1) Felipe, conta pra gente quem é você e como surgiu essa ideia mágica de falar do Mestre de torcedor para torcedor? 

Foi do grande amor que tenho pelas cores branco, preto e vermelho.

Em 2010, meu pai trabalhava na CPTM (SP) junto com o José Paulo Jesus Lopes, na época, homem forte da diretoria tricolor. Um ano antes eu tinha lançado o meu primeiro livro, sobre planejamento estratégico digital – que não por um acaso, a capa é vermelha, com letras brancas e pretas – acabei me empolgando com essa ideia de escrever livros (tanto que esse do Telê é o 4o escrito, mas o 3o publicado).

Escrever sempre foi uma paixão, sempre tive esse talento e juntar o talento com a paixão é sempre bom. Um dia, conversei com meu pai sobre a ideia, e como sempre, meus pais me apoiam em tudo, e já no dia seguinte ele levou a ideia para o Jesus Lopes, um apaixonado São Paulino, que me deu o contato da Juliana Carvalho, que trabalha na área de comunicação do São Paulo FC.

Como profissional de planejamento, eu levei um projeto, com objetivo, perfil de público, estratégia. A Juliana olhou o livro e disse: “Felipe, livros do SPFC tem aos montes, mas tem um capítulo aqui que se você transformer em livro, será um enorme sucesso”Esse capítulo era: Ao mestre com carinho, a história de Telê Santana no São Paulo FC. Gostei da ideia e iniciei a produção. Foram 5 anos de dedicação até dia 07/12/2016 ele ser consolidado e lançado.

2) Deve ser impossível como torcedor, não se emocionar ao escrever. Ainda mais com a emoção de momentos tão épicos e eternizados no coração do são paulino. Como foi segurar a emoção ou não segurou mesmo, como foi o desenvolvimento? 

 Confesso que não foi fácil. Eu costumo brincar com o pessoal que não foi muito fácil, sentar e escrever lances que Raí tocava para Muller, que abria o jogo para Cafú, que tocava para Cerezo, lembrar dos gritos de “Zeeeeeeetti”, ver que tinhamos Leonardo, Ricardo Rocha, Antonio Carlos vestindo a camisa do tricolor e depois ver o jogo com Kelvin, Centurion, Gilberto, Jean Carlos, Michel Bastos, Wesley e Denis.

Mas brincadeiras a parte, foi emocionante sim. Eu comecei a acompanhar efetivamente o São Paulo em 1986, com 7 anos, vendo o Careca fazendo aquele gol histórico – e para mim o mais emocionante da história do SPFC – na final do Campeonato. Ali minha paixão pelo tricolor disparou nesse dia. Meu pai e meu avô (pai do meu pai) já eram São Paulinos fanáticos, mas sempre disseram que eu era bem mais. Até hoje assisto jogos com meu pai, mas infelizmente, em 2014 meu avô nos deixou.

Daquele gol do Careca para frente eu acompanhei de perto e na época do Telê, eu estava na escola, havia muitos São Paulinos por lá e foi uma fase sensacional. Ia muito no estádio, recortava jornais com materias do dia, tinha camisas, poster, boné, chaveiro, caneta. Tudo o que tinha o simbolo do SPFC eu tinha, alias, sou assim até hoje. Foi demais rever os jogos, tive o cuidado de assistir aos principais como finais da Libertadores, Mundial e Brasileiro.

Lembrei de 1992 quando estava no Morumbi para ver SPFC 2X1 no Palmeiras, que consagrou o bi-paulista uma semana após o primeiro mundial, frente ao poderoso Barcelona. Lembrar das festas que fiz com meus amigos de prédio na Libertadores e Mundial, descemos de madrugada para cantar, comemorar. Nenhum vizinho reclamou, até torciam junto, mesmo que não era tricolor. Foi sensacional mesmo relembrar esses excelentes momentos, ainda mais quando eu pude estar frente a frente e conversar com quem esteve vivendo essa época como Raí, Ronaldão, Pintado, Muller e Zetti, além do Moraci Sant’anna, Sr. Homero Bellintani, Sr. Kalef João Francisco e Sr. Carlos Caboclo, homens que viveram essa época. Alguns se tornaram amigos depois desse livro. Isso é uma das coisas mais importantes.

Mas não foi fácil. Praticamente em 2015 eu me dediquei a achar uma editora. A Saraiva, que eu já lancei um livro de planejamemnto com eles (2015 lancei outro livro com mesmo nome, mas pela Saraiva) se interessou, mas a editora saiu de licença maternidade e atrasou um pouco. Com a crise no mercado ninguém queria arriscar até que a Editora Inova, do Rodrigo Piza, se interessou e ai demos mais gás no projeto.

3) O que você sentiu ao entrevistar figuras de fora do clube e o que sentiu ao falar com quem esteve lá? Qual a sensação que teve de quem viveu de fora e de dentro de diferente? 

