Uma crise não faz de uma hora para outra, é preciso tempo e persistência no erro. Se só os números do balanço não podem explicar por que um clube sobe ou desce na tabela – e, eventualmente, cai para a divisão inferior -, eles são uma fotografia que ajuda a entender o caminho percorrido. O São Paulo Futebol Clube, quarta maior receita do ranking, patina na chamada Z4, a temida zona dos candidatos ao rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Os problemas de gestão, as campanhas ruins do time e a consequente falta de títulos nos últimos anos já deixaram uma marca profunda nos balanços – que, vistos em retrospectiva, já antecipavam que algo não ia bem no Morumbi.

Em 2013, último ano da gestão do folclórico Juvenal Juvêncio e também um ano de dificuldades em campo (o time brigou para não cair), o clube era líder em faturamento, ainda uma herança das glórias que vinham do passado, como os três campeonatos mundiais. Nos quatro anos até 2016, a receita do São Paulo cresceu apenas 8% em termos nominais (sem corrigir a inflação), enquanto seus principais rivais – em campo e nos negócios – pisaram no acelerador. O Flamengo, líder em 2016, cresceu 87%; o Corinthians, 54%; e o Palmeiras, 165%.

Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, assumiu a presidência em 2015, depois da renúncia de Carlos Miguel Aidar, envolvido num escândalo que colocou o clube numa crise política nunca antes vista e acabou de vez com sua fama de referência em gestão de futebol. O clube foi o primeiro a publicar, na década de 1950, as demonstrações financeiras, no primeiro ano da gestão do tesoureiro Laudo Natel, que depois seria governador do Estado.

O crescimento anêmico da receita do SPFC está em pé de igualdade com os 6% do Avaí, time catarinense com o qual disputa diretamente para sair das últimas posições. Está abaixo dos 13% do Internacional, que caiu para a segunda divisão no ano passado (enquanto o Grêmio, seu maior rival, cresce 97% e é um dos líderes do Campeonato Brasileiro neste ano). Queda de receita não quer dizer resultados piores, se houver uma redução de custos e despesas na mesma proporção. Não foi o caso. Nos quatro anos, o São Paulo teve um prejuízo acumulado de R$ 194 milhões, o pior resultado entre todos os 24 clubes analisados.

Valor Econômico