Gestão Esportiva – É possível fazer boa gestão sem muito dinheiro!

Nas últimas décadas, mais precisamente, depois que um carismático garoto dentuço que utilizava a 9 e foi o primeiro fenômeno de marketing de futebol no mundo, um tsunami de dinheiro invadiu o futebol mundial. Não que não existisse muita grana antes mas os valores cresceram de forma exorbitante. Para efeito de comparação o novo contrato de TV da Premier League é 70% maior do que o anterior.

Com essa entrada massiva de dinheiro, criou-se na cabeça do torcedor a ilusão de que apenas com receitas gigantescas é possível realizar uma boa administração e criar times competitivos que se tornam campeões. Já faz alguns anos que torcedores sonham com a compra dos seus times por um milionário aleatório de origem desconhecida pra que possam montar um super time ou a entrada de um patrocinador que banque contratações, coloque seu nome no estádio e inflem as receitas do time.

Não há problema nos raciocínios acima. Eles estão, em certa medida, corretos. Se pegarmos o exemplo do Palmeiras, a entrada de um patrocinador com muito dinheiro e muita vontade de gastá-lo possibilitou a montagem de um time forte, capaz de chegar a fases avançadas de competições e até ganha-las o que gera mais receita, enche mais estádio, atrai a atenção de mais patrocinadores, etc.

O problema é entender que boa gestão não depende de muito dinheiro em caixa, mas sim, do bom uso do dinheiro que se tem. Para evidenciar este ponto irei utilizar dois exemplos de sucesso com receitas pequenas em relação aos seus concorrentes e que atingiram nos últimos anos êxito esportivo e financeiro.

Association Sportive de Monaco Football Club

OK, o time do principado pertence ao bilionário russo Rybolovlev que comprou o time na segunda divisão francesa e enfiou um caminhão de dinheiro no time contratando diversas estrelas internacionais. Mas um fato interessante e totalmente extra-campo afetou esta política e colocou o Mônaco em outra forma de gestão e, curiosamente, em um patamar mais alto.

Rybolovlev se separou de sua esposa num divórcio multi-milionário e fechou a torneira da grana. Ao mesmo tempo a direção do Mônaco decidiu se adequar as regras de fair play financeiro da UEFA, vendeu jogadores contratados a valores astronômicos, pagou uma multa por isso e começou a se adequar a sua nova realidade.

E qual a realidade do Mônaco?

Um time com uma torcida minúscula que não é capaz de encher o próprio estádio que tem capacidade para 15 mil torcedores. Para ter uma noção, na última temporada 2015/2016 a receita de bilheteria do Mônaco foi de 3,6 milhões de euros. Utilize o câmbio que quiser para ver que esta receita é MUITO pequena até mesmo para um time que disputa o Campeonato Brasileiro.

A receita total operacional do Mônaco é inferior ao declarado por Flamengo e Palmeiras na última temporada, atingindo um valor de R$ 265 milhões.  Esta receita é composta basicamente de:

– Broadcasting – € 45,0 Milhões

– Marketing – € 15,0 Milhões

– Matchday – € 3,6 Milhões

 

Esta é a receita do time que venceu o campeonato Francês com antecedência e chegou as semis da Liga dos Campeões. Com um time recheado de promessas contratadas por valores bem menores do que as estrelas de nível mundial de Real Madrid, Juventus e Atlético de Madrid, o Mônaco se enfiou no meio destes quatro e se destaca, não apenas pelos resultados em campo, mas pelo futebol bonito e ofensivo praticado.

Chapecoense

Não é surpresa mais. Falar da boa gestão do time de Chapecó parece redundante, mas isso fica ainda mais evidente quando comparamos com os times com que a Chapecoense compete. Sem patrocinador multimilionário, sem verba de TV absurda, sem proprietário lavando dinheiro no clube.

Peguei o balanço da Chapecoense do ano de 2015. Neste ano a receita total do time foi de R$ 46,5 milhões. Para efeito de comparação, a receita do SP no mesmo ano foi de R$ 330 milhões.

O time de Chapecó terminou o brasileiro em 14º lugar sendo que foi o time de menor receita entre os 20 disputando o campeonato.

Finalizou o ano com Superávit de 2,8 milhões. Enquanto o SPFC fechou o ano com déficit de 72,5 milhões. O SPFC acabaria este campeonato em 4º lugar.

A Chapecoense não faz vendas gigantescas como a de Lucas pelo SPFC para inflar seus orçamentos, não contrata craques de importância nacional para alcançar fases mais avançadas de campeonatos e, mesmo assim, está se mantendo na elite do futebol brasileiro desde 2013. Com sinais claros de evolução que culminaram na final da Copa Sulamericana no ano passado e a disputa da libertadores em 2017. A chapecoense também terminou o campeonato brasileiro em 11º lugar com a mesma pontuação que o SPFC que ficou em décimo.

Para finalizar, utilizo a frase do Emerson Gonçalves do blog Olhar Crônico esportivo:

“Gestão de qualidade se faz com inteligência e determinação, mais do que com dinheiro”.

Tiago Koyano