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Há uma fábula muito antiga, da raposa e as uvas.

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Para quem não conhece, vou resumi-la:

Uma raposa estava sob uma parreira e viu suculentos cachos de uvas maduras e logo se interessou. Tentou alcança-las de todas as formas, pulando, correndo e se projetando, mas não conseguiu nada além de hematomas. Não conseguindo alcançar seus cachos, resolveu ir embora sem sequer ter comido uma única uva.

No caminho, encontrou um amigo passarinho que disse: Nobre raposa, daqui vejo uvas naquela parreira, vamos apreciar juntos e colocar a prosa em dia?

A raposa, cheia de pompa responde de pronto, caro amigo pássaro, não vês que as uvas estão verdes? Uvas verdes não são ideais para um paladar tão rico quanto o meu…

Assim é a arrogância que vem tomando conta nos últimos anos de nosso clube.

A culpa de perdermos foi aquele jogador expulso, aquele treinador que não era pra ter sido contratado, aquele jogador que bebeu, aquele que jogou pôquer, aquele Twitter de quando não era profissional, aquela contratação que está baseada no scoutt que deu errado, aquela comissão que era pra não perder o profissional para outra equipe…

Não temos dinheiro porque recebemos menos que os outros, não fechamos patrocínio master porque o mercado está escasso de oportunidades, não pagamos salários porque não temos caixa…

Por outro lado, toda janela vemos a promessa de jogadores de seleção, que decidem, protagonistas, ouvimos que esse ano o planejamento foi feito antecipadamente, que contratamos um treinador de ponta, que temos um dos melhores elencos do país, que esse ano vamos disputar títulos.

Chegamos no final do ano e ouvimos que as uvas estavam verdes.

Contratamos Rogério para treinador e prometemos uma equipe competitiva. Trazemos auxiliar do futebol inglês, com larga experiência em futebol de base, com passagem por Liverpool e Chelsea.

Será que no final do ano também não continuaremos dizendo que as uvas estão verdes?

Não atacamos o ponto chave da questão.

Somos capazes de admitir que nosso elenco é fraco, mas adoramos ressaltar as qualidades quando ganhamos de times importantes.

A campanha foi pra esquecer, mas viramos a página e prometemos que teremos um elenco competitivo à um treinador sem experiência, mas com total identificação com a torcida. Geramos mídia, criamos esperança.

Há no São Paulo uma conduta, um modus-operandi de iludir a quem quer que seja que estamos há um passo do sucesso. Sempre no início do ano acreditamos que vamos muito além do que realmente iremos e vemos (alguns) dirigentes se omitirem ou tentando sangrar ainda mais o clube em busca de cumprir promessas que não deveriam ter sido feitas.

E quem sabe se seriam cumpridas?

Antecipar cotas da TV com a promessa de montar uma equipe competitiva para Rogério é iludir a todo mundo, comissão técnica, diretoria, torcedores e o próprio Ceni.

Promessa igual foi feita em seu derradeiro ano como atleta profissional.

Vi grandes personalidades da mídia tricolor defendendo que antecipar o dinheiro, colocando em uma aplicação(!?!) ou pagando contas com esta verba, traria saúde financeira ao clube.

Alto lá, será que essa prefeitura chamada São Paulo Futebol Clube vai inaugurar obra faltando 4 meses para a próxima eleição? Sacrificar o futuro em troca de iludir (ainda mais) o presente?

Na minha modesta opinião, montar um time forte para a próxima temporada é tão utópico quanto não reconhecer que precisamos começar do zero, descer dessa prepotência, reconhecer que dependeremos mais ainda da base, cada vez mais.

Contrata-se um auxiliar de futebol que tem experiência em futebol de base, espalha-se notícias que Ceni viu e se encantou com a base vencedora mas quero dinheiro pra trazer Felipe Melo, Nilmar, Ricardo Oliveira…

O que a diretoria quer para o São Paulo?

Se antecipássemos a cota da TV e trouxéssemos Felipe Melo e Nilmar, pagando um salário alto, resolveria o problema?

Não aprendemos com Luís Fabiano e Maicon?

Realmente precisamos gastar fortunas por um único jogador?

O torcedor, pelo menos uma parte deles, entende um time que está sendo montado para ser vencedor, um time que dá chance para a base e mescla com jogadores que vão “segurar o rojão”.

Não é possível que na base não tenhamos jogadores melhores que Gilberto, Jean Carlos, Ytalo, Wesley, Kieza, Luis Eduardo, Wilder, Daniel, Pabon, Roger Carvalho, Lucio, Wallyson, Silvinho, Roni, Reinaldo, Clemente Rodriguez, Antonio Carlos, Welliton, Souza e Negueba…

Esses reforços citados acima foram contratações dos últimos 4 anos. Todos eles jogaram pelo menos uma vez na equipe titular. Todos eles oneraram o caixa do clube, senão com aquisição dos direitos, pelo menos com salários. Todos eles ocuparam um espaço que poderia ter sido dado para alguém da base.

O que torcedor não entende é porque vimos tanta gente com a camisa do São Paulo, ganhando um alto salário, porque trazer tanta gente que sabíamos que não ia dar certo?

É tanto erro que, dos 20 jogadores que eu citei, nenhum deles é cogitado para ficar no tricolor em 2017. 14 deles inclusive nem tem vínculo algum com o clube. Talvez no primeiro dia da próxima temporada, nenhum dos 20 mais tenha. E olha que se for fazer um pente fino da situação, chegamos em pelo menos mais uns 20 desse tipo.

Mas precisamos de dinheiro, precisamos de reforços, precisamos nos iludir novamente, afinal, não fomos nós que não contingenciamos a dificuldade em alcançar os objetivos, eram as uvas que estavam verdes mesmo…

Papo Reto e Papo Torto

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E nessa semana o papo reto fica por conta da esperança que criamos ao vermos as cotas de TV não sendo antecipadas. Em época eleitoral  a grana que vai entrar do Oscar somada a este adiantamento poderiam iludir mais uma vez o torcedor.

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A velha política de sempre no tricolor:Leia mais aqui

E para a trilha sonora de nossa prosa de hoje, de Álvaro Maciel e Wanderley Monteiro, na voz de Dorina, que tem um título bem sugestivo: “Não vou me iludir”