Quando vejo o futebol olímpico não há como deixar de lembrar um dos maiores craques da história do tricolor, Roberto Dias.

As Olímpiadas de 1960, em Roma, marcaram a estreia de Dias na seleção brasileira.

Sua idade? 17 anos

Ao seu lado, formando o meio campo, outro monstro, que anos depois também faria história em nosso time, Gérson.

Naquela edição olímpica, o Brasil acabou não passando de fase, uma vez que perdeu a liderança de seu grupo para a seleção da casa.Na partida contra os italianos, nossa seleção vencia por 1 a 0 até os 25´do segundo tempo, e jogava pelo empate para conquistar a vaga.

Pois bem, os italianos marcaram três gols e nos eliminaram.

Poucos dias antes frente o selecionado de Taiwan, nossos craques tricolores marcaram os cinco gols da goleada brasileira, três de Gerson e dois de Roberto Dias.

Falar sobre Roberto Dias é algo que teve ser motivo de orgulho para qualquer torcedor.

Dias foi o líder de um São Paulo que ficou marcado para a história não pela conquista de títulos, uma vez que a prioridade de nosso clube era construir o maior estádio particular do mundo.

Um jogador que, embora tenha sido bicampeão paulista, em uma época em que o estadual era um campeonato de grande relevância, acabou entrando para a história do nosso time, não por estes títulos, mas sim pela dignidade, liderança e por jogar muita, mas muita bola.

Dias faleceu em 26 de setembro de 2007 e nada como ler um texto autobiográfico dele para entender um pouco mais sua importância na história da equipe brasileira mais vencedora de todos os tempos.

Eis o texto de Roberto Dias, publicado na revista Lance Série Grandes Clubes em 1999.

Quando eu era moleque gostava muito de jogar bola. Não tinha um time do coração na época. Era apenas mais um torcedor de futebol. Como morava no Canindé, onde ficava o estádio do São Paulo, sempre tive uma tendência para ser tricolor. 

Com 16 anos, um amigo meu, o Valdico, me levou para o clube para que eu fizesse um teste do amador do São Paulo. Fui lá, passei e logo entrei na equipe infantil. Começa aí a minha trajetória são-paulina, em 1959.

No ano seguinte, fui para o juvenil e também, repentinamente, para a Olimpíada de Roma, em 1960, como jogador da Seleção Brasileira, junto com Gérson e outros. Fomos eliminados, mas, quando voltei, subi para o time profissional do São Paulo, com apenas 17 anos.

A partir daí me identifiquei muito com o time, com a torcida, e fui criado em uma enorme paixão pelo São Paulo. Nunca tive vontade de sair ou de deixar o clube. Tinha orgulho de jogar lá. Antigamente, os jogadores tinham que forçar a saída para se transferir a outra equipe. Eu nunca fiz isso. Gostava de tudo no meu tempo de jogador. Até o salário: eu aceitava sempre o que os dirigentes me ofereciam.

Titular, tanto como volante ou como zagueiro, eu cheguei ao auge da minha carreira em 1970, quando pude participar da conquista do título paulista, justamente o que quebrou um jejum de 13 anos.

Em 1971, tive um problema cardíaco e fiquei afastado por dois anos do futebol. Na minha volta, em 1973, ainda joguei mais um ano no São Paulo. Com 30 anos, o clube me deu passe livre.

 Fui então para o México, onde joguei por três anos no Jalisco, de Guadalajara. Lá, fui treinado por Mauro Ramos de Oliveira, ex-zagueiro do São Paulo e grande amigo meu.

Em 1977 encerrei minha carreira de jogador e me tornei um típico são-paulino. Passei a acompanhar quase todos os jogos do time, na maioria das vezes pela TV ou pelo rádio.

Esporadicamente vou ao estádio acompanhar o time. Gosto mais de ficar torcendo em casa. Mesmo assim, me considero um são–paulino fanático e que nunca vai largar esta paixão.

Em 1987, um médico, amigo meu me indicou ao São Paulo para que eu trabalhasse lá. O clube, na hora, me convidou, e desde então eu convivo diariamente no Morumbi, dando aulas para filhos de sócios na escolinha de futebol do São Paulo.

…. será que é necessário exigir muito de qualquer jogador que atua em nosso tricolor?

José Renato Santiago