A conversa entre “torcedores organizados” e representantes do time, da comissão técnica e da diretoria do São Paulo tem apenas duas consequências: um certificado para a vaidade daqueles que se consideram mais são-paulinos do que os outros, e um aviso bem claro para o time. Ao patrocinar o encontro, as pessoas que comandam o clube se eximiram de suas obrigações e dividiram a responsabilidade – ou assim pensam – sobre o que acontecerá com o São Paulo até o final do Campeonato Brasileiro.

É irônico, e ilustrativo a respeito das decisões tomadas ao longo do ano, que a reunião tenha acontecido um dia depois de um pedido dos jogadores por mais privacidade. A resposta foi uma palestra de torcedores dentro do centro de treinamentos do clube, ocasião sobre a qual o único aspecto positivo que pode se observar é o fato de ter transcorrido sem desrespeito ou violência. Não é algo anormal em um ambiente de futebol mal administrado como o brasileiro, e, claro, nem uma particularidade do São Paulo. É uma confissão de incompetência e fraqueza frequente em nossos clubes quando as coisas não vão bem.

O argumento de que torcedores, profissionais ou comuns, têm o “direito” de se reunir com membros do clube que dizem apoiar é pueril. Trata-se de uma moeda cujo outro lado seria o “dever” do clube de permitir tais encontros. Obviamente não é assim, de modo que as reuniões dessa natureza funcionam como atestados da influência externa no dia a dia de clubes de futebol. Ao final, é apenas um troféu, uma conquista da qual esses torcedores podem se orgulhar em suas redes sociais, enquanto reafirmam a condição, neste caso, de “são-paulinos vips”. No evento de ontem, houve até um “acordo” para que nada do que foi discutido chegasse ao conhecimento “da imprensa”.

O time deve se considerar avisado. Haverá apoio e “paz” até que o rebaixamento seja evitado, mas quem sabe o que pode acontecer se o São Paulo cair? O compromisso de um suporte pacífico com prazo determinado traz uma óbvia ameaça embutida, o que eleva a pressão sobre os jogadores, ao invés do efeito contrário. É exatamente o oposto do que uma equipe aterrorizada – no aspecto futebolístico – necessita nos jogos que determinarão o desfecho da temporada. Ademais, não é preciso que se faça uma reunião para que os jogadores sejam comunicados do que os aguarda se o ano terminar mal.

Num futebol em que jogadores são “milionários mimados” que não se importam com o sofrimento da arquibancada, quem não vence deve ser disciplinado. É só uma versão disfarçada do “por amor ou por terror”.