carma

Há quem apoie, há quem o peça fora o mais rápido possível, há os que não aguentam mais falar disso…

Não tem como não falar de Rogério Ceni.

Quero fazer aqui um comparativo entre o Ceni goleiro e o Rogério treinador. Explico:

Ceni sempre foi um jogador polêmico, vencedor e exigente com seus comandantes.

Se Ceni exigiu tanto dos técnicos enquanto jogador, cobrando mudanças de postura e atitudes, muitas vezes publicamente, agora Rogério tem que suportar, saber lidar, reagir, passar por cima e transformar o péssimo momento e a desilusão da torcida novamente em esperança.

Talvez esse seja o carma de Rogério.

Em toda sua carreira, sempre houveram boatos de suas preferências por alguns treinadores que trabalhou e seu total desprezo por outros.

Nunca houve nenhuma dúvida quanto à admiração recíproca de Ceni pelos treinadores Telê, Muricy, Autuori e Osório.

Também nunca duvidamos de seu péssimo relacionamento com Cuca, Parreira, Leão, Carpegiani, Ney Franco…

Ceni enquanto jogador, pelo status que conquistou na equipe, em alguns momentos, deu entrevistas deixando evidente sua insatisfação:

Pois bem.

Rogério nunca passou imune aos treinadores que passaram pelo São Paulo enquanto jogador. Era amor ou terror.

Parafraseando Major Rocha do Tropa de Elite, quando era no amor, havia cumplicidade e desejo de aprendizagem.

Quando era no terror, a insatisfação era nítida. Talvez, no seu interior, Ceni pensasse que, se estivesse no lugar de seu chefe, faria melhor.

Na maioria das vezes, eu acredito que ele tinha razão.

Quem de nós nunca pensou assim de seu chefe em determinadas atitudes?

Agora que a pedra vira vidraça, o comandado passou a ser comandante, também é necessário aguentar o carma.

Carma, na religião hindu e budista, segundo o dicionário Michaelis:

“Princípio que rege a filosofia religiosa oriental, no budismo e no hinduísmo, segundo o qual o destino do ser humano é determinado pelo conjunto de suas ações em vidas anteriores. As boas atitudes podem gerar carma positivo e as más podem resultar em carma negativo.”

Rogério talvez não tenha se preparado tanto quanto necessário. Nem para o cargo e nem para o carma.

Talvez não tenha separado a gigantesca influência que tinha no vestiário enquanto jogador da inicial influência que tem hoje como treinador.

Talvez tenha como convicção exaltar os pontos positivos na derrota, ao invés de assumir erros e deficiências publicamente, o contrário do que normalmente fazia como jogador. Incentivar seus comandados é uma linha de comando positiva em qualquer empresa.

O problema é quando as ações da chefia para melhora de desempenho de qualquer equipe são apenas os elogios públicos combinados com cobranças internas (se houverem).

Ceni goleiro comandava o vestiário com a ajuda do treinador. Rogério carece de um Ceni no elenco para ter o comando da equipe.

Talvez seja a tal arrogância atribuída a ele.

Talvez seja, como dizem aqui no interior, a “farta de carma” dessa torcida.

Talvez seja apenas seu carma.

Seja o que for, que tenhamos calma.

Que Rogério tenha a condição de fazer uma análise sem paixões de seu trabalho, que se perceber que há a necessidade de aprimorar sua filosofia, que pense em uma retirada, sem maiores manchas em sua imagem vencedora.

Também torço para que, se Rogério tem tanta confiança em seu trabalho, que esse episódio da prancheta sirva para unir o elenco contra o que vem de fora, que o blinde e que fortaleça seus comandados.

Que retomem a confiança.

Desde Papai Joel uma prancheta não causa tanta polêmica em um clube.

A prancheta, que era um quadro, que quicou no rosto e depois apenas resvalou no pé, mostram o quanto o São Paulo carece, e não é de hoje, de uma frente de trabalho para melhora da imagem.

Não é possível que ninguém dentro do clube pudesse evitar esse transtorno, bem na semana que anuncia um novo patrocinador.

Uma prancheta ofuscou a notícia de dinheiro entrando para o clube.

Minha modesta opinião, que não vale nada, Ceni ainda não desvinculou a influência que tinha enquanto jogador.

Enquanto jogador, ele dependia apenas dele para mostrar a eficácia de seu trabalho. A posição de goleiro proporciona isso.

Mesmo que a equipe perdesse, gols de falta e boas atuações no gol o isolavam das críticas ferozes ao time.

Um bom goleiro, em uma equipe péssima, sempre será um bom goleiro.

Agora ele precisa unir a equipe. O resultado de seu trabalho depende de pelo menos mais 30 pessoas.

Que ele precisa, urgentemente, que estejam 100% fechados com ele, que acreditem em seu trabalho.

Rogério, na minha mais ignóbil opinião, pecou ao mudar tão drasticamente a forma da equipe jogar. No começo do ano, a formação da equipe, a forma ofensiva de jogar, o pensamento pra frente era um, hoje, três volantes contra o Defensa y Justicia não tem explicação.

Se a motivação para a mudança tão grande são as lesões, peca Rogério em defender o departamento médico. Lealdade a amigos não pode ficar sobreposta à eficiência no trabalho.

Se a mudança foi perda de jogadores, todas as saídas foram avalizadas por ele, vide caso Luis Araújo que não foi vendido.

Se a mudança foi a perda da convicção no estilo de jogo, aí complica.

Esse estilo atual não está funcionando. Com as peças que temos, tenho gigantescas dúvidas que vai funcionar algum dia.

Torço para que Rogério seja menos Ceni no comando.

Que realmente consiga implantar uma filosofia vencedora, que una o grupo, que consiga nos levar de volta ao caminho do jogo bem jogado, porque as vitórias serão as consequências inexoráveis dessa equação.

Que o clube saiba lidar melhor com episódios como esse da prancheta, antes que tenhamos hoax como:

– Talvez, isso explique a razão de um importante jogador do São Paulo ter declarado a seguinte frase: “Se as pessoas soubessem o que aconteceu no vestiário entre Rogério e Cícero, ficariam enojadas”…

Não se permite zoar de uma instituição tão grande sem fazer nada. É inadmissível aceitar a imprensa soltar tanta coisa ruim sobre o São Paulo.

Não há um trabalho de bastidores na mídia e nem na CBF.

Ao contrário, vemos rivais que saíram do mais absoluto limbo, terem seus dias de glória.

É necessário um resgate urgente da imagem do São Paulo Futebol Clube.

No mais, bola pra frente, se briga em vestiário fizesse a equipe perder em campo, o Palmeiras não teria sido campeão brasileiro ano passado, tendo em vista a briga de Cuca e Rafael Marques.

Quanto a Rogério, torço para que ele e o São Paulo tomem as melhores decisões possíveis, pensando no clube e não apenas em seus egos.

Ninguém é maior que o São Paulo!

 

Por Cleiton