Saudações amigos tricolores! Desde já peço desculpas pelo longo texto. Escrevo este megafone para discutirmos um dos possíveis fatores de sucesso de um clube de futebol: a manutenção do elenco. Será que ela é mesmo fundamental para bons resultados do time? Para nos embasarmos fiz um levantamento na qual explico a metodologia utilizada a seguir:

  • Selecionei os 11 chamados “times grandes” da Série A do Brasileirão 2017;
  • Para analisar o elenco em sua totalidade:
  • considerei como fazendo parte do “elenco inicial” de cada clube, todos os jogadores que fizeram parte da pré-temporada,
  • OBS1: Considerei também os que estiveram com a Seleção Sub-20 no Sul Americano em janeiro, como Lyanco e Lucas Perri do São Paulo, Guilherme Arana e Maycon do Corinthians dentre outros,
  • OBS2: Não considerei David Neres, pois foi negociado antes do retorno ao São Paulo;
  • considerei como “elenco atual” os jogadores listados nos sites dos clubes;
  • Para analisar apenas o time titular:
  • considerei como “time titular inicial” os jogadores que iniciaram o primeiro jogo do seu clube nos respectivos campeonatos estaduais.

Exemplo: Audax vs. São Paulo, em 05/02/2017;

  • considerei como “time titular atual” os jogadores que tem iniciado as últimas partidas mais frequentemente.

Em amarelo temos os jogadores que iniciaram o ano como titulares e assim permanecem, como Rodrigo Caio e Cueva;

 

Em vermelho, jogadores que foram negociados, emprestados, dispensados ou que retornaram à base do clube, ou seja, jogadores que deixaram o elenco, como Chaves e Thiago Mendes e Breno;

 

Em azul, jogadores que foram contratados no decorrer da temporada, como Pratto (em 10 de fevereiro) e Hernanes (em 19 de julho);

 

Em verde, jogadores que subiram da base durante a temporada para reforçar o elenco principal, como Eder Militão;

Em branco, jogadores que permanecem no elenco, mas não como titulares nos dois períodos, a exemplo de Renan Ribeiro, titular inicialmente e Sidão, atualmente.

Outros Exemplos:

Como citado anteriormente, esse levantamento foi feito para os 11 times grandes da Série A, gerando números que foram aglutinados no seguinte quadro:

As informações relativas à colocação e aos pontos obtidos no Brasileirão foram levantadas antes da rodada 27. Vamos à análise dos dados:

 

  1. JOGADORES MANTIDOS COMO TITULARES

 

No item “A” verificamos a quantidade de jogadores que foram titulares no primeiro jogo oficial do ano (2ª rodada do Campeonato Carioca para o Botafogo, que teve essa partida antecipada e 1ª rodada dos respectivos campeonatos estaduais para os demais clubes) e que permanecem como titulares atualmente.

Tendo em vista que a nossa análise visa avaliar a importância da manutenção do elenco, teoricamente, quanto maior o número apontado no item “A”, melhor para o clube. Sendo assim, logo de cara temos uma contradição: Fluminense, o último colocado entre os grandes no Campeonato Brasileiro tem oito jogadores mantidos no time titular. No entanto, a partir daí os números seguem certa “lógica”, com Corinthians (1º colocado), Santos (2º) e Cruzeiro (5º e campeão da Copa do Brasil) com sete jogadores, Palmeiras (4º), Botafogo (6º) e Flamengo (7º) com seis, Grêmio (3º) e Atlético-MG (9º) com quatro, Vasco (10º) com 3 e, por fim, São Paulo (14º) com apenas 2 jogadores.

Podemos notar que o Fluminense é a “exceção à regra”, sendo outros fatores que determinam a atual posição do clube (como a falta de qualidades individuais e a inexperiência dos jogadores).

Focando especificamente no São Paulo, temos somente Rodrigo Caio e Cueva como titulares nos dois períodos observados. Quatro das substituições na equipe foram realizadas através de movimentações internas do grupo: Renan Ribeiro deu lugar a Sidão, Bruno e Buffarini foram substituídos por Junior Tavares e Eder Militão, recém promovido da base e Wellington Nem, contundido, perdeu a vaga para Lucas Fernandes. As outras cinco mudanças no time titular foram realizadas através da substituição de “jogadores titulares que deixaram o clube” (item B) por “jogadores titulares contratados” (item C).

