Na semana de futebol, se debateu muito sobre o controle da partida. Porque controlar um jogo não quer dizer necessariamente ter a bola, empurrar o adversário para trás e pressionar. Uma equipe pode controlar sem a posse, fechando bem os espaços e explorando o erro ou na retomada.
Tudo depende do plano de jogo. Em Turim por exemplo, a Juve controlou o Barcelona com apenas 33% de posse de bola, ocupando bem os espaços e acelerando na retomada. Na Alemanha, Real Madrid e Bayern de Munique repartiram o controle do jogo mais a partir da posse e das ações ofensivas. Não há certo nem errado para controlar um jogo. Só tem que haver uma estratégia.
No Morumbi, o Cruzeiro controlou as ações do São Paulo sem a posse. Fechando os espaços de maneira inteligente, subindo as linhas para pressionar a saída e marcando de forma agressiva, sem permitir progressão ou triangulações. Deu a bola para o time de Ceni, que, muito propositivo, teve outra vez muita dificuldade sem seu principal articulador.
Porque Cueva, a partir da ponta, se move para dentro e quebra as linhas com passe ou um drible em progressão. Com Luiz Araújo e Wellington Nem, o time fica bem mais rápido na transição e no um contra um, mas perde a criatividade e a capacidade de triangular com a bola. Acelera muito e pensa pouco.
Sobretudo porque Mano percebeu a qualidade na saída de Jucilei e fez, com Arrascaeta e Ábila pressionando o primeiro homem do meio tricolor, Cícero ficar mais distante do terço final e as bolas que saiam com Rodrigo Caio ou Maicon não terem destino no comando de ataque. Thiago Mendes também não pode repetir as transições e ficou isolado entre Hudson e Ariel Cabral, de atuação sólida e segura a frente de Manoel e Léo.
Nas duas linhas de marcação sem bola com Arrascaeta e Ábila centralizados, Mano apostou em Rafinha pela direita, para ser o homem da velocidade no corredor de Junior Tavares – o que aconteceu pouco na etapa inicial. Tanto ele, quanto Thiago Neves, aberto pelo outro lado do campo, estiveram mais atentos às ações defensivas.
Preso a marcação, o time de Ceni não conseguia triangular e criar oportunidades a frente da área celeste, embora a posse fosse gigante e o volume de jogo também. A primeira providencia para tentar mudar, foi a entrada de Thomaz no lugar de Nem, o meia que em tese pensa mais que acelera a partir do lado do campo.
Porém, no mesmo minuto, Lucas Pratto desviou contra o cruzamento de Thiago Neves e abriu o placar para o time mineiro no Morumbi. Senha para o tricolor desestabilizar-se. Controlando o duelo mesmo sem a bola, o Cruzeiro conseguiu ampliar oito minutos depois, em novo cruzamento de Thiago Neves, Hudson desviou para o gol.
Aquela altura Rogério já tinha sacado Buffarini para colocar Araruna, em busca de mais profundidade, e depois colocaria Gilberto no lugar de Cícero para um jogo mais aleatório em cruzamentos. Foram 35 no total, com 26 erros. Nas finalizações: nove a cinco para o São Paulo, com cinco a dois em acertos. Mesmo assim, apenas uma cabeçada de Pratto que poderia ter acabado em gol. Muito pouco para um time com 65% de posse da bola e 465 passes trocados.
A vitória do Cruzeiro no Morumbi não chega a ser um grande absurdo ou surpresa. O time mineiro manteve a base de seu elenco, seu técnico e a ideia de jogo da última temporada. Com o acréscimo de grandes contratações vive um momento em que seu modelo está bem mais assimilado e isso fica claro em campo. 16 vitórias e quatro empates na temporada. 40 gols marcados e apenas 10 sofridos. Controle e vitória sólida mesmo com 35% de posse de bola na casa tricolor e a clara sensação de que será protagonista na temporada.
 Raí Monteiro