São Paulo já não está mais em estado de alerta. Agora, o sinal é vermelho. O risco do primeiro rebaixamento da história do clube no Campeonato Brasileiro é cada vez mais real, e o clima no Morumbi é de tensão e preocupação. Vice-lanterna com 24 pontos, o time completou 11 rodadas na zona da degola – um recorde indigesto na trajetória do clube.

Dentro de campo, a equipe enfrenta dificuldades para se entrosar e sofre com fortes oscilações durante as partidas. Nos bastidores, uma crise que publicamente é negada, mas que preocupa e divide a cúpula do clube, que se sustenta no apoio da torcida para não deixar as coisas ficarem pior.

A permanência de Dorival Junior no São Paulo é uma incógnita. Há 11 jogos no comando, ele tem no Brasileirão um aproveitamento ligeiramente melhor do que seu antecessor, Rogério Ceni (39,4% a 33,3%), que também dirigiu o time em 11 oportunidades no Nacional. Nesta altura do campeonato, o que o São Paulo precisa é de resultado positivo. Por isso, uma derrota em Salvador, hoje, contra o Vitória, pode fazer a pressão sobre Dorival terminar na segunda troca de técnico do São Paulo no ano.

Desde outubro de 2015 na presidência do São Paulo, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, ainda não conseguiu emplacar um treinador que obtivesse pelo menos 50% de aproveitamento. O roteiro com cada um deles tende a se repetir: treinadores reclamam das saídas de jogadores importantes do elenco e sentem dificuldade para “engrenar” e estabilizar o time.

Sem criticar a diretoria tricolor, Dorival paga em campo o peso das escolhas dos dirigentes. Após quase dois meses comandando o tricolor, o técnico reclama da dificuldade de entrosamento dos atletas – resultado das transferências feitas pela diretoria enquanto a equipe tentava se acertar no Brasileiro. Nos bastidores, conselheiros sugerem a demissão de Dorival.

Para os críticos à atual diretoria, o presidente vive em um universo paralelo que ganhou até apelido nos corredores do Morumbi, a “Lecolândia”. Nela, resolver os problemas do clube é mais simples do que a realidade faz parecer. Um exemplo recente é a reaproximação do São Paulo com o ex-técnico Muricy Ramalho, que atuaria como um “consultor informal” do time.

A ideia, vista como positiva para a equipe, é encarada com certo deslumbre por parte da diretoria, que estaria desconsiderando questões como os conflitos éticos que o ex-treinador poderia encarar por ser comentarista esportivo e ao mesmo tempo estar vinculado, mesmo que informalmente, a um clube em disputa de competição. Outro exemplo é a abertura do CT da Barra Funda a torcedores, vista internamente por alguns como atitude de caráter populista.

A avaliação é de que o São Paulo está mais exposto do que deveria e, por isso, ceder às pressões e aos pedidos da torcida seria apenas uma forma de o clube se esquivar de outros problemas que o afligem e que não estão apenas relacionados ao que se passa dentro das quatro linhas. Um deles, por exemplo, é a investigação em andamento sobre a interferência de um ex-gerente na venda de ingressos para shows que serão realizados no estádio do Morumbi, que fez crescer a crise interna do São Paulo neste ano.

A quase três meses do fim da temporada, só a conquista de resultados pode reverter a narrativa dramática até aqui.

Estadão