Amigos São Paulinos.

Em Junho desse ano, me bateu uma forte reflexão. Compartilhei com alguns tricolores e infelizmente, a conclusão que chegamos é que talvez, nunca mais teremos ídolos de verdade vestindo o manto sagrado do tricolor. Na época, a novela da renovação de Lugano me acendeu essa luz e, hoje, vendo o que estão fazendo com ele, só me mostra o quanto a diretoria não pensa nos atuais ídolos. Válido e louvável a ideia recém aprovada de dar o nome de algumas salas a ídolos do passado. Não vi a lista, mas acredito que nomes como Raí, Leônidas, Telê Santana, Muller, Poy, Roberto Dias, entre outros, merecem essa justa homenagem. Mas será que nunca mais termos um ídolo para dar nome a uma nova sala?

 

Dificilmente teremos algum jogador que represente o time com tanto amor, como vimos recentemente Rogério Ceni, Lucas e  Lugano. Não dá tempo. O jogador começa a se destacar e logo vai embora, não dá tempo de criar um vínculo com a torcida, conquistar título, ser protagonista de um campeonato. Lucas, por exemplo, quase não teve esse tempo, uma vez que no ano em que ele se consolidou como jogador titular, que seria protagonista do tricolor, foi vendido por mais de 100 milhões de reais. Hoje, talvez tenha se arrependido e visto que ainda não estava preparado para o futebol europeu, uma vez que está lá desde 2013 e ainda não se firmou como titular, mesmo sendo um dos protegidos do Ibra, quando lá estava. Espero que a sua amizade com Neymar o ajude a enfim ser titular do time francês.

 

Augusto Galvan (que nem sequer passou pelo time principal que eu me recorde), Boschilia, Ewandro, Breno, Lucas Evangelista, Lyanco, David Neres, Luiz Araújo, Aislan, Lucas Piazon são alguns dos exemplos. Devem ter outros que não me recordo, mas que saíram cedo demais. Hoje, David Neres e Araújo são lembrados, como jogadores com grande potencial que poderiam estar no São Paulo ajudando o time a brigar por títulos. No papel, um ataque com Araujo, Pratto e Neres é para sonhar, mas será que eles aguentariam o tranco? Araújo teve altos e baixos mesmo em 3 meses de titular. Não deu tempo, foi vendido para a França. David Neres então, jogou um mês e já foi também.  Não dá tempo para o garoto se formar e se preparar.

 

Não duvido que esses jogadores torçam pelo São Paulo mesmo morando na Europa, nas Redes Sociais estão sempre mostrando isso, por gratidão, pelos amigos que por aqui ficaram e por terem aprendido a amar o time, porém, quando chega uma oferta milionária, esse amor não é tão grande assim, como foi de Rogério Ceni e até de Marcos no Palmeiras que recusaram ofertas – ou nem mandaram empresários irem atrás – por amor ao time que jogavam. Ou alguém duvida que ambos tinham mercado nos grandes times da Europa?

 

Não culpo os jogadores. Sabemos que 99,9% dos jogadores passam muitas dificuldades financeiras, que as vezes, não comem para ter o dinheiro do ônibus, que precisam acordar 5h para andar 3h de ônibus e estar nos treinos as 8h e depois mais 3h de volta para casa. Ganham uma ajuda de custo de 1 a 2 mil reais por mês e de uma hora para a outra, literalmente, estão com um salário de 200, 300 mil Euros, o que dá quase 1 milhão de reais. Um garoto de 17, 18 anos, que ainda não tem uma cabeça formada, está na transição de adolescente para adulto, que viu durante a vida toda, os pais darem duro para colocar comida na mesa e agora tem a oportunidade de, em um mês, ganhar o que os pais jamais ganhariam na vida. Não os culpo, mexe com qualquer um, ainda mais quem está ainda na fase do deslumbramento. Quantos estagiários já não vi se sentindo diretores porque estão em uma grande agência de propaganda ou no marketing de um grande anunciante. Deslumbramento do jogador, pressão do empresário, as vezes até da diretoria que precisa do dinheiro e o fato de que jogador tem carreira curta e precisa fazer sua poupança em 15, 20 anos, tudo isso contribui para a saída precoce e nem sempre certa.

