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Essa semana que passou foi uma semana de expectativa e frustração.

Enquanto esperava Calleri e Colman, vimos o São Paulo sem nenhum dos dois.

Calleri fez de tudo, o São Paulo também. Mas quem manda é quem investiu. Se o São Paulo tivesse dinheiro para comprar o jogador, ele já estaria faz tempo jogando e veríamos a sua reestreia hoje na Flórida Cup.

Colman não veio também por causa de dinheiro. Sem grana pra investir, mesmo melhorando a proposta inicial, os dólares à vista falaram mais alto.

Na minha modesta opinião, também não sei se Colman valeria uma loucura. Pode ser que se torne o novo Ibrahimovich, mas duvido muito…

O mais exaltado torcedor poderá dizer: Poxa, o São Paulo perde todas as negociações, não tem dinheiro pra nada? Ah, mais um ano na fila, não vamos ganhar nada, diretoria incompetente!

Não é bem assim.

No meu ponto de vista, que não precisa ser igual ao de ninguém, afinal, essa é a beleza da vida, apenas duas coisas formam equipes vencedoras:

1-Alto investimento para trazer um grupo de jogadores que resolva

2-Uma equipe que esteja entrosada, bem dirigida e que funcione como conjunto

Assim, faço um paralelo com Tio Patinhas, dos times ricos, com estoque sem fim de investimentos e Os Três Mosqueteiros, do eterno lema “Um por todos e todos por um”.

Que estilo está mais próximo do nosso tricolor?

Vejamos o São Paulo. Está na Flórida, com Rogério Ceni tendo a primeira experiência como técnico. Nossa expectativa é de ganharmos pelo menos um título com ele.

E se não ganharmos?

Vamos imaginar que o trabalho de Ceni seja uma construção a longo prazo, com atletas treinando para assimilar esquemas e técnicas inovadoras para surpreender adversários em campo que resultem, a longo prazo, um aproveitamento constante positivo.

Quantos dos jogadores que estão no plantel do São Paulo hoje, estarão no final de janeiro de 2018 no clube? Em 12 meses, em uma pesquisa rápida que fiz, ao menos 17 jogadores que estavam no clube não estão mais.

Quantos jogadores temos emprestados?

Vou usar o exemplo hipotético de Rogério, mas se aplica a qualquer técnico. Principalmente os que tem algo a acrescentar no futebol, não os entregadores de colete. Lembre-se que o exemplo é hipotético e exagerado propositalmente.

Vamos imaginar que Rogério tenha uma filosofia que mude o jeito da equipe jogar, que venha a descobrir um novo jeito de jogar futebol, uma filosofia nunca antes vista em nenhum técnico do mundo. Vamos imaginar que Rogério se transforme na grande revelação mundial dos técnicos em 2017. Como é possível fazer um trabalho com tantas saídas e chegadas no futebol?

Em junho, temos vendas e vindas. Talvez mais vendas do que vindas. Então começa um trabalho novo com quem chega. Se a equipe hipoteticamente “jogar por música”, emprestados retornam aos seus clubes e novos jogadores virão. Até novos jogadores se adaptarem ao clube, talvez chegue dezembro, talvez sejam mais uma contratação que não deu certo, mesmo sem ter a certeza que não deram certo.

O que quero prosear com vocês esta semana é como criamos expectativas de um bom trabalho e acabamos culpando técnicos pelos fracassos, sem pensarmos que um coletivo eficaz, invariavelmente, ganha de time com alguns destaques desentrosados.

Os três mosqueteiros venceriam Tio Patinhas em um duelo, não tenho dúvidas disso. Será mesmo que venceriam?

E qual a solução?

Temos que pensar a longo prazo. O São Paulo perdeu muito tempo com gente que não agregou nada. Tivéssemos utilizado a base e mantido, talvez hoje teríamos um coletivo tão forte que não sentiríamos tanto a falta de uma “contratação bomba”, uma bomba da meia noite.

Sim, somos carentes de contratações bombásticas. Veja o Palmeiras com Felipe Melo. A mídia trabalha para exaltar esse tipo de contratação. Cria uma expectativa na torcida, onera o caixa do clube, joga a responsabilidade de vencer sempre na equipe. E até onde eu conheço de futebol, não tenho certeza se Felipe Melo não vai ser igual Alvaro Pereira que todo jogo era cartão amarelo ou vermelho…

Veja o exemplo de Calleri. É um bom atacante, se movimenta e tem bom chute. Está longe de estar entre os 5 melhores atacantes argentinos, mas para o São Paulo, sua contratação resolveria um problema. Será?

