O São Paulo foi eliminado no paulista após empatar em 1×1 e não conseguir reverter a desvantagem de dois gols no Morumbi. Essa eliminação deve ser atribuída ao elenco curto, resultando num grande desgaste físico, lesões e consequentes improvisos. Importante notar que isso aconteceu mesmo com um grande rodízio e com a integração de vários jogadores da base. Estando eliminados da Copa do Brasil e do Paulista, só voltaremos a jogar 11/05 pela Sulamericana.

Em entrevistas recentes, Rogério falou sobre a necessidade de diminuir o elenco dos atuais 34 jogadores para 29, para que possa dar mais atenção ao elenco. Essa diminuição seria justificada pelo calendário menor: caso o São Paulo chegue até a final da Sulamericana, terá um jogo a cada 4,8 dias, o que é muito menos do que os dois jogos semanais durante o Paulista e Copa do Brasil

Com o intervalo até o jogo de volta contra o Defensa y Justicia, serão recuperados jogadores lesionados e poderão ser feitos trabalhos e ajustes táticos. Nesse momento também que o São Paulo deve fazer os últimos ajustes no elenco, incluindo dispensas e talvez novas contratações. A esperança, passado esse tempo, é que o São Paulo volte jogando bem e preparado para enfrentar o Brasileiro.

Tendo em vista a situação pela qual o time passa, com uma nova pré-temporada (forçada, mas que pode ser importante), o blog decidiu fazer uma análise sobre a situação tática, o elenco e quais podem ser as ambições no resto do ano. Veja a seguir:

SISTEMA TÁTICO

O São Paulo jogou esse ano principalmente no 4-3-3, mas em alguns momentos jogou com três zagueiros. Essa alternativa tática é muito interessante por permitir variações para reagir a determinadas circunstâncias do jogo. Também, o técnico pode decidir que alguns adversários exigem um determinado sistema e o fato de já ter treinado permite uma fácil adaptação.

Rogério Ceni, no entanto, quando perguntado numa coletiva recente, falou que não trabalharará com três zagueiros. Acho válido, por ele entender que o time joga melhor assim. No entanto, mantenho que é muito interessante ter a opção de três zagueiros em caso de necessidade, mesmo que seja menos treinada. Vamos às características de cada esquema:


Com o 4-3-3, a saída de bola é feita com o primeiro-volante e os laterais, que ficam mais atrás para dar opção de passe. Por ter a proteção do volante, os dois meias têm mais liberdade para atacar e circular e tem papel importante na criação de jogadas. Temos também um ponta velocista para dar amplitude e um meia-atacante mais livre para circular e cadenciar o jogo.

Com três zagueiros, a saída de bola é feita pelo próprio zagueiro, com os companheiros flutuando para cobrir sua posição ao atacar. Conduzindo a bola, tem opção de passe direto para o ataque, para meias ou para os laterais, mais avançados. Nesse sistema, há sempre cobertura para o zagueiro, mas isso pode levar a um “despovoamento” do meio de campo. Nesse sistema, os meias têm que fazer uma ótima leitura do jogo para saber se atacam ou defendem, já que não há um volante fixo.


É fácil notar o quanto cada sistema pode ser útil ao time, cabendo ao treinador escolher o momento certo de usá-los e treinar os jogadores para que executem bem suas funções. Com um time que lança muitas bolas na área, talvez seja interessante jogar com três zagueiros para ganhar pelo alto e marcar melhor as laterais. Por outro lado, se a partida está um ataque contra defesa, pode ser interessante o 4-3-3, deixando os dois zagueiros para proteção e o primeiro-volante para circular o jogo e dar o primeiro combate.


ELENCO

Goleiro – Renan vem defendendo a meta tricolor muito bem e é o titular da posição. Sidão pode fazer uma sombra interessante.

 

Lateral Direita – Com a contratação de Edimar e a afirmação de J. Tavares, Buffarini pode voltar a jogar na lateral direita. Isso criaria um ambiente benéfico de competição entre Bruno e o argentino, que pode elevar os níveis das atuações na direita. Essa posição está bem servida dentro das possibilidades e um rendimento maior depende dos atletas alcançarem seu potencial.

Há também a opção de improvisar Wesley ou Araruna na posição, interessante em caso de qualquer imprevisto ou necessidade excepcional.


