Adjetivos para Justificar o Comando 

Algumas palavras são comuns em qualquer vocabulário de treinadores, comentaristas e experts no assunto futebol pelo mundo. Dentre os clichês, existem aqueles que trabalham duro e convertem uma fala apurada, bonita e marqueteira em resultados efetivos.

Rogério Ceni sempre se destacou no São Paulo por algumas razões e não por sorte. Além da aptidão e do talento óbvios, podemos destacar com tranquilidade e consenso que entre as principais estão: determinação, foco, trabalho duro, dedicação, treino, comprometimento e liderança. São estes adjetivos que o credenciaram de forma unânime a poder ser um treinador.

É evidente que há o amor à camisa envolvido, a responsabilidade maior com a torcida, a história do São Paulo e sua própria história. Mas, o que parece mais latente a todos agora, é que ele imporá um estilo ao clube que seja muito pautado nestes pilares que solidificaram a própria carreira. A opção por treinadores estrangeiros para compor sua comissão não é acaso. Ele quer estilos táticos de primeira linha mas quer que isso seja fruto de trabalho e resultado de treinamento. Michael Beale, o inglês que escreveu 9 livros de tática, formação de equipe e treinamentos é o espelho disto. A parte dos fundamentos, repetição, formação e prática incessante é o caminho escolhido. Afinal, consulte em qualquer lugar a razão de Ceni conseguir bater bem na bola e conseguir ser um exímio batedor de faltas: treino, treino e mais treino. Chegar antes dos outros, sair depois. Treinar, treinar, treinar.

Ceni virou um jogador diferenciado na insistência, na luta. E podemos esperar isso dele sendo passado aos demais.

Teoria à Prática

Todos tinham curiosidade, seja sãopaulino ou não para saber o que sairá de Ceni como treinador. É unanimidade que a mídia explorará isto de forma cansativa para o bem e para o mal.

Desde sua apresentação no início de Dezembro, Ceni vem trabalhando arduamente no CT da Barra Funda. Todas as pessoas que ouço acompanhando, informam que ele passou muito tempo com seus assistentes, com o Departamento de Scout, planejando, se preparando, acompanhando os meninos da base, treinando os garotos etc. Ele vem com um gás desproporcional que é o que realmente o fez ser diferente como goleiro e referência mundial. Ele vem aplicando a fome, o desejo de glórias que afirmou em sua entrevista como quando treinava como jogador chegando antes, saindo depois.

Na teoria, nas entrevistas, se falou : “Moderno, intenso, ofensivo e agressivo o tempo todo”.

Para isto, Ceni quer competitividade o tempo todo, time forte e destacado. E o que vemos nos treinos para isto então?

O dia a dia

A primeira coisa que foi bacana foi Ceni fechar seus treinos para a mídia. Muitos arriscaram criticar o treinador mas sabem o peso de uma crítica dessas a ele agora.

A imprensa ainda está perdida, curiosa e surpresa. Se vai dar certo ou não, é uma coisa. Mas que ele vem surpreendendo, vem.

O que se percebe: quem viu os treinos no Brasil e na Florida nestes primeiros dias, resume em uma palavra Ceni treinador: intensidade.

Sob chuva ou sol,  forte ou não, é o mesmo ritmo alucinante, vibrante, como que jogando com o grupo.

Exigindo uma potência de jogo e gana pela bola o tempo inteiro, Ceni cobrou duro de que todos fossem para cima, buscassem o gol, lutassem pela posse de bola e já fossem para cima do adversário.

Cobrando dos jogadores em campo reduzido como se fosse jogo efetivamente, podemos imaginar que jogadas duras, cobranças e competição entre os atletas aconteceu. Quando não se ouvia vibração, Ceni exigiu que houvesse comunicação em campo entre os jogadores.

Com objetos inovadores, metodologias diferentes, ele prendeu a atenção dos jogadores. Todos comentam que Ceni está trazendo inovações e que os treinos estão sendo interessantes, que é diferente sentir o treinador ali, vibrando, jogando junto ao contrário de só dando ordens e cobrando ou apenas analisando de longe.

Como está treinando?

Todos os dias antes das atividades, Ceni conversa com Beale e Hembert. Ao mesmo tempo, o grupo dos goleiros treina com Haroldo Lamounier.

Cada um dos treinadores pega uma parte dos jogadores. Eles são divididos em pequenos grupos e um gol pequeno. Ceni pede disputa rápida e gol veloz. Partir para cima ou dar o bote, marcar e agredir ou tomar a bola rapidamente.  Sem esperar.

Em outros momentos, Ceni colocou três grupos em que só podia um toque na bola, outros buscando o desarme.  Aos poucos, eles rotacionam nas posições.

Em outra atividade, quatro grupos foram criados em que dois times enfrentavam os outros. Apenas dois toques ou um toque na bola era permitido. As trocas e transições rápidas eram pedidas, Ceni, Beale e Hembert distribuídos. Cada boa jogada, gol ou roubada de bola, Ceni vibrava e comemorava muito. Já os auxiliares cobravam mais velocidade e agilidade nos toques com intensidade,  sempre para frente.

Beale é mais observador e Hembert mais falador nos treinos. O francês orienta bastante e o inglês organiza mais as atividades. Os auxiliares focaram mais no setor defensivo e Ceni com a parte ofensiva em alguns momentos. Em outros, Ceni treinou os goleiros e cobrou passes rápidos, toques ágeis. Depois ainda colocou goleiros tocando com zagueiros para a saída de bola. Não satisfeito, colocou ainda atacantes para marcarem. E mudava, insistia até dar certo.

Se irritava, sofria com erros. Queria ver dar certo.

O que é constante: Ceni fica de perto, como se estivesse no cangote de cada um.

A vibração por um acerto e por um erro era enorme. Se irritava muito com vacilos e descuidos mas comemorava uma boa jogada e enfatizava como daria certo em cada jogo aquela repetição. Ele pedia gol rápido e finalização sem medo, toque, tabela, passagem, movimentação, alta rotação.

Enfatizou que contra ataques certos e boas trocas dariam opções de jogo e escape. Finalizações certas, passes sem prender bola, boa visão e inteligência de jogo mesmo no treino buscando o gol o tempo todo com muita velocidade.

Como ele afirmou em suas entrevistas, ele quer os treinos simulando os jogos constantemente e que os jogadores aprendam a raciocinar rapidamente sempre. Que criem alternativas e consigam desenvolver jogadas novas e aperfeiçoem as qualidades, corrijam os defeitos e evoluam.

Vídeo do 1o dia de treino:

2o dia de treino:

Conclusões da Imprensa e staff interno

A principal: Ceni dará o que falar pelo estilo diferente. Sua interação é contagiante.

Todos estão gostando e elogiando a sintonia dele com os assistentes.

Atletas estão gostando.

Resultados virão? Não sabemos. Claro que um Calleri no grupo faria uma enorme diferença.

Mas as primeiras impressões são muito boas.

Que Ceni tenha sucesso e o São Paulo retome as glórias!

Alexandre Zanquetta

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