Calleri por empréstimo resolveria 18 meses de problemas. Talvez menos caso chegasse uma proposta que o grupo que detêm o seu passe aceitasse.

Precisamos de um atacante de bom nível em definitivo ou formar um que fique no clube por bastante tempo.

É fácil? Claro que não.

Mas voltando ao assunto do “duelo”, se analisarmos o tricolor,  não somos nem Tio Patinhas e muito menos Três Mosqueteiros. Somos uma equipe em construção faz um bom tempo. Nos acostumamos com o termo “baciada”, “planejamento” e “reestruturação”. Não repetimos 50% do elenco no espaço de 12 meses. Faz tempo.

Eu acredito que uma equipe bem treinada, bem entrosada, sem trocar elenco em cada janela européia, com vontade de vencer, motivada, focada e com objetivo, no futebol brasileiro atual, ganharia tudo o que for disputar.

Respeito quem pensa que uma equipe que gaste absurdamente dinheiro em contratações seja o ideal, mas será que futebol vai virar um esporte de quem tem mais dinheiro, ganha?

Tipo a Fórmula 1? (polêmica!!!!)

Se o futebol for só isso, amigos, enterremos o esporte.

Será que o futebol virou um jogo de quem tem mais dinheiro, quem contrata jogador melhor e mais caro ganha?

Será que essa é a única forma de montar uma equipe vencedora?

Fomos campeões mundiais em 2005 com a seguinte equipe:

Rogério, Lugano, Fabão, Edcarlos, Cicinho, Junior, Mineiro, Josué, Danilo, Aloísio, Amoroso, Grafite.

Qual destes grandes jogadores fizeram um grande sucesso individualmente após a conquista? E antes?

A maioria dos jogadores já jogavam juntos no Goiás e conquistaram a titularidade na equipe, mantendo o entrosamento. Havia uma espinha dorsal entrosada, adicionada de excelentes jogadores como Rogério, Lugano, Cicinho e Junior, que já jogavam há bastante tempo no São Paulo.

Amoroso foi a exceção à regra, mas veio e caiu como uma luva na equipe, dessas contratações tão raras hoje em dia, de jogador que chega e vira ídolo em pouco tempo. Guardadas as devidas proporções, assim como foi com Calleri.

O grupo funcionou, mas reforço a pergunta, quem daí foi destaque em qualquer equipe depois que saiu do clube? Rogério ficou, mas também teve que lutar com equipes nômades durante o resto de sua carreira.

Nômade, isso que o São Paulo se tornou. Do elenco principal, se contarmos como vínculo quem veio da base a ascensão ao elenco principal, o jogador mais experiente é Dênis, desde 2009 no clube, seguido de Rodrigo Caio, que ingressou em 2011.

Fora estes dois, ninguém tem mais de 3 anos no clube.

Veja bem, ninguém tem mais de 3 anos no clube. Como é possível montar uma equipe vencedora?

Como podemos esperar um conjunto de jogadores que entram e saem do clube tão rapidamente? Como podemos querer que nosso clube tenha um estilo de jogar diferenciado, uma filosófia implantada, se tivemos 7 treinadores efetivos nos últimos 3 anos, fora 2 “tampões”?

Quem garante que Rogério terá tempo de implantar uma filosofia vencedora no clube? E quem garante que ele é capaz disso?

Como pode uma equipe sem dinheiro para contratações montar um elenco competitivo, se os jogadores não criam raízes no clube?

Parecemos um clube do interior. Vou citar o Noroeste, aqui da minha cidade de Bauru. A cada competição que acaba, empresários tiram os seus jogadores e colocam em outra equipe. Sucessivamente.

Será esse nosso destino? Mudar metade do elenco todo ano? Qual identidade tem esse time?

É óbvio que jogadores querem fazer sucesso na Europa, ganhar dinheiro fora do país e empresários e “outros personagens” só ganham dinheiro nas transferências, por isso esse vai e vem constante nas equipes.

Ao que parece, a solução para montar uma equipe competitiva é emprestar jogadores. Nem, Chaves, Neilton, Cícero. 4 jogadores chegam para serem titulares. Os quatro emprestados. 36% do elenco principal já tem “prazo de validade”.

Qual é a solução para o futebol?

Viveremos à mercê de contratações que afundam os clubes financeiramente? Pagaremos salários cada vez mais elevados para formarmos panelinhas e ciúmes nos atletas dentro do próprio elenco?

Quanto tempo levará para vermos nosso rico rival sofrendo com jogadores fazendo panelinhas e reclamando na imprensa que não são titulares ou que rendem melhor em posição que o técnico não o escala?

O tempo é o senhor da razão!

 

Isto posto, vamos encerrar nossa coluna com nossa tradicional enquete: