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Há tempos vinha pensando em retomar uma rotina de escriba. (Tá, rotina é exagero, porque implica constância, e isso não consigo garantir, por ora.) Precisava de um incentivo pra isso. Ultimamente, são tantos pensamentos, reflexões — sobre a vida, círculo social, amor, família…. Quis o destino que o empurrãozinho pra essa retomada como escriba viesse do amor (um deles!) e no marcante 29 de julho de 2017.

O dia começou com um compromisso marcado: ir a Alphaville pra almoçar com dois grandes amigos que conheci na faculdade de educação física — um deles eu não via há seis anos (ainda que more perto, em Cotia), e o outro mora em Ribeirão Preto (de tantas visitas! Rs) e estava de passagem por São Paulo. Fui intimado a comparecer a este almoço na noite anterior pelo Arthur, o ribeirão-pretano da história. Primeiro, porque era aniversário do Honda (o sumido há seis anos); e segundo, porque era a chance desse reencontro entre grandes amigos.

De imediato, hesitei mesmo diante da insistência do Arthur: neste sábado, meu São Paulo jogaria relativamente cedo (16h00) contra o Botafogo. E mesmo que o jogo não fosse no Morumbi, a vontade de seguir o Tricolor é indescritivelmente intensa (Pay-per-view acima de qualquer assinatura) — sobretudo na fase ruim, como a que nos encontramos neste Campeonato Brasileiro, brigando pra se afastar da zona de rebaixamento.

Mas não podia deixar passar a chance de ver os amigos. Pensei comigo: “vamos lá, almoçamos e conversamos até umas 15h00, 15h20 e, de Alphaville, vou pro Jaguaré assistir ao jogo na casa do meu irmão (Premiere Play, pois sim!), que fica a ± 15km!”.

Então, fomos lá. Acordei e vesti o Alvo Manto Sagrado das Três Listras. Como tem sido praxe aos finais de semana, tomei café na padaria, voltei pra casa, montei o time no Cartola, planejei um pouco das minhas férias. E saí rumo a Alphaville.

Relembramos histórias. Rimos (sempre com piadinhas infames e trocadalhos do carilho característicos do trio desde 2005; o Honda quase sempre de espectador, eu e o Arthur como os autores dos chistes metidos à besta). Molhamos as palavras com chopp. Cantamos parabéns pro Honda.

Mas é claro que não saiu tudo como planejado. Depois de o Honda terminar o bolo dele, coloquei o ponto final ao encontro do indefectível trio da Faculdade de Educação Física do Mackenzie. Sem peso pra ninguém, porque não é segredo pra eles meu amor pelo São Paulo (como não é o do Arthur pelo Palmeiras, cujo jogo ele iria assistir mais tarde, in loco, e o do Honda pelo vôlei).

Despedimo-nos. Saí de Alphaville com o jogo prestes a começar e com a tensão peculiar dos minutos que antecedem os jogos do São Paulo, ainda mais na situação em que o Tricolor se encontra. Como sempre, a emissão natural de ondas de boas vibrações foi realizada (nem sempre elas funcionam, mas por que ser negativo se se pode ser positivo?). Liguei o rádio. De Alphaville à casa do meu irmão, 15km e cerca de 25 minutos de jogo via ondas sonoras. (O rádio é um meio marcante em minha vida, mas também é o mais aflitivo quando se trata de São Paulo Futebol Clube.) No portão do condomínio, gol do São Paulo: 1×0! Vibro pra cacete! Abre o portão, gol do Botafogo. Decepção. “Porra, como pode essa desatenção do time?”. Estaciono o carro, pego minha mochila com o notebook. Subo. Ligo e conecto no Premiere Play e… 2×1 pro Botafogo! “Cacete!”

Nos grupos são-paulinos, só desolação. E busca por culpados. “Tem que contratar o Walter (goleiro do Corinthians — o Renan, goleiro do São Paulo, falhou no gol da virada do Botafogo)!” “Esse Bruno (lateral-direito) não dá!” (Não dá mesmo, rs…)

Em meio aos debates numa tela e o jogo na outra, esbarro o pé na tomada em que o roteador estava ligado. Cai a conexão. “Putaquepariu!” Ligo na tomada de novo e leva uma eternidade pra sincronizar o sinal e o Wi-Fi voltar ao serviço. Nesta vida de espera, pênalti pro São Paulo (acompanhado no app Placar UOL via 4G). O Cueva perde a porra do pênalti. Mais desolação, né (e — enfatize-se — despertada em mim via aplicativo, o que ainda não sei se ameniza ou agrava o sentimento)? Inevitável pensar que o destino conspirava pro Tricolor ficar lá no Z4 do Brasileirão.

