Algo que eu gosto bastante de fazer é acompanhar os comentários dos torcedores tanto aqui no blog como nas redes sociais, para ter um termômetro de como anda a percepção geral a respeito do time. Foi assim que percebi que no começo de 2017 tudo era otimismo com a contratação do técnico Rogério Ceni, que como um Messias iria levar o São Paulo de volta a sua grandeza. Otimismo que se reverteu completamente com as eliminações no Paulista e na Copa do Brasil. Agora tudo o que Ceni faz e fez ao frente do time é errado, e tudo o que acontece no São Paulo é trágico. Confesso que acho muito engraçado estas variações de humor do torcedor. Lógico que como são paulino eu não estou nada feliz com as eliminações nem com a falta de títulos, mas minha constatação é que a maioria dos torcedores deseja algo que nunca aconteceu: que o time ganhe, aliás não só ganhe, mas que jogue bem em todas as partidas e dê a certeza de que será campeão. “Tinha que jogar que nem o time do Telê” e “Saudades do time de 2005” são comentários recorrentes.
Acompanhando tudo a respeito do São Paulo desde 1991, e tendo sido brindado com uma bela memória, posso afirmar com certeza: todos os times campeões do SPFC neste período foram muito cornetados. E só viraram motivos de exaltação dos torcedores depois que conquistaram títulos.
Mas o time de Telê não era absoluto? Pois em 1992, ele perdeu 5 jogos seguidos, incluindo um 4 a 0 tomado do Palmeiras (Ceni perdeu só de 3…). Houve ruídos de possibilidade de demissão do técnico. No Brasileiro daquele ano a classificação para a segunda fase foi difícil, lembro que os comentaristas diziam que aquele time era “bem pior que o do ano anterior”. Na última rodada da segunda fase, bastava ganhar do Vasco (que já estava eliminado) para ir a final com o Botafogo, mas o Tricolor tomou um sonoro 3 a 0. Depois que ganhou a Libertadores daquele ano aí sim aquele time encheu-se de confiança e se consolidou como um dos melhores de todos os tempos, sendo daqueles que eu vi o que mais perto chegou deste “absolutismo” que os torcedores tanto desejam.
Ah, outra coisa que percebo nos comentários: os torcedores só querem reforços de peso, já consagrados. Pois aquele time era repleto de jogadores que eram desconhecidos até chegarem ao São Paulo, vindo de times considerados pequenos: Palhinha, Ronaldo Luís, Adilson, Ronaldão…arrisco dizer que o único que tinha chegado ao São Paulo já consagrado era Muller, que retornou depois de passar pela Itália (depois da Libertadores veio Cerezo).
Passada a era Telê, veio uma ressaca bem forte. Penso na reação dos torcedores mais jovens, que hoje cobram que a classificação para a Libertadores no Brasileirão é uma obrigação por serem SEIS times, se passassem pelos anos de 1995 a 1998, quatro anos seguidos em que não nos classificamos nem para as fases de mata-mata. Detalhe: classificavam-se OITO times. E o Tricolor não conseguiu ficar nem entre os DEZ primeiros em nenhum destes anos, enquanto até Santos (num jejum bravo de títulos) e Portuguesa chegavam nas finais. Os reforços eram do nível de Sorlei, Sandoval e Lima. Ah se houvesse redes sociais…..
Aí em 2000 fomos campeões paulistas. Os torcedores de hoje vêem que aquele time tinha França, Edmilson, Marcelinho Paraíba, Belleti, Raí e dizem “nossa, aquele time era uma máquina”. Pois na época ninguém dava nada por ele, até as semifinais em que eliminamos o Corinthians. Antes disto, França era “pipoqueiro”, Raí era “velho”, Belleti era “grosso” e Edmilson, ah, este aí sofreu o diabo nas mãos da torcida. Típico caso de jogador que só virou “ídolo” depois que saiu do clube. Antes disto, teve Dodô, hoje celebrado como “artilheiro dos gols bonitos” mas que foi tão perseguido pela sua “falta de comprometimento” que após marcar um gol mandou uma banana para as arquibancadas do Morumbi (uma espécie de precursor do Michel Bastos).
Outro dia vi alguém comentando “Rodrigo Caio é zagueiro de condomínio, zagueiro bom era o Fabão”. Convido-os a imaginar que o São Paulo hoje contratasse Thiago Heleno, do Atlético-PR. “Lixo”, “Só joga em time pequeno”. Pois bem, era exatamente isto que se falava quando Fabão foi contratado junto ao Goiás. “Saudades do time de 2005, Luizão jogava muito”. Lembro de um torcedor no LANCE!, um dia após a contratação de Luizão, falando que “a contratação de um jogador em fim de carreira mostrava como o São Paulo estava se apequenando”. Era compreensível, vendo o Corinthians em tempos de MSI trazendo Tevez e Nilmar, enquanto nossas contratações eram Luizão, Mineiro, Josué, e grande parte dos jogadores como Danilo, Grafite e Cicinho já estavam em 2004, quando não ganhamos absolutamente nada. A torcida estava muito desconfiada. Deu no que deu.
A história mostra meus amigos, que nunca conseguiremos saber quando um time vai dar liga, quando um reforço vai vingar. É certo que a carência que vivemos diminui muito a nossa paciência, as decepções vão se acumulando ano após ano. Mas devemos ter muito cuidado para não detonar completamente um trabalho que ainda está no começo. Aguardemos o que vêm por aí no resto do ano. Será que no futuro os comentários serão “que saudades do time do Ceni”? Tomara que sim!
Abraços,
Rodrigo Leontino