O São Paulo inicia nesta quinta-feira a era Dorival Júnior. O ex-técnico do Santos estreará no comando do time tricolor diante do lanterna Atlético-GO, no Morumbi, às 19h30 (de Brasília), pela 13ª rodada do Brasileiro. Para alguns, o duelo desta noite é a chance de a equipe iniciar a reação e deixar a penúltima colocação. Um dos que pensa assim é José Mário Campeiz, 55, que até a última segunda-feira era o preparador físico do clube.

Demitido no início da semana, ele não demonstrou qualquer mágoa da diretoria em entrevista ao ESPN.com.br. Viu a demissão em massa – saíram Michael Beale, Rogério Ceni, Pintado e Haroldo Lamounier (preparador de goleiros) – como algo cultural no futebol. E vê a presença na zona de rebaixamento como algo momentâneo.

“Se o time ganhar as próximas três partidas já estará brigando lá em cima. É só ver o Sport, que estava atrás da gente e já está lá em cima na tabela”, disse Campeiz, por telefone.

A sequência para ele tem de começar já nesta quinta-feira. Após o Atlético-GO, em casa, o São Paulo terá Chapecoense, fora, e Vasco, em casa, pelas 14ª e 15ª rodadas do Brasileiro.

A única mágoa que ficou para Campeiz foram as críticas em relação ao seu trabalho. Alguns torcedores e alguns conselheiros apontavam falhas na preparação física do time, citando muitos gols levados no segundo tempo lesões recorrentes…

“Uma das críticas é que a gente tomava muito gols no segundo tempo. Mas a gente também fazia muitos gols no segundo tempo. O time corria o jogo todo. Falar de lesões é irrelevante. Todos os times sofrem com isso, mas quiseram dar ênfase ao São Paulo”, minimizou o profissional.

ESPN – Passados poucos dias da demissão, como você está?
José Mário Campeiz – Eu ainda estou em São Paulo. Acabei de cuidar da parte burocrática da demissão. Nesta quarta-feira vou ao RH para assinar o resto dos documentos. O objetivo é voltar para a minha casa, em Florianópolis, encontrar a minha família. Lá, eu tenho um estúdio de treinamento funcional, pilates e dança. O objetivo é continuar a fazer a coordenação e aguardar uma proposta. Além de continuar estudando, aprimorando e me dedicando a melhorar na minha área até aparecer algum clube.

ESPN – No total, quanto tempo você ficou no São Paulo?
José Mário Campeiz – Se somar tudo, foram cinco anos. Primeiro fiquei dois anos e mais alguns meses. Fui contratado pelo presidente Juvenal [Juvêncio] quando o técnico era Adílson Batista [em 2011]. O treinador saiu, mas eu continuei na comissão técnica permanente. Saí do São Paulo após a demissão de Ney Franco e antes da chegada do Paulo Autuori [em 2013] Passaram-se dois meses e meio e eu voltei. A volta foi com o Muricy Ramalho. E fiquei até a última segunda.

ESPN – Como tem sido esses dias?
José Mário Campeiz – A gente fica chateado, é claro. Nunca espera sair de uma equipe como o São Paulo. É tão difícil chegar em um clube de alto nível como esse. Além disso, sair em um momento tão conturbado não é fácil. Queria continuar e ajudar a equipe a sair desse momento ruim. Era o objetivo. Mas são coisas do futebol. Fico chateado, mas ao mesmo tempo entendo que algumas mudanças são necessárias para a sequência.

ESPN – Como você foi comunicado da demissão?
José Mário Campeiz – Foi o Vinícius [Pinotti, diretor de futebol] quem me chamou, conversou e explicou. Quer dizer, não tem muito o que explicar numa situação como essa. Era uma decisão que já estava tomada. A gente aceita segue em frente. Do São Paulo eu não tenho nada a reclamar. É uma equipe fantástica, um clube fantástico. Sempre me acolheram bem. A gente lamenta muito sair nessas condições, com o time mal.

