Gestão Esportiva:  Evolução ou Revolução

Demorei um pouco mais pra voltar a postar aqui no blog por um motivo bem específico: quando se fala de gestão esportiva e o time vai mal em campo parece que estamos falando por oportunismo e aproveitando da situação atual do time para criticar a diretoria do clube. No entanto, meu objetivo em falar de gestão esportiva aqui no Blog do São Paulo é criar nos torcedores uma consciência coletiva de como se pode administrar com eficiência um time e, com isso, termos base e argumentação para cobrar nossa diretoria seja em bons ou maus momentos.

Nos últimos dias me peguei lendo o já clássico e obrigatório livro: “A bola não entra por acaso” de Ferran de Soriano. Este livro, que fala de gestão esportiva na visão de um dos diretores da revolução do Barcelona nos últimos anos descreve muito do que o nosso SPFC passa atualmente.

O trecho que destaco abaixo traz um panorama muito parecido o SPFC atual e nos leva a pensar o que queremos em nosso time.

Convido você a ler estas linhas e pensar:

“Como são paulino, você quer uma evolução ou uma revolução no nosso time?”

 

“Evolução ou revolução

Após analisar com consciência a situação na qual o clube se encontrava, consideramos e estudamos duas alternativas estratégicas conceituais:

1) Um programa prudente e moderado de evolução. Uma redução imediata das despesas para passarmos alguns anos de austeridade, de travessia do deserto, um tempo no qual não se poderia investir nem no time nem em praticamente nada para recuperar um pouco a economia antes de voltar a crescer.

2) Uma revolução. Um esforço combinado de redução de gastos supérfluos, reestruturação da dívida e investimento imediato no time. Construir um time atraente, competitivo, que levasse o Barcelona de volta à primeira linha e que gerasse a renda que autofinanciasse o investimento realizado.

A opção escolhida foi a segunda. Tratava-se de investir no time para que voltasse a ganhar títulos. Por sua vez, o sucesso esportivo devolveria prestígio mundial e levaria o time a um crescimento social que seria a fonte de um novo incremento na renda. Víamos um movimento circular entre a renda, o sucesso esportivo, o prestígio e o crescimento social que chamamos de círculo virtuoso. O investimento no time colocava a roda em marcha. Certamente, esse círculo virtuoso tinha um risco financeiro maior, porém estrategicamente era mais seguro. Não podíamos falhar no investimento inicial porque a crise econômica e financeira do Barcelona não permitia erros. No entanto, se optássemos pela prudência, ou seja, por adiar o investimento esportivo até termos um clube saneado economicamente, correríamos o risco de perder um tempo precioso em relação aos nossos rivais, que haviam alcançado um ritmo de crescimento endemoniado. Não teríamos podido concorrer com eles pela contratação dos melhores jogadores nem teríamos tido capacidade sufi ciente para pagar os salários dos nossos craques, a quem inexoravelmente teríamos de transferir, como acontecera anos antes com Luis Figo.

Nessas condições, dificilmente poderíamos lutar pelos títulos e, como consequência, não teríamos recuperado o prestígio perdido nas últimas temporadas, nem teria acontecido o crescimento social necessário, que sempre foi a força do Barça. Em 2003, o risco estratégico era ficarmos no nível de um clube médio, como o Valencia ou o Atlético de Madrid, ou, no limite, sermos forçados a nos transformar em outro Asterix e Obelix. Hoje, sabendo dos extraordinários resultados conseguidos com essa estratégia, é fácil explicar. Na época, com tantas incertezas, era uma estratégia bastante arriscada. No médio prazo, nenhuma empresa pode triunfar sem um bom produto.

O Barça é uma vitrine mundial para um produto de futebol e, bem administrado, o produto gerará dinheiro, o qual, por sua vez, permitirá melhorias periódicas. Contando com a vitrine e convencidos de que saberíamos tirar dela um rendimento econômico, nós jogamos no intuito de construir um bom produto, um produto campeão. O time foi construído com diferentes peças e com o know-how de Txiki Begiristain e Frank Rijkaard, mas teve um porta-bandeira: Ronaldo de Assis Moreira, o Ronaldinho Gaúcho. A qualidade técnica, o rendimento e o carisma desse jogador foram a “cara” do novo projeto. A contratação custou bastante dinheiro e muito trabalho por parte do então vice-presidente do Barça, Sandro Rosell, que usou seus contatos da época em que trabalhava para a Nike no Brasil para convencer o Ronaldinho a ir para o Barça.”

(Trecho retirado do livro “A bola não entra por acaso” de Ferran de Soriano)

Por: Tiago Koyano