Essa foi uma das melhores partes. Quando o São Paulo deu a ideia de entrevistar celebridades, eu achei que não ia dar certo. Como assim, um “mero mortal” conversando olho no olho com essas celebridades? Globais? Astros mundiais de Rock? Não ia conseguir.

A ideia surgiu em Março de 2016, o livro já estava quase pronto e eu já tinha conversado com algumas pessoas importantes da época. Como eu sabia quem era a assessoria de imprensa do Raí e Zetti, com eles foi mais fácil. Via Facebook, consegui falar com o Claudio Zaidan e marcamos um papo. Sujeito especial. Educado, inteligente demais e um excelente papo. Nese dia, que fui na Rádio Bandeirantes, encontrei o Agostinho Teixeira e aproveitei o dia para conversarmos. Da radio eu já havia conseguido, por email, um depoimento do José Paulo de Andrade, que dias depois consegui tirar uma foto com ele. O José Paulo me deu o telefone da empresa do Milton Neves e marquei. Via ESPN consegui falar com o Arnaldo Ribeiro, que me colocou em contato com o André Plihal e o Paulo Calçade. Estava muito feliz com esses contatos. O Arnaldo tinha muita coisa do Telê pois era para ele ter escrito a biografia do mestre, mas não teve tempo.

Depois da ideia do São Paulo, eu fiz uma lista e fui atrás de cada celebridade. Liguei na Rede Globo, expliquei o que queria e me passaram vários contatos. Nem todos puderam, outros não responderam, mas faz parte. Da Globo eu queria 5 atores, consegui 3: Lima Duarte, Cassio Gabus Mendes e Tony Ramos. O Rodrigo Lombardi, estava gravando fora do país e não daria tempo de entrevistar. Tentei o Luiz Gustavo, o Tatá, mas ele me disse ser um torcedor sem memoria e não se sentiu bem em dar um depoimento. Eu entendi, triste, pois é um ídolo meu da TV, mas compreendi. Ele é um sujeito sensacional também.

Da música consegui todos que queria: Nasi, Nando Reis e Andreas Kisser. Eu respeito muito o trabalho do Sepultura, mas não faz meu estilo de música, mas Nasi e Nando Reis sou muito fã. Consegui falar com os 2. O Nasi me convidou para um pocket show que ele faria no Morumbi no lançamento da nova camisa do SPFC. Nesse dia ainda conheci o Careca! Que dia! O Kisser foi um papo pelo Skype, ele estava na Finlandia. Foi o único que eu não entrevistei pessoalmente. Uma pena.

O Zetti me deu o telefone do Ronaldão. Fui até Campinas o entrevistá-lo. Muitas risadas. O São Paulo me deu o telefone do Pintado que havia acabado de ser contratado pelo São Paulo. Falei com ele no CT – ele até chorou falando do mestre – nesse dia, ainda consegui tietar jogadores como Calleri, Ganso, Maicon e Rodrigo Caio. Um dia, vi que Muller, Caio e Juninho Paulista estariam em um bar em São Paulo em um evento. Corri para lá. Consegui falar com os 3. O livro até atrasou um pouco, pois essa entrevista com os 3 foi depois do prazo da editora, mas eles entenderam a importancia. Muitos me perguntam do M1TO (Rogério Ceni). Na época, ele estava com a Seleção Brasileira nos EUA e depois ficou por lá fazendo cursos, por isso, não consegui entrevistá-lo.

O São Paulo me colocou em contato com 3 importantes diretores da época: Sr. Homero Bellintani Filho (conselheiro vitalício), Sr. Kalef João Francisco (na época atuava no departamento de futebol) e o Sr. Carlos Caboclo que trouxe o Telê ao São Paulo em 1990, e não foi nada fácil. No livro as pessoas poderão ler, mas o Telê não queria vir ao São Paulo de jeito nenhum, precisou da habilidade e da forte amizade do Carlos Caboclo em negociar para isso ocorrer. Felizmente deu certo!

Faltava um dos mais importantes – e que vem novidade com ele por ai – Muricy Ramalho. O Zaidan me deu o telefone dele. Liguei, foram 4 meses para marcar, pois ele era treinador do Flamengo, no Rio. Mas conseguimos. Foram mais de 2 horas ao lado dele ouvindo histórias e rindo muito. Sem dúvida, foi a entrevista que mais rendeu, mas a que eu mais me emocionei foi com a humildade, educação e simplicidade do Tony Ramos, sensacional. Jamais imaginei que um mero mortal como eu conseguiria falar com essas mega celebridades, mas alguns deles, eu fui na casa para entrevistar e converso até hoje com quase todos.

4) De todas, qual parte mais te toca nas histórias que revisitou?

Sem dúvida, a final da Libertadores de 1992. Começou aquele jogo no Morumbi, eu tremia tanto que meu pai achou que eu ia infartar com 12 anos de idade!!! Aquele jogo foi tenso. Eu tinha uma mania de abrir tudo o que eu tinha do SPFC no meu quarto: Camisa, shorts, cadernos, jornais, canetas, posters, tudo! Jogava no chão na esperança dos Deuses do futebol ajudarem o São Paulo. Deu certo até a final de 1994, depois parei com isso.