Lateral Esquerda – Júnior Tavares começou o ano muito bem, mas caiu de produção por ser o atleta com mais partidas no tricolor. Com a contratação de Edimar, a esperança é que seja possível um rodízio para potencializar o talentoso garoto. Esperemos que Edimar venha para atuar e alto nível. Não vejo necessidade de novas contratações, mas acharia interessante que houvesse pelo menos mais alguém capaz de jogar na esquerda (nem que seja da base).


Zaga – Muito bem servida, oferece várias opções táticas. Temos zagueiros mais rápidos como R. Caio e Lucão, que também tem boa saída de bola. Temos Maicon que nas últimas partidas vêm retomando o futebol que motivou sua contratação, dono de boa saída de bola e bola aérea. Temos também como reservas Lugano (que não comprometeu em nenhum jogo) e Douglas. Breno, que vem se recuperando das constantes lesões que tinha, é esperança para um dia voltar em alto nível, podendo agregar muito.

O setor não preocupa, mas seria muito positivo Lucão manter a evolução que mostrou nos seus últimos jogos, já que suas características se adequam muito bem ao sistema tricolor. Faria boa sombra em Maicon, podendo brigar pela titularidade.


Volância – Temos Jucilei e J. Schmidt que jogam de primeiro-volante. Wellington também faz a função, mas não vem jogando muito com Ceni. É o setor que mais preocupa no time, principalmente por ser iminente a saída de Schmidt para a Itália. Talvez por isso também Rogério tenha subido o garoto Éder Militão, zagueiro-volante. Assim, teria tempo até a saída de Schmidt para adaptar o talentoso jovem ao time principal. Caso visse que isso não daria certo, ainda teria tempo de contratar mais um jogador.

É o setor que mais preocupa no momento e dependerá de Ceni achar uma solução, que não é óbvia já que falta de dinheiro. Aguardemos, a situação não é boa, mas também não é desesperadora.


Meio – Temos um elenco que ainda está evoluindo e sinal disso é o meio. Aos poucos, com a chegada de Jucilei e Cícero, damos as peças para Rogério fazer o time jogar. Wesley é outro que pode agregar bastante se manter o retrospecto guerreiro da últimas partidas. Araruna vem se desenvolvendo, mas por enquanto é opção para o segundo tempo para aumentar a pegada do time. Lucas Fernandes, voltando de lesão, também pode fazer essa função e se voltar ao nível de antes de se machucar pode ser importante.

Para mim, o grande diferencial do meio são-paulino deveria ser Thiago Mendes. Deveria ser, mas não vem sendo. Jogador incansável, tem capacidade de marcação e consegue chegar ao ataque com bons chutes. Entretanto, parece faltar algo para deslanchar e repetir o desempenho do segundo semestre de 2015, com ótima transição defensiva, poder de marcação, chutes. Em algumas partidas, como no 5×0 contra o Linense, conseguiu fazer isso. Falta ter constância na tomada de decisões.


O meio são-paulino apresenta muito potencial, mas não vem desempenhando muito bem nos últimos jogos, oferecendo muito campo ao adversário. Nesse período de folga, Rogério terá tempo para melhorar o setor.


Meias ofensivos e Pontas – Com as chegadas de Morato, Thomaz e Marcinho, temos agora mais opções para o setor. Para a ponta temos: Neílton, L. Araújo, W. Nem, Morato e Marcinho. Não há um titular da posição, com a falta de um protagonista (Nem veio para ser, mas não conseguiu). Morato, contra o Cruzeiro, mostrou que pode ser alternativa interessante.

Como meias ofensivos, mais cadenciadores, temos: Cueva, Thomaz e Shaylon. Thomaz, que veio para suprir a falta que Cueva faz quando não joga, entrou muito bem em várias partidas. Shaylon é jovem, mas pode ser experimentado aos poucos.


Se tivéssemos um ponta dono da posição, o setor de meias estaria bem suprido. Como não temos, uma opção seria colocar Thomaz e Cueva juntos. No entanto, num campeonato longo como o Brasileiro, é preciso haver substitutos.

Dependendo do que Rogério analisar dos treinamentos, pode decidir que tem peças suficientes. Caso contrário, contrataria um meia criativo ou um ponta mais protagonista.


Centroavante – Tendo Pratto e Gilberto, o setor é o único inquestionável no time.