 

Hoje a torcida brinca nas Redes Sociais. Jogador jogou um jogo bom, já vira o JuciLenda, AborLenda, REInaldo, Cristiano Osvaldo, e por ai vai. Não passa de uma brincadeira, mas mostra uma séria realidade. Quem hoje é o nosso grande ídolo? Lugano que não entra mesmo com a defesa sendo vazada todos os jogos? Hernanes que voltou depois de 7 anos? Esse sim ama o São Paulo e pode ser ídolo, participou ativamente de títulos, sendo, em 2008 o protagonista do nosso ultimo grande titulo do time profissional.

 

Vou dar um exemplo que eu vi. Estive no jogo SPFC X Mirassol, estreia de Lucas Pratto com a camisa do São Paulo. Fiquei na tribuna dos sócios fazendo uma ação com o livro do Telê Santana. Eu e o pessoal da Editora Inova, ficamos até um pouco mais tarde, conversando com as pessoas, arrumando tudo para ir embora. Por  volta das 20h, estávamos saindo das tribunas e veio um garoto, uniforme vinho da Under Armour, em nossa direção. Passou do nosso lado, deu um tímido “oi” e saiu pelo portão. Fiquei apenas observando e tentando identificar quem era. Ele passou no meio da torcida, ninguém o parou, tirou foto ou pediu autógrafo. Esse dia mais de 45 mil torcedores estavam no Morumbi, ele passou no meio de muita gente. Pegou um taxi, no meio da rua, como qualquer outro torcedor e se foi. Questionei o segurança e ele me disse:

– Esse ai é o Luiz Araújo, menino bom que vai dar muitas alegrias…

 

Passou apenas 2 semanas, para ele arrebentar contra o Santos, ser colocado no posto de “craque” e cair nas graças da torcida. Isso em Março! Ou seja, em Março desse ano, a torcida mal sabia quem era o Luiz Araújo que hoje ganha quase 1 milhão de reais por mês na França! Essa é a vida do jogador! Ele tinha tudo para, se ficasse mais um ou dois anos no São Paulo, se tornasse um grande ídolo, mas o dinheiro falou mais alto. Não o culpo, seria hipocrisia, nós trocamos de emprego por 1 ou 2 mil reais a mais, é demais culpar alguém que ganha, por exemplo, 50 mil trocar um emprego para ganhar 1 milhão!

 

Quando se traz um jogador de outro time, com uma história em outro time, seja ele qual for, ele respeita o São Paulo, mas não é apaixonado. Defende o time, mas não com a mesma vontade ou raça. Aloísio Chulapa, por exemplo, sempre foi torcedor tricolor, quando veio para o São Paulo até chorou. Não era craque, mas dava o sangue, para ele, era um enorme prazer defender as cores do time que sempre torceu, desde criança. Era como se um de nós, tricolores, pudesse ter a chance de vestir o manto sagrado por apenas um jogo. Que sonho!!!

 

Será que Petros defende o São Paulo com a mesma paixão? Buffarini? Douglas? Renan? Jr Tavares? Sidão? Cueva? Não estou aqui falando da qualidade deles, mas da paixão em defender o time, pois isso, para a torcida é muito importante, talvez, até mais que a qualidade, é preciso ter raça! Um ídolo não faz apenas por sua genialidade, mas um conjunto de fatores.

 

Pintado foi craque? Mas jogou a final da Libertadores com sangue no rosto por causa de uma cotovelada! Ronaldão era o novo Dario Pereira? Mas tinha uma raça absurda. Falta isso hoje nos jogadores pois eles não entendem o que é o São Paulo Futebol Clube, um time antes diferente, hoje, comum, graças a 13 anos de poder da mesma chapa.

 

Rogério Ceni foi o último jogador no Brasil a jogar em apenas um time, Lugano, quando sair do São Paulo será o último grande ídolo que o São Paulo terá e a diretoria faz pouco caso com isso. Lugano é caro. Barato são 18 milhões gastos com um lateral que não cruza, não passa, não dribla, não marca e não chuta. Lugano é caro. Barato é pagar 350 mil reais em 2 anos para um volante que vive no departamento médico.

 

*Felipe Morais. Publicitário, apaixonado pelo São Paulo Futebol Clube. Sócio da FM Planejamento, Palestrante sobre marketing digital, comportamento de consumo e inovação. Coordenador do MBA de Marketing Digital e do MBA de Gestão Estratégica de E-commerce da Faculdade Impacta de Tecnologia. Autor dos livros Planejamento Estratégico Digital (Ed. Saraiva) e Ao Mestre com carinho, o São Paulo FC da era Telê (Ed Inova). Me siga facebook.com/plannerfelipe