TELÊ SANTANA

Se eu fizer uma pergunta rápida a você:

Quem era o 9 de Telê, o que você responderia?

Palhinha.

Mas, Palhinha era um 9? Um 9 clássico?

Palhinha jogou apenas 56 partidas pelo tricolor e marcou 14 gols. Média de 0,25 por partida.

Palhinha era um meia atacante, destro, sem as características de um 9 clássico, sem físico para fazer pivô.

O São Paulo do Mundial de 1992: 4-2-3-1 era o esquema favorito do treinador, que usava e abusava do talento de Cafu, Raí, Palhinha e Müller.

Então era o Muller, certeza. Olha essa imagem aí em cima, não tem como errar.

Muller era outro meia atacante. Não era atacante. Não era o 9 clássico que tanto pede nosso treinador atual. Jogava como meia atacante, sempre caindo para os lados do campo. Destro, entrava na área, principalmente em diagonal e, na falta de uma referência, era um meia atacante que fazia gols.

Muller chegou a marcar 53 gols em 91 jogos, 0,58 gols por jogo. Um pouco menos que França, esse sim, camisa 9 nato.

Raí era o meia clássico.

Mas então, porque mesmo sem um centro avante fomos bicampeões mundiais?

Porque tínhamos Telê Santana no banco. Simples assim.

Telê morava no CT, era mandão, dava pitacos na vida pessoal dos jogadores, era teimoso, brigou com todo mundo da diretoria, começou com três derrotas seguidas, bancou a dispensa de Gilmar e Zé Teodoro, lançou uma garotada pouco conhecida como Antonio Carlos, Cafu, Leonardo, Elivelton, brigava muito com arbitragem, era expulso muitas vezes de campo.

Telê teve um recomeço desanimador no São Paulo. Recomeço porque em 1973 ficou pouquíssimo tempo após grandes desavenças com Paraná e Toninho Guerreiro. O time jogava mal, perdeu clássicos e, por incrível que pareça, balançou, e muito, na equipe, quase foi demitido e tinha a fama de fazer um jogo pragmático. Vencia, mas não dava espetáculo. Além da fama de Pé-Frio que adquiriu na Seleção Brasileira.

Pé-frio, encrenqueiro, com um time cheio de desconfiança, que um ano antes tinha feito vexame no Paulista, bancou Raí, então reserva, contava com Zetti que, na época, era lembrado apenas pelo frango que levou num gol do meio da rua do Neto, de sua perna quebrada na disputa com Bebeto e, dono de seu passe, o alugou para o São Paulo.

O time ainda contava com jogadores que, se tivéssemos a torcida que temos hoje, dificilmente teriam paz no campo. Adilson, Victor Luis, Vitor, Ronaldão e Pintado não eram exemplos de técnica, nunca tinham tido nenhum grande destaque nas suas carreiras.

Voltando a falar do camisa 9 clássico, O Corinthians contava com Mirandinha, Palmeiras com Evair e o Santos com Paulinho McLaren. E o São Paulo?

Mas como pode um time que tinha tudo para dar errado dar certo? Como pode um time que não tinha grandes talentos individuais, tornar um time de craques em 2 anos?

Telê foi um treinador que treinava fundamentos à exaustão. Fundamentos. Quem você já ouviu falar que treinou fundamentos no São Paulo?

Para quem acha que Rogério Ceni está inovando nos treinamentos, saiba que um dos treinos que Telê implantou era fazer os jogadores, todos os de linha, cruzar o campo com pequenas bolas de borracha dominadas, sem cair no chão. Todos tinham que cruzar o campo com ela dominada, até conseguir.

Até conseguir.

Até conseguir.

Até conseguir.

Esse era o conceito. Conceito perdido ao longo dos anos por treinadores que se consideram professores, boleiros, palestrantes.

Telê era diferente.

O São Paulo nunca precisou de um jogador específico para a função com Telê. Ele o aprimorava até chegar onde queria.

No caminho de aprendizado, muitos jogadores desistiram. Telê cobrava demais. Para uns, paizão, para outros, um carrasco.

Para todos nós, o mestre.

Desde Telê, não temos uma comissão técnica que se empenha em treinamentos diferenciados.

Sinceramente, torço muito para que Rogério olhe para o passado, que vislumbre a insistência em aprimorar fundamentos, não apenas jogadas ou ritmo de jogo.

Chavez, Luis Araujo e Gilberto.

Chavez raçudo e brigador. Luis Araujo driblador e Gilberto tem presença de área (precisava colocar uma qualidade para o texto fazer sentido).

O que falta em comum aos nossos atacantes?

Todos com potencial, mas péssimos em finalização.

Não ouço falar em treino específico de fundamentos para estes jogadores. Não ouço falar em treino específico de fundamentos para jogadores faz anos em nosso futebol.

Rogério, quer ser inovador? Olhe para o passado. Copie o mestre. Faça o Luis Araujo chutar em gol meio período todo dia. Contrate um especialista para dar assessoria se for o caso.

Que Rogério Ceni olhe para o passado, tanto o de glória como o de sofrimento que tivemos nestes anos todos sem nosso mestre.

Quem sabe assim, criamos um craque ao invés de comprá-lo?

Afinal, precisamos mesmo de um camisa 9?