Dia 13 de julho. O São Paulo estreava o técnico Dorival Júnior em duelo contra o Atlético-GO pela 13ª rodada do Campeonato Brasileiro. A partida terminou empatada por 2 a 2, com falhas defensivas do Tricolor e o aumento da crise pela presença na zona de rebaixamento. Na saída do Morumbi, a revolta da torcida atingiu um dos jogadores mais importantes do elenco. Rodrigo Caio teve o carro chutado na saída do portão principal.

O zagueiro estava acompanhado de familiares e o que se viu foi uma reação inesperada de uma pessoa conhecida pela serenidade e pela paciência mesmo em momentos críticos. Rodrigo se revoltou, explodiu. Pensou até mesmo em deixar o São Paulo, clube que o formou, de quem sempre foi torcedor e que defende desde a infância.

Rodrigo aceita críticas. Tanto é que reconhece que não atravessa o melhor momento individual da carreira, embora tenha sido convocado para a seleção brasileira na última data Fifa. No ano, foram pelo menos seis falhas que terminaram em gols dos adversários, algo incomum para quem era ponto de segurança do time desde 2015. No profissional, ele é esperança desde 2011, sempre tratado como exemplo de seriedade, de postura e do tipo de jogador que o São Paulo planejava criar em Cotia: leal, identificado com o clube e bem-sucedido em campo.

O chute no carro foi o estopim para quem passou a centralizar boa parte das críticas pelo mau momento do Tricolor. Rodrigo só não aceita ser queimado por razões injustas. Um dos atletas mais dedicados do elenco, procura estudar rivais, conversar com a comissão técnica sobre o time, orientar os mais jovens e cobrar quem não apresenta a mesma entrega. Assim, pediu mais de Cueva em entrevista coletiva, depois de ter feito o mesmo internamente e até no clássico contra o Palmeiras, quando repreendeu o peruano por lance displicente no campo de defesa.

Nas redes sociais, torcedores têm ironizado e feito questionamentos sobre o zagueiro. Como pode cobrar Cueva se também está em má fase? Foi para a seleção e só jogou alguns segundos? Querem valorizar o fair play praticado no Campeonato Paulista, quando acusou equívoco da arbitragem em clássico com o Corinthians? Se é tão bom, por que mais uma vez não foi vendido?

No mesmo dia em que teve o carro chutado, Rodrigo já falava em pensar mais na própria carreira depois de tanto pensar em ajudar o São Paulo. Uma proposta do Zenit, da Rússia, no valor da multa (18 milhões de euros), era esperada pelo clube paulista. As bases salariais estavam acertadas com o zagueiro. De repente, os russos deram para trás. A saída melou e Rodrigo apenas brincou com a própria sina de negociações frustradas – Monaco em 2014, Valencia em 2015.

O defensor ainda sonha em atuar na Europa e esperava, de fato, que esse objetivo se concretizasse neste ano. Ao mesmo tempo, costuma não remoer as decepções e sabe que não há tempo para lamentações. O São Paulo, clube que tanto preza, corre sérios riscos de rebaixamento. É o penúltimo colocado do Campeonato Brasileiro e enfrenta a Ponte Preta neste sábado, às 19h, no Morumbi. Há urgência por uma reação como as demonstradas em 2013 e 2016, quando, curiosamente, Rodrigo teve papel fundamental para evitar a queda tricolor.

Foram atuações seguras na defesa e gols decisivos, como o contra o Fluminense na temporada passada. O tento de cabeça fez o time paulista virar jogo no Rio de Janeiro, desgarrar da zona da degola e respirar. Ali, era herói. Hoje, embora tenha respaldo e admiração dos companheiros, sabe que pode ser vilão. Pelos erros que cometeu e pelos gols que não fez contra Avaí e Palmeiras, que poderiam ter dado vitórias ao São Paulo.

Uma eventual queda tira o sono de Rodrigo. Ficaria marcado negativamente no Morumbi, sentiria pela carreira e por torcer pelo clube. O frequente interesse de europeus poderia diminuir, com propostas cada vez menores pelo avanço na idade do zagueiro, que completará 25 anos em 2018. E os planos de disputar a Copa do Mundo também perderiam força. Competir com outros defensores da elite brasileira ou europeia estando na Série B o derrubaria no ranking de Tite para a seleção. Há muito em jogo.

UOL