Sou são-paulino desde antes de nascer. Meu tio, Fernando Sátiro, defendeu as cores tricolores por anos, inclusive no jogo de inauguração do maior estádio particular do mundo, em 2 de outubro de 1960, na vitória por 1 a 0 frente ao Sporting.

Nasci em 13 de setembro de 1970, dia da partida final do campeonato paulista daquele ano, conquistado por nós, vitória por 1 a 0 diante o Corinthians. Com meu pai, desde moleque, aprendi a frequentar o Morumbi. Posteriormente, passei a ser um torcedor assíduo, sobretudo ao final da década de 1980 e começo dos anos 1990.

Minhas atividades profissionais, bem como certa preguiça e a violência dentro e fora do estádio me fizeram afastar dos gramados. Ainda assim, continuei sempre muito tricolor, com lampejos de torcida ao Vozão, o Ceará Sporting Club do meu avô Felipe. Jamais deixei de ser menos tricolor por isso. Mas creio que esteja mentindo um pouco.

Ao longo dos últimos anos publiquei 11 livros, alguns deles, sobre futebol, um mais especificamente sobre meu time, o Almanaque do São Paulo, em 2014, com o registro de todos os jogos da nossa história. Produção caseira, bancada com recursos próprios e que me deu muita satisfação. Em certo momento, Paulo Planet Buarque, um histórico nome tricolor, que fora amigo do meu tio Fernando Sátiro, me convidou para apresentar o meu livro para dirigentes tricolores.

O que vi desde então, foi algo asqueroso. Pessoas de dentro do clube tentaram boicotar a comercialização do meu livro, ainda que sequer o distintivo do clube tenha utilizado. De vários níveis hierárquios, desde de pesquisadores de dentro do clube até de alguns nomes famosas ligados ao clube sempre recebi palavras desestimuladoras. Para publicar nova edição do livro, por exemplo, teria que bancar a publicação, doar um elevado % de edições para o clube e ainda dar um % do valor de venda do livro. Condições que, após pude verificar, jamais foram ofertadas para qualquer autor, talvez com outro tipo de relação com o clube. Jamais pedi coisa alguma, não cabia sequer tais ofertas.

Mas por que estou dizendo isso?

Por um único motivo, o meu time do coração continua sendo o tricolor, aquelas pessoas que me sentiram sentir nojo sempre que entrava no estádio para falar com as equipes pertencentes às áreas administrativas, passaram, alguns ainda passarão, mas o clube ficará e para sempre no meu coração. Quanto mais dentro do clube, mais conhecedor das coisas que acontecem, notei que menos tricolor poderia me tornar.

Por conta disso, me afastei plenamente de todo e qualquer envolvimento não apenas do meu clube como de qualquer outro. Há muito mais podridão do que se pode imaginar, quase que uma epidemia, uma vez que está presente na grande maioria dos clubes.

Um exemplo?

Interessante notar a forma como parte da imprensa está comentando o caso da demissão de Rogério Ceni. Os mesmos que criticaram sua contratação por conta de sua inexperiência, contestaram sua saída, como se estivessem afirmando que a diretoria tricolor devesse persistir no erro.

Não creio, no entanto, que chegue a ser puro equívoco na análise, mas em um cenário em que jornalistas prestam serviços remunerados para certos clubes e se enervam descontroladamente quando alguém faz este tipo de comentário, impossível não achar que existam outros tipos de interesse no caso.

Quanto a multa, Ceni está plenamente no direito de recebe la, o que não fará dele menos são-paulino. Ou será que se algum clube deixar de contratar os serviços de jornalistas que comentam seus jogos, estes deixarão de torcer para estas equipes?

Por isso, vamos em frente tricolor, ser torcedor de arquibancada ou televisão é o mais salutar.

José Renato Santiago