 

 

  1. JOGADORES TITULARES QUE DEIXARAM O CLUBE

 

No item “B” verificamos a quantidade de jogadores que foram titulares no primeiro jogo oficial e, posteriormente, deixaram o clube. No caso deste item, quanto menor o número apontado, melhor para o clube.

Novamente temos Fluminense liderando a avaliação, junto com Cruzeiro, não se desfazendo de nenhum de seus titulares do jogo inicial. Corinthians, Grêmio, Palmeiras, Botafogo, Flamengo e Atlético-MG perderam apenas um de seus titulares. Na sequência Santos, com duas saídas, Vasco com quatro e, novamente em último, São Paulo com cinco.

A venda de jogadores titulares é uma das maiores críticas à diretoria do São Paulo na gestão do futebol de 2017. Deixaram o tricolor o zagueiro Maicon, vendido para o Galatasaray da Turquia, o volante Thiago Mendes e o atacante Luiz Araujo, vendidos para o Lille da França, o centroavante Chaves, retornando ao Boca Juniors com o fim de seu empréstimo e o volante João Schmitd, que assinou com a Atalanta da Itália após o término do contrato. David Neres, que não chegou a estrear pelo clube neste ano, mas que possivelmente seria titular da equipe no decorrer da temporada, também foi negociado.

 

 

  1. JOGADORES TITULARES CONTRATADOS

 

Em “C” temos os jogadores titulares, contratados após o início da temporada. Esse item pode ter sua importância relativizada, pois, em um time entrosado, uma contratação pontual pode qualificar a equipe. No entanto, para fim de averiguar a influência do entrosamento nos resultados da equipe, quanto menor o número do item, melhor.

Fluminense e Cruzeiro lideram mais uma vez com nenhum contratado entre os titulares. Corinthians, Santos, Grêmio e Botafogo tem apenas um jogador contratado como titular. Na sequência, Flamengo com dois, Palmeiras e Atlético-MG com três, São Paulo com cinco e, por fim, Vasco com sete.

Os contratados do atual time titular do São Paulo foram Lucas Pratto (estreou no dia 18 de fevereiro contra o Mirassol pela 4ª rodada do Campeonato Paulista), Petros (2 de Julho, já pela 11ª rodada do Campeonato Brasileiro), Arboleda (09 de julho, 12ª rodada), Marcos Guilherme e Hernanes (ambos estreando em 29 de julho, 17ª rodada do Brasileirão).

 

 

  1. JOGADORES TITULARES VINDOS DA BASE

 

Em “D” temos os jogadores titulares, vindos da base do clube após o início da temporada. Tendo em vista que a experiência é um fator importante para a regularidade de desempenho de um atleta, é importante que ele não seja lançado diretamente ao time titular da equipe, passando por um período de adaptação, entrando no decorrer das partidas e assim adquirindo a experimentação necessária, até se tornar titular. Com isso, consideramos que, quanto menor o número deste item, melhor.

Na avaliação do item “D”, o pior resultado é do Fluminense, com dois jogadores, São Paulo e Santos com um, e os demais com nenhum.

Eder Militão, zagueiro e volante da base tricolor, foi promovido ao elenco principal em maio deste ano. Atualmente está sendo improvisado na lateral direita do time e, apesar do bom desempenho, evidencia a deficiência técnica dos laterais direitos de ofício do clube, Bruno e Buffarini. Oras, como um zagueiro de 19 anos, recém chegado da base, pode render mais que dois laterais experientes em suas posições de origem?

 

 

  1. JOGADORES MANTIDOS NO ELENCO

 

O item “E” verifica o número de jogadores que permaneceram no elenco desde o início da temporada. Aqui, mantivemos o números absolutos, no entanto, devido cada clube ter um número variável de jogadores no elenco (Grêmio com 31 e Fluminense com 40, por exemplo) resolvemos avaliar através dos percentuais, ou seja, a porcentagem do elenco formada por jogadores remanescentes do início da temporada. Aqui, quanto maior a porcentagem, melhor para a equipe.

Por ordem decrescente, Grêmio, com 84% de manutenção de elenco; Botafogo, com 82%; Santos e Palmeiras, com 81%; Cruzeiro, Corinthians e Flamengo, com 79%, 78% e 77% respectivamente; Fluminense, 68%; Atlético-MG, 65%; Vasco, 53% e, novamente na última posição de um item, o São Paulo, com apenas 45% de manutenção do elenco.

