorno do time à Série A em 2009. Repetindo, para não confundir com o todo: gestão do futebol.

E é justamente a gestão do futebol o maior diferencial entre as duas conquistas ou entre a conquista de um e a “conquista” do outro.

No São Paulo, a gestão foi a maior, praticamente a única responsável pela proximidade que viveu o time de perpetrar o que seria a maior vergonha na sua jovem e rica história: o rebaixamento para a 2ª divisão do futebol brasileiro.

O dedo da gestão atrapalhou terrivelmente o trabalho dos treinadores, além da manutenção de um elenco estável.

Em Itaquera passaram 6 treinadores nos últimos 10 anos, 3 dos quais somaram apenas 225 dias à frente do elenco. Mano Menezes, Tite e Carille comandaram o time por mais de 9 anos. Com um detalhe fundamental: os times de Mano e Tite, como bem lembrou Tostão, tinham uma identidade de jogo que Carille, auxiliar dos dois, aprendeu, ajudou a criar e manteve como treinador.

Já no Morumbi, entre 1º de janeiro de 2008 e o próximo 31 de dezembro, terão passado nada menos que 15 treinadores e mais Milton Cruz, que dirigiu o time por pouco mais de 4 meses nesse período, André Jardine e Pintado.

Quinze treinadores! E mais as interinidades “permanentes” de Milton Cruz.

Muricy, demitido poucos meses depois da conquista do tricampeonato brasileiro, ficou por 745 dias à frente do time são-paulino, contando com sua segunda passagem pela equipe, em 2013 e 2014, quando chegou com a missão de, ora vejam, salvar o São Paulo do rebaixamento para a 2ª divisão.

Considerando o mesmo período de 10 anos que foi considerado para o Corinthians, o São Paulo conquistou um Brasileiro, o terceiro da série e o título que sinalizou o final de uma era, e depois a Sul-Americana de 2012, com um jogo final lamentavelmente marcado pelos problemas no intervalo da partida, não chegando ao seu final normal.

Em 9 anos, tendo sempre um dos três maiores orçamentos do futebol brasileiro, essa copinha continental foi a única conquista do time do clube que nesse período foi presidido por Juvenal Juvêncio, Carlos Miguel Aidar e Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco.

Voltemos aos números

Dizem alguns que se você “espremer” um número ele dirá qualquer coisa, até o que você quiser.

Uma gracinha, claro, usada geralmente por quem depara com péssimos números sobre alguma coisa e, ao invés de procurar entende-los de fato para aprender e tentar muda-los, prefere fazer graça minimizando ou desconsiderando a importância dos números que não foram favoráveis.

Sem “espremer”, vamos a alguns números sobre o São Paulo e seus treinadores.

Tirando os dois períodos de Muricy (2008/2009 2013/2014) e tirando também os dias de Milton Cruz, Jardine e Pintado, sobram 2.765 dias entre o 1º de janeiro de 2008 e o 31 de dezembro próximo.

Como passaram pelo clube outros 13 treinadores (Ricardo Gomes duas vezes), cada um deles ficou em média 213 dias à frente do time tricolor.

Sete meses,em média, para cada treinador.

Guardiola costuma dizer que o período bom para um treinador à frente de um time é de 3 anos. Foi o que ele viveu à frente do Bayern e é o que estipula seu contrato com o Manchester City.

Sabemos, mesmo aqui em Terra Brasilis, embora teimando sempre em ignorar, que um treinador precisa de pelo menos um ano à frente de uma equipe para implantar sua visão de futebol, sua ideia de jogo, seus métodos de trabalho e montar ou pelo menos remontar parte do elenco, antes de poder ser, de fato, cobrado por resultados.

O São Paulo deu 7 meses, em média, para cada um de seus treinadores. Diante disso, a conquista da Sul-Americana pelo time de Ney Franco, que disputou um brilhante e eficiente segundo turno do Brasileiro de 2012, foi quase um milagre… ou um “acidente de trabalho”.

Os números falam…

Trocar treinador não é a totalidade do problema

Saiu Osorio, entrou Doriva, rapidamente seguido por Bauza.

As visões de futebol e as concepções de jogo de Osorio e Bauza são diametralmente opostas, pode-se dizer.

Lembrem-se do que disse no início: os times de Mano e Tite têm uma identidade de jogo muito próxima e Carille é o aluno, auxiliar e sucessor dos dois. Os resultados falam por si próprios.

Mudar de Osorio para Bauza é mais que mudar da água para o vinho.

Apesar disso, foi justamente nesse período que o São Paulo teve uma gestão de futebol digna desse nome. Foi o período comandado por Luiz Antonio da Cunha, quando o time teve uma brilhante recuperação na Copa Libertadores e chegou à semifinal da competição.

Luiz Antonio, porém, já não estava mais no comando, do qual abriu mão ao perceber que a direção não lhe garantia condições mínimas para trabalhar como o responsável de fato – e não meramente por cargo – pelo futebol.

Essas trocas de treinadores, abruptas e aleatórias, são parte do problema tricolor.

A outra parte é a comercialização de jogadores.

O insucesso de Rogério Ceni, que foi uma contratação ditada pela política e pela caça de votos que garantissem a Leco a vitória no colégio eleitoral, formado majoritariamente por conselheiros vitalícios, foi devido menos à sua inexperiência e visão de futebol e muito mais, totalmente até, em minha opinião, à violenta sucessão de desmanches do elenco promovida pela direção.

Parte do sucesso de Dorival em manter o time na 1ª divisão do Brasil deve-se, indubitavelmente, à menor movimentação do elenco. Esse crédito, provavelmente, deve ser creditado mais à inexistência de janelas de comercialização nesse período do que, propriamente, a uma decisão da diretoria.

Ah, claro, contratar Hernanes foi fundamental, foi o grande diferencial a ajudar o trabalho de Dorival Junior. Essa contratação, porém, não foi nada extraordinária ou digna de fantásticos elogios, não para desmerecer a ação da diretoria, mas porque, pelo fato de falarmos de Hernanes e sua história no São Paulo, sua contratação era o que se pode chamar de favas contadas. Era mandatória, óbvia, seria levada a cabo por qualquer direção.

Enfim, com o elenco estável por alguns meses, Dorival fez um bom trabalho em pouco tempo e pôde levar o time a uma boa campanha no segundo turno, na verdade uma das melhores do returno, mesmo com os maus resultados recentes.

E o mais importante: manteve, agora definitivamente, o São Paulo FC no seu lugar de sempre: a 1ª divisão do nosso futebol.

Depois de muito sofrimento para a torcida, que está por merecer um post todo especial para destacar sua presença, sua participação, seu apoio ao time.

Ela também jogou com o time para alcançar essa conquista, agora sem aspas.

Emerson Gonçalves