“Luís Fabiano. Luís Fabiano. Luís Fabiano.”

O insistente coro da torcida do São Paulo aumenta a cada partida no Morumbi. E tem um efeito especial, diferente em uma pessoa no velho estádio. Entra por seus ouvidos e o arrepia. Carlos Augusto Barros e Silva fica nervoso, tenso assim que o ouve.

Leco não pode nem ouvir falar no atacante. O terceiro artilheiro da história do São Paulo Futebol Clube. Maior autor de gols no Morumbi. O autor de 212 gols com a camisa tricolor não o interessa. O dirigente repete a conselheiros. Não quer saber se ele está sem clube. O dirigente lembra que ele acabou de completar 36 anos, teve uma série de contusões na sua segunda passagem pelo clube.

Mas só isso não estava bastando. Ele precisava ter um argumento final. Que calasse os saudosos do artilheiro. E, por ironia, oferece um ainda mais velho. E com apenas 15 gols em duas passagens pelo São Paulo.

Ricardo Oliveira.

Depois de vários goles de cerveja em um restaurante tradicional do centro de Santos, Leco e Modesto Roma Júnior conversaram por duas horas. Exerceram, com prazer, o sonho de vários torcedores. Conversaram a sério sobre a troca de jogadores, prática injustamente esquecida em um país mergulhado na recessão.

Dorival Júnior sabia desse encontro. Ricardo Gomes, não. O treinador santista deixou claro a Modesto Roma que deseja Michel Bastos e Lucão, dois jogadores que o São Paulo não está utilizando. E esperto, ofereceu atletas que não o interessam para o próximo ano. O meia Serginho, que retorna do Vitória, o atacante Lucas Crispim, que está no Atlético-GO, o volante Lucas Otávio, que voltará do Paraná.

O treinador santista tinha já a certeza que esses atletas não estimulariam Leco. Nem com muito chope. Modesto tinha uma carta na manga. Alison. O volante, ótimo na marcação, é disponível para Dorival. Desde que tenha Michel Bastos, seu maior desejo.

Mas Modesto Roma quase engasgou quando Leco respondeu que por Michel Bastos, jogador com passagem pela Seleção Brasileira, só outro com essa vivência, respeito. Ricardo Oliveira.

A proposta deixou o presidente santista desorientado. Pelo menos a princípio. Mas ele saiu da conversa com muitas dúvidas. E elas só pioraram com o vazamento da informação. Modesto deve a Ricardo Oliveira uma última grande transação na carreira.

Em março, o clube disse não ao Beijing Guoan. O clube receberia R$ 18 milhões pelo atacante. O dinheiro seria dado pelo próprio jogador. Ele tinha acertado contrato de três anos, recebendo R$ 1,5 mensais. Mais bônus por artilharia, conquistas. O jogador estava empolgadíssimo. Receberia R$ 54 milhões e, descontados os R$ 18 milhões que deixaria na Vila Belmiro, ainda lucraria R$ 36 milhões.

Só que tinha contrato até o final de 2017.

O Santos se recusou.

A transação não se efetivou. O rendimento do jogador declinou de maneira assustadora. Deixou de ser convocado para a Seleção. Embora se esforce, perdeu claramente o entusiasmo que o motivava, por exemplo, em 2015. Muitos membros da diretoria santista se arrependeram por não liberá-lo.

Chegou a hora de recompensá-lo.

E ele irá cobrar, depois da proposta do São Paulo.

Em Santos, há a certeza que o vazamento da pedida de Leco por Ricardo Oliveira não foi por acaso. Tinha exatamente o objetivo de fazer o jogador forçar sua saída. Modesto Roma não terá facilidade em outra vez fechar a porta de uma transação lucrativa para o jogador na fase final de sua carreira.

Michel Bastos já deixou claro à direção do São Paulo. Aceita ir para qualquer clube grande do Brasil. O Corinthians se interessa pelo jogador. Mas Leco não quer negociá-lo com um rival tão direto, da Capital. Preferia, na verdade, o Cruzeiro. Mas o clube de Belo Horizonte desistiu há muito tempo. Não vai trocar Willian, o atacante que interessa a Ricardo Gomes, por Michel Bastos. Os dirigentes mineiros o enxergam sem motivação para seguir jogando. Bem ao contrário de Dorival Júnior.

Lucão sabe que, apesar de estar envolvido na transação por Maicon, o Porto não quer o jovem zagueiro do São Paulo. Assim como também tem a noção que está cercado de desconfiança no Morumbi. A chance de ser titular no Santos o interessa. Se depender dele, a troca será efetivada.

O mesmo raciocínio vale para Alison. Sem maiores chances na Vila Belmiro, ele acredita que tudo pode mudar no Morumbi. Não há nada que o impeça de ir.

Os dirigentes deixaram o restaurante animados. Certos que podem reviver as velha política de troca-troca entre Santos e São Paulo. Como na ida de Pita para o Morumbi e Zé Sérgio e Humberto à Vila Belmiro. Como a mais recente: Arouca por Rodrigo.

Tanto Leco como Modesto Roma acreditam que levaram vantagem. O presidente santista tem certeza que Michel Bastos e Lucão seriam grandes reforços para a Libertadores de 2017. Mesmo se tiver de aumentar o teto de R$ 200 mil pelo volante. Ele recebe R$ 350 mil no Morumbi.

Já Carlos Augusto Bastos e Silva tem a certeza que Alison será um volante pegador que falta ao elenco. E, principalmente, Ricardo Oliveira será o grande artilheiro, ídolo para o clube em 2017.

E calará o coro que tanto o irrita.

“Luís Fabiano, Luís Fabiano, Luís Fabiano…”

Cosme Rímoli