Grêmio e Botafogo, lideres deste item com mais de oitenta por cento de manutenção de plantel, estão tendo uma temporada que considero muito positiva, considerando seus elencos modestos. Posição por posição, considero que apenas o goleiro do Botafogo é melhor do que o do São Paulo, talvez também o lateral direito Arnaldo, devido não ser a posição real de Militão. No mais, dos zagueiros ao centroavante, o tricolor tem melhores jogadores.

Avaliando o São Paulo, notamos que houve uma mudança muito radical no elenco. se comparado aos times com melhores resultados na tabela de classificação do campeonato nacional. Único clube com menos de cinquenta por cento de manutenção de atletas. Analisaremos essas mudanças nos itens seguintes.

 

 

  1. JOGADORES QUE DEIXARAM O ELENCO

 

No item “F” verificamos a quantidade de jogadores que pertenciam aos elencos no primeiro jogo oficial e, atualmente, não fazem mais parte do plantel dos clubes. Aqui são consideradas as vendas, algo que, possivelmente, enfraquece os times, mas também são considerados os empréstimos e desligamentos de jogadores “dispensáveis”, que na avaliação das diretorias dos clubes, não agregam em nada ou que por vezes prejudicam o plantel, no entanto, mais uma vez salientamos que nossa avaliação tem por objetivo avaliar a relação entre bons resultados e a permanência dos jogadores de uma equipe, portanto, quanto menor o número apontado, melhor.

Temos, então, Santos e Cruzeiro, com 6 jogadores; Grêmio, Palmeiras e Botafogo, com 7; Corinthians, Flamengo, Vasco e Fluminense, com 8, Atlético-MG, com 10 e, em último, São Paulo, com 14 jogadores que já não fazem mais parte do plantel.

No tricolor, além dos já citados no item “B”, deixaram a equipe mais nove atletas. Por meio de venda, o zagueiro Lyanco (Torino/Itália); empréstimos, os zagueiros Lucão (Gil Vicente/Portugal), Douglas (Chapecoense) e Breno (Vasco), o volante Wellington (também para o Vasco) e do lateral Foguete (Vila Nova-GO); Neilton, Cicero e Wesley tiveram seus contratos renovados. A não ser por Lyanco e talvez Breno, fica muito (MUITO!!!) difícil dizermos que essas saídas são negativas, quase uma heresia. No entanto, demonstra que o planejamento, realizado no início do ano, estava equivocado em trazer ou manter jogadores deste nível no plantel.

 

 

  1. JOGADORES DO ELENCO CONTRATADOS

 

Em “G” temos os jogadores que fazem parte do elenco, contratados após o início da temporada. Assim como no item “C”, devemos relativizar, salientando a importância de contratações pontuais que qualifiquem a equipe. No entanto, as chamadas “baciadas” de reforços em muitos casos prejudicam o entrosamento da equipe. Temos então que, quanto menor o número do item, melhor.

O time que menos contratou foi o Corinthians, com 2 reforços, seguido de Santos, 3; Botafogo e Fluminense, 4; Grêmio, 5; Palmeiras, Cruzeiro e Flamengo, 6; Atlético-MG, 8; Vasco, 14 e São Paulo, 15.

Além dos já mencionados no item “C”, os jogadores contratados para o elenco sãopaulino foram os zagueiros Bruno Alves e Aderllan Santos, o lateral Edimar, o volante Jucilei, os meias Jonathan Gomes, Maicosuel e Thomaz e os atacantes Marcinho, Denilson e Morato. Neste pacote temos jogadores que nem se quer estreou (Aderlan), que veio machucado (Maicossuel) e outros com qualidade técnicas questionáveis (Edimar, Thomaz, Marcinho, Denilson). Desconsiderando Jucilei, qual destes jogadores podemos dizer que é ou foi imprescindível, quiçá relevante ao time?

 

 

  1. JOGADORES DO ELENCO VINDOS DA BASE

 

Em “H” temos os jogadores do elenco, vindos da base do clube após o início da temporada. Para os clubes brasileiros, em sua maioria sem recursos para contratações de bons reforços, uma base que revele bons talentos é fundamental. Temos clareza disso. No entanto, nossa análise continua no sentido de entender que a adição de um número excessivo de jogadores em um elenco no meio da temporada é prejudicial, portanto, quanto menor o número deste item, melhor.

