O técnico Rogério Ceni tem razão quando observa que o São Paulo errou além da conta no clássico contra o Corinthians – e que, por isso, perdeu o jogo por 3 a 2. Mas é preciso observar que tipo de falha levou ao insucesso. Vamos aos lances capitais – os gols sofridos:

O primeiro, de Romero: a bola parte da defesa e chega até Marquinhos Gabriel na direita. O meia avança com liberdade, sem ser pressionado, e então lança em direção à área. No momento do passe, Cícero só cerca – e uma linha de seis jogadores protege a área, dois deles cuidando de Jô. Do outro lado, Romero se desvencilha com muita facilidade de Marcinho, que parece tentar uma linha de impedimento. Os demais atletas ficam parados. Romero domina, dribla Renan e faz o gol. Lance com erros de ação dos atletas, mas sobretudo de posicionamento coletivo.

O segundo, de Gabriel : Maicon tem a bola dominada, com tempo para pensar, e tenta um passe totalmente sem sentido, bloqueado por Jô. Romero dá sequência na jogada, e o centroavante vence o próprio Maicon na corrida para mandar o chute, bem defendido por Renan. No rebote, Lucão parece não se entender com o próprio corpo. Desequilibrado, não encontra a bola, que sobra para Gabriel fazer o gol.Lance de pura carência técnica dos atletas são-paulinos.

O terceiro, de Jadson: Romero tem a bola, e a marcação do São Paulo é tímida. O paraguaio primeiro tabela com Jadson e depois troca passes rápidos e curtos com Jô, que acaba derrubado por Douglas. Jadson bate o pênalti e marca. Lance de supremacia coletiva do Corinthians sobre o São Paulo, complementado por derrota individual de Douglas na marcação sobre Jô.

O São Paulo, portanto, perdeu por erros, mas não apenas erros individuais – que ocorreram em profusão, realmente. A principal explicação para a derrota está na maturidade tática das duas equipes. O Corinthians está bastante avançado em relação ao São Paulo: certamente por méritos de Fábio Carille, mas não necessariamente por culpa de Rogério Ceni, que pena com um elenco órfão de qualidade e quantidade.

Neste domingo, Ceni surpreendeu na armação de sua equipe. Colocou Douglas na zaga, para aumentar o cerco a Jô, deixou Militão no meio, ao lado de Jucilei e Cícero, e com Marcinho e Júnior Tavares nas alas, e apostou em Gilberto ao lado de Pratto na frente. Algumas medidas deram certo – Jô efetivamente foi bem cercado enquanto esse sistema se manteve, e Gilberto fez o gol. Mas os primeiros 15 minutos foram apavorantes.

Nesse período, o Corinthians fez o gol e chegou a ter 74% de posse. O São Paulo não viu a bola. A defesa esteve desnorteada. Mas aí, aos 17 minutos, Júnior Tavares mandou na cabeça de Gilberto, que fez o gol. O time tricolor melhorou, se assentou em campo e passou a equilibrar a partida.

E assim seguiu até os 40 minutos, quando Maicon errou feio e originou o segundo gol do Corinthians. Ruía, ali, a proposta de jogo de Ceni. Para o segundo tempo, ele teve que modificar a forma de jogar (a fim de tentar o empate): sacou um zagueiro, Lucão, colocou o lateral-direito Bruno e mandou Marcinho para a ponta direita. Abriu o time, e contra o Corinthians isso era um perigo danado: era um adversário de contra-ataque fatal.

 Mas o São Paulo se comportou relativamente bem. Gilberto teve duas conclusões perigosas. Marcinho se apresentou como boa alternativa ofensiva. O time ficou mais fluido, mais espontâneo – tanto antes quanto depois do gol de Jadson. Ainda chegou ao segundo gol com Wellington Nem, que entrou no lugar de Cícero.
Depois do jogo, Rogério Ceni lembrou que sua equipe tinha a defesa menos vazada do campeonato até esta rodada – justificando, assim, os três zagueiros. Verdade, assim como era verdade a fragilidade defensiva da equipe nos primeiros meses da temporada – de fracassos no Paulista, na Copa do Brasil e na Sul-Americana. Os três zagueiros foram justamente uma tentativa de Ceni para corrigir um rumo errado: de um time que tentava ser ofensivo sem ter estrutura mínima para isso.

Reforçar a defesa foi um acerto de Ceni. Mas a dúvida é se os três zagueiros são o melhor caminho para isso – sobretudo quando, no meio, estão jogadores defensivos como Militão, Jucilei e Cícero, como aconteceu contra o Corinthians, quando Ceni não tinha Cueva e Maicosuel – mas poderia ter apostado em Thomaz.

A formação tática tem a tiracolo um problema colateral: Marcinho como ala. Sua falha no gol de Romero e seu evidente crescimento quando alçado ao ataque são o sinal de que isso pode ser repensado. É mais uma das dúvidas que o São Paulo, já no meio de 2017, ainda coleciona.

GE