Reescrever o capítulo de 1992 me lembrou de tudo. Para mim, aquele foi o melhor ano da minha vida, em tudo. Tudo bem que em Agosto de 2010, o nascimento da minha filha coloca essa como a data mais importante, mas em 1992 foi um grande ano para mim em tudo. Foi legal relembrar, mas também foi demais ouvir histórias do mestre Telê e aprender não apenas sobre futebol, mas sobre gestão de pessoas. Penso, com a editora, até fazer uma rodada de palestras (temos 2 pré-agendadas para Janeiro) mostrando como a metodologia do Telê no futebol pode ajudar nas empresas, em termos de motivação, buscar a perfeição e feedbacks.

5) Se tivesse como fazer uma pergunta a Telê após toda essa trajetória, o que você diria? 

Como ele se sentiu, 10 anos depois, de se tornar bi-campão mundial?

Ele nunca falou sobre isso, sobre essa “vingança” que coincidentemente – coisas do Deuses do futebol – ele ganhou um contra espanhol – país que ele perdeu a Copa de 1982, e outro título contra um italiano, time o qual ele perdeu. O mundo apostava no Brasil campeão em 1982. Não foi culpa dele, ele montou o melhor time, era o melhor técnico e o time jogava demais, mas as vezes, o melhor, no futebol, não ganha.

O Telê – e isso está no livro – foi aplaudido de pé por mais de 5 minutos depois do jogo e a imprensa mundial – incluindo o técnico italiano – o consideraram o melhor técnico do mundo na época. Ele foi o melhor da história, para mim. Tanto que hoje, a grande referência como técnico, Pep Guardiola, coloca Telê como sua grande referência. Precisa de mais?

Durante 10 anos, Telê sofreu com a fama de Pé Frio, erradamente. O próprio Milton Neves, que não inventou o termo, mas ajudou demais a difundir se arrepende. Ele disse isso na entrevista para mim (está no livro) e disse que falou para o mestre em 2 programas de TV que ele organizou.

Eu queria que o Telê estivesse vivo e bem hoje para ele dar um jeito nesse futebol, na época dele não tinha jogador “mimimi” ou era macho e enfrentava a bronca ou não jogava. O casamento dele com o São Paulo foi perfeito, um precisava do outro, hoje, acho que o mestre seria mais um coordenador técnico, mas poderia ajudar muito reerguer o futebol nacional. Precisa!

6) Que mensagem você daria aos sãopaulinos após este profundo mergulho em nossa história e se tivesse que escrever outro livro do Tricolor, qual seria?

Se tivesse não, terá! Temos planos para mais 2 livros para 2017 e 2018. Um deles, será sobre a verdadeira história do tricolor. Quem vai contar não sou eu, mas quem viveu essa história do São Paulo, vamos contar com o depoimento do Homero Bellintani, pai do Sr. Homero Bellintani Filho, ele tem quase 200 páginas de memorias. Para quem não sabe, Homero é um dos fundadores do São Paulo FC em 1935. Só isso. Sr. Caboclo e Sr. Kalef estão no São Paulo desde a década de 60, ainda tem outras pessoas como o ex-vereador João Brasil Vita – amigo do meu pai há 30 anos – que é o sócio número 2 do São Paulo. Até o Sr. Laudo Natel está sendo cogitado para falar no livro. Um outro, ainda em vias de conversas, será algo espetacular e merecido, mas ainda é segredo.

Com relação ao livro, bom, o que eu posso dizer é que tem muitas, mas muitas histórias jamais contadas ou publicadas. Tem muita curiosidade não apenas do Telê, mas do São Paulo FC como um todo na época mais vitoriosa. Por exemplo, muita gente sempre frizou que o Raí era o preferido do mestre, por ser o lider em campo. De fato era, de fato eles fizeram uma grande dupla, mas o preferido e quem o Telê mais ouvia era outro.

Não apenas as histórias clássicas como ele ensinando o Cafú a cruzar, mas os conselhos que dava, o lado comediante do Telê, um grande contador de histórias. Pouca gente sabe, mas no ônibus indo para os jogos, Telê era a grande vítima de piadas de um jogador. E quer saber que mais ria com as piadas? O próprio Telê. Seu lado pão duro ao extremo. Moraci Sant’anna e o Muricy contam histórias como eles sofriam com isso do mestre, ele não dava nem um gole de água para ninguém. Mas nem só de coisas legais tem o livro, eu consegui depoimentos fortes sobre o fim do mestre, sua doença e o que realmente aconteceu.

O Blog do São Paulo agradece e parabeniza ao Felipe por sua obra, tempo e incrível serviço à todos os sãopaulinos!

Ficamos ansiosos pela novidade que está guardando!

Você pode comprar o livro por aqui: www.livrotelesantana.com.br