Nesses 30 anos de vida, 15 deles acompanhando futebol com afinco, a conclusão que chego é que não adianta procurar culpados no time ou no banco de reservas quando clubes do porte de um São Paulo estão em situação calamitosa de resultados. Jogadores vão falhar e os erros, logicamente, colaboram sim para a escassez de vitórias. Como foi com o Renan, com o Cueva que perdeu o pênalti e sobrou até para o Dorival Junior, o treinador, depois das alterações que fez e a elas um amigo chegou a atribuir a culpa pelo terceiro gol do Botafogo (pois é, Botafogo 3, São Paulo 1 — desolação à enésima potência e um despertar de resignação).

No muro de lamentações vermelho, branco e preto que havia se tornado o WhatsApp, decretei: “Cagadas… São tantas que é difícil dizer qual é determinante pro resultado. Já para a situação num geral, acho que sabemos, né?” Era uma indireta referência à parca gestão do São Paulo. Se os jogadores e treinador que, respectivamente, jogam e escala o time, não é possível eliminar de espirais — negativa ou positiva — as decisões administrativas de um clube. No médio ou longo prazo, são delas que que obtemos boa parte das respostas sobre o porquê de determinadas campanhas.

Reflexões futebolísticas à parte, mesmo com o 3×1 pro Botafogo na cabeça e a desolação e o surgimento de uma resignação em torno de um possível rebaixamento, a torcida não cessa. Os olhos continuavam ligados no notebook e no jogo e no envio das boas vibrações. De um escanteio, vem o nosso segundo gol! “Vamoooo!”, escrevo no WhatsApp. Gol é pra comemorar! Aos 38 do segundo tempo, sonhar com um empate fora de casa contra o bom time do Botafogo…. Não seria nada mal!

Mais São Paulo no ataque. 40 do segundo tempo, levanto da cadeira, cruzamento da direita, bate-e-rebate, a bola sobra pro Profeta Hernanes: é o empate! Caralho, que emoção, que recuperação, QUE GRITO DE GOL! Gol não é droga, absolutamente, mas vicia. Não me peça explicação. É assim. E ponto. Naquele instante, nem lembrava mais que o sonho era o empate — eu queria mesmo era ver o São Paulo ganhar! O relógio já entrava no segundo minuto dos acréscimos, quando um dos potenciais culpados pela desolação e resignação que tomava conta de nós são-paulinos tira um coelho da cartola: Cueva deixa o estreante Marcos Guilherme na cara do gol pra virar o jogo neste 29 de julho inesquecível! “PUTAQUEPARIU! GOOOOOLLL!” Em alto e bom som. Beijos no escudo do Alvo Manto Sagrado das Três Listras! “Agora segura essa porra!”

Seguramos! Épico! Que vitória! Que ficava ainda melhor quando o Gustavo, meu sobrinho, entra no apartamento depois de aparar a juba. O São Paulo acabava de ganhar uma partida incrível, e ele chega já procurando por mim — “cadê o titio?!” Extasiado com a vitória épica que há pouquíssimos minutos havia sido confirmada, abracei ele, joguei pra cima. Algumas vezes, por uns 5 minutos. Ele ria, pedia mais. Mais é mais! O Guss se divertia e, claro, provavelmente não entendia o titio malucão daquele jeito. Mas a equação era simples: dois amores, imensas alegrias.

Que dia! Iniciado vestindo a camisa do São Paulo, que depois — constatei — ditou, nos bastidores ou com protagonismo, tudo o que viria a acontecer — do reencontro depois de seis anos com grandes amigos até o humor completa e positivamente alterado.

Quer saber? Vitórias épicas existem aos montes nos livros de história do futebol. Isso não as torna menos importantes — pelo contrário. Reforçam que, épico mesmo, é ter um time para torcer. Sublime. Encantador.

Por isso te sigo, São Paulo!

Por: Rafael Bueno