O São Paulo aprovou um novo estatuto no fim de 2016. Entre as principais mudanças do texto estava a criação de uma diretoria executiva profissional, que ocuparia um espaço historicamente reservado a cartolas estatutários tirados do Conselho Deliberativo do clube. A nova regra previa dirigentes contratados do mercado e, portanto, alheios ao ambiente político do clube . Um mês depois da eleição de Carlos Augusto de Barros a Silva, no entanto, o novo documento produz pouco efeito prático: quatro dos cinco diretores executivos apontados por ele são conselheiros ou ocuparam cargos em gestões anteriores.

O futebol foi entregue a Vinicius Pinotti, que ganhou espaço no clube depois de uma bem avaliada gestão como diretor de marketing. O trabalho será o primeiro do executivo no departamento de futebol de um clube. Além de comandar o marketing no mandato anterior de Leco, ele também ocupou cargo na gestão de Carlos Miguel Aidar, após emprestar dinheiro para a contratação de Ricardo Centurión.

Elias Barquete Albarello, diretor executivo de finanças, é especialista na área, mas também é conselheiro e já foi vice-presidente, com Leco, e diretor de estádio, com Aidar. É ligado ao vice-presidente Roberto Natel: no ano passado, quando Natel rompeu com Leco, Albarello entregou seu cargo. Com a reconciliação entre os dois e Natel como vice novamente, Albarello volta a ocupar uma diretoria, desta vez na sua especialidade.

Rodrigo Gaspar, diretor executivo administrativo, é aliado de Leco há anos, conselheiro, e ocupava na última gestão o cargo de assessor da presidência. Gaspar se envolveu em polêmica no ano passado ao chamar Rodrigo Caio de “jogador de condominio” nas redes sociais, mas se retratou depois.

Na prática, é difícil encontrar diferença entre a nova diretoria executiva e as diretorias formadas por cartolas nas gestões anteriores do clube além da remuneração. Como em outras administrações, pessoas ligadas à política do clube são encaixadas em funções consideradas estratégicas, assim sujeitas a uma gestão menos “técnica” do que se poderia esperar. O caso atual, a despeito da orientação do estatuto, é reflexo de uma eleição apertada do ambiente conturbado do São Paulo, que exige certa acomodação das forças dos bastidores nas cadeiras disponíveis.

O estatuto não proíbe a contratação de membro do Conselho ou ex-cartolas, dizendo apenas que os diretores têm de ser “profissionais que tenham notório conhecimento em suas respectivas áreas de atuação”. Quando submeteu o novo estatuto a aprovação de sócios e conselheiros, porém, a diretoria são-paulina foi clara na ideia que queria passar: em textos publicado em diversos meios, falou em “profissionais, contratados no mercado, que tenham notório conhecimento em suas áreas de atuação, remunerados e com dedicação exclusiva ao clube”

Na época, o discurso tentava desvincular a administração da parte política do clube, com diretores que não ficassem sujeitos às mudanças das gestões e capazes de gerir o clube de forma exclusivamente técnica. Na prática, quase todos os nomes escolhidos têm história e posicionamento na política são-paulina, e alguns nem possuem notório conhecimento em seus cargos.

O São Paulo nomeou cinco de um máximo de nove diretores remunerados. Embora não possibilidade de novas indicações, não está certo que Leco vai aumentar o grupo. De qualquer forma, qualquer nome deve ser aprovado pelo Conselho de Administração.

UOL