Se não vender atletas, o São Paulo terminará 2017 com um rombo de R$ 67 milhões

As receitas orçadas para esta temporada não são suficientes para pagar as despesas, e aí as soluções são amargas: ou o clube se endivida ou negocia jogadores. O diretor financeiro e Leco vêem a situação “sob controle”

O São Paulo recebeu, após torneio amistoso nos Estados Unidos, uma oferta de R$ 20 milhões pelo atacante Luiz Araújo. O técnico Rogério Ceni interveio, conversou com o rapaz de 20 anos e o clube recusou a proposta. O torcedor saiu aliviado por enquanto, mas a situação tende a ser rara em 2017. O departamento financeiro são-paulino calcula, no orçamento para a temporada, que o clube terá de vender atletas para não acabar o ano com um rombo nas contas.

A diretoria tricolor estima que vai arrecadar R$ 278 milhões neste ano. Aí entram os patrocínios, as bilheterias, o sócio torcedor e a televisão. Por outro lado, calcula que vai gastar R$ 345 milhões. São, por exemplo, os salários de funcionários e a manutenção do Morumbi. O buraco no orçamento, portanto, fica em R$ 67 milhões. Aí o São Paulo caiu no vício que boa parte dos clubes brasileiros, vide o exemplo do rival Corinthians, recai para acabar com o problema no papel: estimou que vai tapar o buraco com vendas de jogadores. O departamento financeiro calcula que no ano R$ 60 milhões serão arrecadados com transferências de atletas para outros clubes.

A prática é problemática porque, em primeiro lugar, não há santo que seja capaz de cravar quantos atletas serão vendidos e por quais valores. Mesmo que uma oferta recente, como a de Luiz Adriano, seja levada em conta. O interesse do francês Lille pode acabar, o jovem pode se machucar. Qualquer revés mela o negócio. Em segundo, o dinheiro repassado a empresários em função dos direitos econômicos detidos por eles varia consideravelmente dentro de um elenco. É por isso que, aqui, a análise de orçamentos de times de futebol não considera transferências como uma projeção confiável.

O desarranjo entre receitas ordinárias e despesas põe o São Paulo numa sinuca de bico. Se o clube conseguir vender jogadores suficientes para cobrir o rombo, respira no aspecto financeiro, mas prejudica o futebol de imediato. Se não se der bem nas transferências, vai ter de tomar novos empréstimos, com bancos ou empresários, para pagar os gastos. Isso gera um desperdício considerável de dinheiro com o pagamento de juros. Para 2017, o departamento financeiro calcula que vai gastar R$ 29,7 milhões com despesas financeiras, juros sobre empréstimos e mais R$ 9,4 milhões com a correção das parcelas do Profut – a renegociação com o governo federal de impostos não pagos por dirigentes anteriores. O endividamento descontrolado prejudica o futebol no futuro.

A diretoria financeira do São Paulo entende que a situação, “que já esteve dramática”, hoje está “administrada e sob controle”. Adilson Martins, responsável pela área no clube, confia no histórico vendedor do clube para afirmar que a estimativa de arrecadar R$ 60 milhões com atletas será batida. “Jamais orçaria algo que não pudéssemos cumprir”, diz o diretor. Martins argumenta que o clube tem trabalhado para reduzir os custos, também historicamente altos. “O novo estatuto define que se qualquer diretor ultrapassar acima de 5% a despesa de sua área será responsabilizado.” O mecanismo acabou de ser criado e não existe em outros clubes. As despesas estão entre as mais altas do futebol brasileiro.

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