Uma semana para esquecer. Após os jogos contra o Cruzeiro e o Corinthians, pela Copa do Brasil e pelo Campeonato Paulista respectivamente, ficou claro e nítido que muito além de um time em evolução, o São Paulo é uma equipe que apresenta inúmeras falhas, e isso foi constatado da maneira mais dura. Duas derrotas decepcionantes em pleno estádio do Morumbi. E o pior, em um momento que, de fato, o ano começou para o time de Rogério Ceni. Afinal, convenhamos, a primeira fase do Estadual de muito pouco serviu. Foi mais um laboratório e observatório dos jogadores do que o início de um legado. O mesmo serve para a Copa do Brasil, com adversários ínfimos.

Ceni saiu de campo ontem com uma constatação, a de que o Corinthians teve mais pegada. Mas a verdade é que vai além, muito além disso. Assim como nos últimos anos, se havia esperança e expectativa em torno do que poderia ser o São Paulo, ainda mais com um novo esquema tático e uma nova filosofia de jogo, isso já tem se perdido, principalmente depois dos últimos jogos da equipe. Problemas são muitos; limitações também.

É um tanto complicado, inclusive, listar o início de uma análise daquilo que no meu ponto de vista tem elevado o grau de frustração e reduzido o nível de futebol tricolor. Porém, acho que nada mais esclarecedor do que, justamente, a derrota no primeiro jogo da semifinal do Paulista.

Coincidentemente, tanto Corinthians como Cruzeiro utilizaram, ainda que com peças diferentes, um esquema muito similar para vencer o São Paulo. E com certa tranquilidade. O esquema adotado pelos rivais foi claro: 4-2-3-1. Uma aposta clara no contra-ataque, explorando as lacunas imensas que o sistema defensivo do Tricolor possui. Uma marcação compacta e pressão, a partir do meio-campo, com as linhas muito próximas, cedendo pouco espaço para infiltração. E se não há quem faça o diferente, cabe aos comandados de Ceni girarem a bola, mas sem efetividade. O único que consegue fazer o ‘diferente’ é Cueva, que sem ritmo de jogo sequer pode ser cobrado por isso.

O São Paulo não tem movimentação, aproximação, triangulação. É um time estático. Ou melhor, tem se tornado uma equipe assim. O começo de trabalho criou uma sensação diferente, ainda que se apresentasse a vulnerabilidade da defesa. Um ataque agressivo, efetivo, com variação, além do auxílio dos laterais que apoiavam de forma constante, e muitas vezes ao mesmo tempo. Hoje, se perde numa mesmice sem fim.

Para piorar, nos momentos de dificuldade, Rogério Ceni, naturalmente, esbarra na sua inexperiência fora das quatro linhas. Ontem foi inteligente ao tentar abrir a defesa do Corinthians, optando por um quarteto ofensivo beneficiado pela volta de Cueva. A posse de bola persistia, o time buscava o jogo, embora ele pouco fluísse. Uma tentativa válida. O erro, no entanto, foi optar pelo pouco inspirado e lento Cícero no lugar do lesionado Welligton Nem. Ou seja, deixou de acreditar em um plano de jogo com 18 minutos? Confuso. O problema é menos o esquema tático, embora defenda experimentar variações, e a filosofia de jogo, mas muito mais do material que se tem disponível para colocar em prática os conceitos considerados ideais.

As insistências do técnico também são responsáveis pelo fracasso do time. Cícero e Thiago Mendes, até então volantes, atuam de forma avançada, deixam buracos no sistema defensivo e têm dificuldades para recompor o setor quando o São Paulo deixa de agredir e passa a ser agredido. Um prato cheio para os adversários e o que exige, muitas vezes que Jucilei se desdobre na marcação, bem como Maicon e Rodrigo Caio saiam de posição e deixem lacunas no costado da defesa.

O 4-3-3 com variação para o 4-2-3-1 pode ser uma solução, assim como parecia se desenhar no começo da partida, até a lesão de Nem. É preciso compactação, e Jucilei não pode se ver tão isolado. Hudson, emprestado ao Cruzeiro, poderia ser peça-chave, mas só para 2018 agora…

É preciso encontrar uma alternativa também para o setor ofensivo. Luiz Araújo erra o pouco que tenta. Se no começo do ano tomava as decisões certas e era um dos maiores ladrões de bola do elenco, agora nem mesmo de lampejos vive. Junior Tavares parece sofrer com o excesso de jogos e também caiu muito de produção. O lado esquerdo, na ausência de Cueva, era uma válvula de escape importantíssima. Hoje, o São Paulo se vê sem alternativas. Talvez por um leque de teimosia, já que Gilberto e Thomaz estão aí!

O que incomoda o torcedor são-paulino não é a derrota. Isso faz parte do jogo. É a ausência de um futebol que, supremo nas estatísticas, se mostra ineficiente em campo.  A exposição das limitações do time também podem ser vistas como uma chance de recomeço. Rogério Ceni precisa entender isso.

Tadeu Matsunaga