Considerações finais do elenco

Rogério Ceni afirmou que vai diminuir o elenco em aproximadamente cinco jogadores, visando dar mais competitividade. Assim, alguns dos jogadores que podem sair são: Douglas, Wellington, Neílton, Chávez (fim de empréstimo do Boca) e J. Schmidt (já tem pré-contrato com o Atalanta). Acho que essa debandada estimulada por Ceni deve ser muito bem dosada: improvisos por falta de elenco com no Paulista serão muito mal vistos, fruto de irresponsabilidade.

O elenco vem crescendo ao longo do ano, à medida que os jogadores entendem as orientações táticas. Faltam poucas peças para finalizar a preparação: talvez outro volante e um meia. No entanto, mesmo que não consigamos um volante, o clube tem peças para conseguir uma substituição, seja mudando o esquema para um 4-2-3-1 com dois volantes ou seja com um jogador improvisado como Breno.

O elenco veio se preparando ao longo do ano, falhando nos jogos decisivos no Morumbi contra o SCCP e Cruzeiro. Com esses dias a mais, é hora de treinar para chegar voando para o resto do ano, corrigindo falhas anteriores.


O QUE MELHORAR

Bola aérea defensiva –  São Paulo tomou inúmeros gols em bolas aéreas, sejam faltas ou cruzamentos vindos das laterais. Foram recorrentes as falhas pelo alto e um time que quer lutar pelo Brasileiro não pode ter essa peneira aérea.

Pressão – Saber o momento certo de iniciar a pressão, de modo que exista chance de roubar a bola, é difícil. Mais difícil é fazer isso de maneira que o sistema defensivo não abra muitos espaços ao adversário. Isso foi uma dificuldade clara que o São Paulo teve.

Casa muito bem com o sistema ofensivo a marcação pressão e o time, quando a executou corretamente, geralmente ganhou. Por quê? Roubamos mais bolas perto do gol, a defesa adversária não está compactada ainda e temos um ataque rápido. O resultado de uma pressão bem executada é, além da segurança defensiva, muitos gols. Exemplo disso são os dois gols de Luís Araújo contra o Santos, originados pela recuperação da bola no campo ofensivo.


Verticalidade – O time, após a lesão de Cueva, decaiu muito de produção. Olhando as estatísticas, ainda víamos um domínio de posse de bola, um grande número de passes trocados etc. Assistindo o jogo, no entanto, a história foi outra.

As goleadas no início do Paulista aconteciam devido ao sem-número de chances criadas, uma em cima da outra. O São Paulo marcava no ataque (ver item acima), roubava a bola, passe e chute, com muitos gols saindo assim. Quando não recuperava a bola no ataque, o time criava com a infiltração dos meias na área e o centroavante saindo para receber. Esse deslocamento confundia a marcação e abria espaços para passes mais verticais, geralmente de Cueva. Esse passes nem sempre resultavam em gols, mas permitiam desorganizar ainda mais a defesa adversária, para novamente tentar uma enfiada.

Com a lesão do peruano, faltou essa objetividade no ataque, em que só se passava a bola de lado. Thomaz foi o único substituto que fez com que o time fosse mais envolvente e conseguisse ser vertical.

A parte de criação, que já funcionou muito bem esse ano, deve voltar ao patamar em que começou, com média altíssima de gols. Trabalho para Rogério Ceni!

Saída de bola – Em alguns jogos em que teve uma marcação mais em cima, teve dificuldades para sair do campo defensivo com qualidade. Com a alteração entre 3-4-3 e 4-3-3, criou-se algumas confusões nesse posicionamento para saída de bola: laterais isolados quando devem auxiliar, laterais atrapalhando quando devem dar amplitude, meio sem aproximação para receber, meias vindo demais para receber. Nada muito grave, mas defeitos que devem ser corrigidos nesse intervalo até o jogo com Defensa y Justicia.


TIME QUE EVOLUI
O São Paulo, digam os críticos o que quiserem, vem evoluindo e faltam poucos detalhes para ser o time competitivo que o torcedor sonha. A defesa estava ruim? Melhorou. Sem criatividade com a lesão de Cueva? Contratamos o capaz Thomaz que foi muito bem. Meio sem consistência? Jucilei apareceu.
Claro, surgiram outros problemas, como as bolas aéreas defensivas. Rogério, mesmo assim, mostra que é capaz de corrigir os defeitos identificados e fazer o time evoluir muito. Esse período sem jogos, portanto, será importantíssimo para a melhora do time. O resultado desses treinamentos veremos 11/05.
Temos um bom técnico e agora é hora de dar o suporte necessário a ele. Fica Rogério!

Vamos São Paulo!

Pedro de Moraes Alves