Diretor de futebol do São Paulo, Vinicius Pinotti deu, durante pelo menos seis meses, mesadas de cerca de R$ 9 mil a Alan Cimerman, ex-gerente de marketing do clube, demitido por justa causa em agosto. Documentos obtidos pelo UOL Esporte mostram que Pinotti, diretor de marketing na época dos pagamentos, transferiu ao menos R$ 54.900,00 para o antigo funcionário. De acordo com as notas fiscais, os depósitos foram feitos pelo diretor à empresa Team Spirit, de Cimerman, entre junho de 2016 e abril de 2017, no valor de R$ 9.100,00 cada (veja aqui a cópia de um desses pagamentos).

Neste ano, Cimerman foi demitido do clube pelo suposto envolvimento em um esquema de venda irregular de ingressos e camarotes nos shows de U2 e Bruno Mars, que serão realizados no Morumbi em outubro e novembro. O caso está sendo apurado pela polícia e o Tricolor calcula que os compradores foram lesados em ao menos R$ 2 milhões.

Pinotti, vale destacar, deixou o marketing para assumir o futebol em abril e não há nenhuma comprovação de que ele estivesse envolvido no esquema. Não há, da mesma forma, nenhuma indicação que o pagamento mensal a Cimerman tenha a ver com algum ato ilícito no marketing são-paulino. Questionado pela reportagem se pagava complemento salarial para Alan, Pinotti inicialmente negou. Afirmou não ter feito depósitos para ele, mas disse ter auxiliado o ex-funcionário financeiramente para resolver problemas pessoais. Quando soube que o UOL Esporte teve acesso às notas ficais, ele disse que elas se referem às tais ajudas. Nos documentos, as justificativas para as transferências eram “consultoria de marketing e prestação de serviços”.

“Paguei cirurgia cardíaca do pai dele, faculdade da filha dele. Ele não tinha dinheiro, eu disse que poderia emprestar, mas precisava justificar para o Fisco. Ele disse que tinha uma empresa e que poderia emitir notas correspondentes aos valores. Foram seis ou sete notas. Eu ajudava um ser humano a sair do buraco. Achei que era o melhor a fazer também pelo São Paulo, porque até então ele era um bom funcionário. Só não entendo que relação a ajuda que eu dei a ele tem a ver com o golpe do show do U2? Não tem nada a ver, são coisas diferentes. E se eu estivesse sendo beneficiado, não seria ele que teria feito depósito para mim? Se quiserem mexer comigo, podem mexer. Vamos ver lá na frente, muita gente vai sair machucada, mas não eu”, afirmou Pinotti, que ressaltou ter apenas “ajudado uma família que passava por necessidades”.

Também sobre o recebimento de complemento salarial de Pinotti, Cimerman se manifestou por meio do advogado, Daniel Bialski. O defensor reconheceu que foram feitos depósitos mensais por parte do dirigente, mas negou que fossem “auxílios pessoais” como caracterizou o diretor. Segundo ele, Cimerman prestou serviços para Pinotti antes de ser contratado pelo São Paulo. Como a quantia total ainda não havia sido quitada, as transferências foram feitas enquanto ele já trabalhava no Morumbi. Cimerman também nega ter cometido irregularidades no caso do U2. Apesar de não haver nenhum indício de que o clube tenha sido prejudicado, a relação entre Pinotti e Cimerman gerou críticas e suspeitas entre dirigentes, que pressionam o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco. Há também relatos de patrocinadores que teriam tido problemas de relacionamento com Cimerman e feito reclamação para Pinotti, então diretor de marketing. Segundo esses executivos, nada teria sido feito.

“Chegou a mim reclamação sobre nervosismo dele, eu o repreendi, coloquei na parede e assumi pessoalmente os relacionamentos. Após isso, não houve mais problema e tudo se normalizou”, afirmou Pinotti. “Desconhecemos [a interferência de Pinotti neste caso de reclamação de patrocinadores]. No inquérito tudo será devidamente esclarecido”, completou Bialski.

UOL