O anúncio da diretoria do São Paulo de que Rogério Ceni seria seu novo treinador, no fim de 2016, causou imensa repercussão. Muitas opiniões favoráveis, outras nem tanto, o fato é que um dos maiores ídolos da história do clube seria o responsável pela equipe.

Após um início de certa forma empolgante, vieram alguns resultados negativos e uma queda na qualidade do futebol apresentado. Alguns problemas de relacionamento (como no episódio do cartão de Jô, do Corinthians, retirado após ato de honestidade de Rodrigo Caio e na famosa prancheta que acertou Cícero) também apareceram, mas a diretoria, a princípio, mantém a confiança em seu técnico.

O ponto, no entanto, passa a ser a imagem de Rogério junto à torcida são-paulina. Como jogador, o ex-goleiro é quase unanimidade, já como técnico, começa a entrar em um cenário perigoso (independentemente dos resultados), podendo até por em risco sua imagem de ídolo incontestável.

Na última segunda-feira (22/5), logo após a vitória por 2 a 0 contra o Avaí no Morumbi, no programa Bem Amigos!, da Sportv, o técnico disparou contra a imprensa e foi, no mínimo, deselegante com o zagueiro Rodrigo Caio e com o técnico da Seleção Brasileira, Tite.

Ao lado de seu zagueiro e ao vivo para todo o País, Rogério Ceni discordou da atitude de Rodrigo no fatídico jogo contra o Corinthians. “Perguntei se ele sabia que Jô estaria suspenso com aquele cartão”, disse o treinador. Ora, Rogério, na mesma entrevista você disse que pede para seus jogadores falarem a verdade. Rodrigo Caio não apenas disse, como praticou a verdade em um momento em que muitos não o fariam. E quanto à ética e a verdade, Rogério, não deveria haver meio termo.

E sobre Tite, Rogério disparou. “Eu convocaria o Rodrigo Caio não pelo ato (do famoso cartão no clássico), mas por seu futebol. Daqui a pouco todos que admitirem algo igual deverão ser convocado também”. Rogério,vale lembrar, Rodrigo Caio já foi chamado em outras ocasiões pelo mesmo Tite.

Esse tipo de atitude (pouco ou nada repercutido pela diretoria do clube, o que demonstra certa exacerbação no “poder” de Rogério) apenas contribui para comprometer a idolatria de muitos torcedores nutrem pelo ex-goleiro, mas que talvez não nutram pelo técnico.

Cabe ressaltar que Rogério Ceni não é reverenciado por ser mais “esperto” e “malandro”. Enquanto atleta, seu comportamento sempre foi exemplar, com dedicação e aplicação ao trabalho, o que acabou por ser recompensado com títulos e um justo reconhecimento da torcida. Resumindo, o ídolo tricolor não precisa destas polêmicas para absolutamente nada.

Enfim, o trabalho de Rogério como técnico pode ter sucesso ou não, até porque sabemos que, no futebol brasileiro, sem os resultados esperados, o restante do trabalho quase nunca é considerado. O grande problema, neste caso, é como o treinador tem tratado sua imagem, principalmente junto a aqueles que o tem como ídolo.

Concedendo longas entrevistas após todos os jogos e uma vez por semana no CT, Rogério está demonstrando mais o que pensa, quais são seus conceitos e não estamos falando apenas de futebol.

O ex-dono da camisa 01 é um influenciador e, neste papel, precisa repensar alguns pontos para, quando sair do clube, não estar menor do que quando encerrou sua carreira de atleta. A imagem de um ídolo não pode ser tratada com desdém, apesar, claro, de tratarmos aqui de cargos absolutamente diferentes. Se Ceni se segurou até aqui por conta de seu “tamanho” junto ao São Paulo, então é impossível simplesmente desvincular a história do ídolo atleta com o treinador iniciante.

E você, fã do esporte, o que tem achado da postura de Rogério Ceni como treinador?

Fernando A. Fleury