Importante salientar que jogadores revelados na base do clube, mas que já faziam parte do grupo em temporadas anteriores (como os casos de Rodrigo Caio e Lucas Fernandes), ou que fizeram parte do início desta temporada (Junior Tavares e Shaylon), não foram contabilizados aqui.

Grêmio e Palmeiras não tem nenhum jogador vindo da base no decorrer da temporada, seguidos por Cruzeiro e Flamengo, com 1; Corinthians, Botafogo e São Paulo, com 2; Atlético-MG, 3; Santos e Vasco, 4 e, em último, Fluminense, com 9 atletas. Um dos possíveis motivos dessa oscilação e resultados ruins do Fluminense, mesmo sendo o time com menos mudanças em seu time titular, seja o alto número de jogadores da base inseridos no meio da temporada. Jovens que deveriam estar se ambientando ao futebol profissional são promovidos para, imediatamente, solucionar os problemas do time.

Focando no São Paulo, foi promovido, além do já citado Militão, o atacante Brenner, que atualmente não vem atuando.

 

 

  1. NÚMERO DE TÉCNICOS EFETIVOS NA TEMPORADA

 

O último item em análise não foca exclusivamente na manutenção de elenco, mas sim na manutenção de um trabalho. Fixar um treinador ao longo da temporada diminui a necessidade de mudanças no elenco. Quando há uma troca de técnico há também uma mudança na forma de trabalho e de relacionamento com os jogadores. Um exemplo recente é a troca de Eduardo Batista por Cuca, no Palmeiras. O planejamento foi feito pela diretoria e aceito por Batista, no entanto, quando Cuca o substitui, deixa de lado Felipe Melo e Borja, dois jogadores extremamente caros. A culpa neste caso é, em maior parte, da diretoria do clube, que não se planejou adequadamente no começo do ano, contratando um técnico que poucos meses depois não lhe dando mais respaldo.

No caso tricolor, não entrarei em detalhes, devidos aos excessos que o tema causa. No entanto, é importante salientar a necessidade de se ter a clareza do “perfil” de técnico se quer para o São Paulo já no inicio do ano, para não se arrepender no decorrer da temporada. Seja a manutenção de Dorival Junior, a promoção de André Jardine (seria uma grata surpresa) ou a contratação de um outro técnico (Cuca?), a decisão deve ser tomada com convicção para não sentir a necessidade de mudar o trabalho em maio, junho ou julho.

Até esse momento, Corinthians, Grêmio, Cruzeiro, Botafogo e Fluminense, mantiveram seus técnicos ao longo da temporada. Santos, Palmeiras, Flamengo e São Paulo estão em seu segundo técnico efetivo no ano. Atlético-MG e Vasco, no terceiro.

 

Para não me alongar (mais?!), vamos às conclusões.

Notamos que à exceção de Fluminense, com seu grupo repleto de jogadores jovens e veteranos de talento duvidoso, clubes que realizaram menos mudanças em seus times titulares e também em seu elenco por completo, estão obtendo melhores resultados. Seja por acaso, ou por um bom trabalho realizado, Corinthians (1º colocado do brasileirão) Santos (2º), Grêmio (3º colocado e semifinalista da Libertadores), Cruzeiro (5º colocado e campeão da Copa do Brasil) e até mesmo Botafogo (6º, com seu elenco modesto) mantiveram seus elencos com mudanças pontuais e podem ter resultados satisfatórios ao final do ano. Outro fator importante é que, dos cinco clubes citados, apenas o Santos mudou de técnico.

Por outro lado, Atlético-MG, Vasco e São Paulo, com mudanças significativas no plantel, estão brigando para não serem rebaixados para a série B e, neste cenário, não se pode dizer que é obra do acaso.

A avaliação é que a gestão de futebol do São Paulo vem sendo realizada de forma amadora, por pessoas sem o mínimo conhecimento da área e que, por não demonstrarem um mínimo de auto crítica, tendem a repetir os mesmos erros em 2018.

Não sei quanto ao Atlético-MG, Vasco ou qualquer outro, mas sei que o São Paulo Futebol Clube não cairá, devido ao brio dos jogadores, liderados por Hernanes e pela demonstração de força de nossa torcida.

Obrigado pelo espaço e principalmente pela paciência com este longo texto.

O espaço está aberto à discussão.

Saudações tricolores!

 

Ricardo Piloto