ESPN – Como avalia tantas mudanças em poucos dias. Além dos jogadores negociados, saíram Michael Beale (auxiliar técnico), Rogério Ceni (técnico), você, Haroldo Lamounier (preparador de goleiros) e agora o Pintado…
José Mário Campeiz – Eu fico mais chateado com algumas colocações feitas em relação ao meu trabalho, em relação à condição física dos atletas, ao número de lesões – colocaram que o índice era alto e não é verdade. Em todos os jogos, nosso time estava correndo. Os índices de GPS, o controle feito nos treinos, enfim, os índices sempre apresentaram números ideais. Uma das críticas é que a gente tomava muito gols no segundo tempo. Mas a gente também fazia muitos gols no segundo tempo. Quanto as lesões, sinceramente é irrelevante falar disso. No Brasileiro, a gente tem visto todos os times sofrendo com lesões, mas a ênfase foi dada ao São Paulo. Foram poucas lesões e as que ocorreram foram musculares. Eu acompanho o campeonato e todas as equipes tem a mesma dificuldade. Ninguém fala nada das outras equipes. Só se falava do São Paulo. Isso me chateou mais.

ESPN – De todo o período em que esteve no São Paulo, sentiu que as críticas agora foram mais diretas e…
José Mário Campeiz – É lógico. Eu joguei bola por 15 anos e sempre que a equipe não ia bem a culpa recaia no preparador físico. A gente entende o lado do torcedor falar, entende o lado dos conselheiros, apesar de ser política. Tem muita gente que quer estar aqui. Tem muitos interesses envolvidos. Eu sempre trabalhei. Sempre procurei estar atento a tudo. Dar o meu melhor. Analisar a performance com o resultado no jogo não é certo. Performance não é só preparação física. É tática, é técnica, é física. Torcedores são passionais e falam o que sentem. A gente respeita. Todas essas críticas servem para me motivar ainda mais, a continuar estudando e trabalhando.

ESPN – Na sua avaliação, por que o time caiu tanto e está neste momento ruim? As vendas atrapalharam?
José Mário Campeiz – A gente entende a necessidade de o clube vender um atleta ou outro. Isso é normal. Mas a gente sabe que precisa de tempo, padrão de jogo para as coisas darem certo. Quando tem muita mudança, isso não acontece. As vendas são necessárias e não nos metemos na parte financeira. Isso quem pode explicar é a direção. Mas quando altera muito, aí é fatal. Ao meu ver, o que nos prejudicou foram as duas eliminações na mesma semana. Saímos da Copa do Brasil e do Paulista. Isso abalou um pouco o grupo para a sequência. Eu entendo que o que o São Paulo está passando outras equipes vão passar. A partir do momento que o time começar uma reação e acho que pode ser nesta quinta, emendando três vitórias, por exemplo, as coisas vão melhorar. Essa queda atual é devida as mudanças. Só que não se pode dizer que é só isso. Geralmente são muitos fatores. O time está treinando, está correndo, está trabalhando. Agora vinham ocorrendo alguns individuais que realmente foram fatais…

ESPN – Você se refere aos erros nas próprias partidas?
José Mário Campeiz – Exato. Foram erros individuais fatais.

ESPN – Pensando assim, pode se dizer que faltou então paciência da diretoria?
José Mário Campeiz – Eu posso te dizer o seguinte, levando em conta minha experiência, futebol é resultado. Quando não tem resultado sempre vai acontecer essas mudanças na comissão, no cargo de técnico. Independente do que a gente acha, se é certo ou errado. Eu gostaria muito que tivessem deixado o Rogério. Ele estava procurando fazer o melhor. Mas tem outro lado que temos de ver. A pressão na diretoria… Imagino a dificuldade que é para quem toma as decisões. Não estava sendo fácil.

ESPN – Muitos torcedores já temem o pior, o rebaixamento. O que você acha?
José Mário Campeiz – Eu acho que o São Paulo tem chance de chegar nas primeiras colocações ainda. Não falo do título porque a realidade não permite. A diferença [para o líder] é muito grande. Mas o São Paulo tem time para ficar entre os seis primeiros. E eu confio muito que vai chegar. A zona de rebaixamento é coisa de momento. Se o time ganhar as próximas três partidas já estará brigando lá em cima. É só ver o Sport, que estava atrás da gente e já está lá em cima. Eu acho que assim vai ser até o final. É um campeonato muito equilibrado, com sobe e desce. O plantel que o São Paulo formou agora, com as novas contratações, a nova comissão técnica com profissionais experientes, vejo que a tendencia é a partir desta quinta dar um mudada grande e melhorar.

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