Rogério Ceni e Ricardo Gomes. Dois personagens importantes, com história nofutebol. De um lado o maior ídolo do São Paulo e, ansioso por estar há um ano longe do futebol. Está ávido para começar a trabalhar como técnico no Morumbi em janeiro de 2017.

Do outro, um ex-excelente jogador de futebol. Com dez anos de Seleção Brasileira. Reverenciado no Fluminense, Benfica e Paris Saint-Germain. Treinador esforçado, trabalhador, competente. Amor pelo futebol que o transforma em caso raro no mundo. Depois de dos AVCs enfrentou médicos e família e segue trabalhando como técnico.

Leco completa hoje um ano como presidente do São Paulo. E o que o dirigente está fazendo com os dois é lamentável. Deixa claro que não passam de meros peões no xadrez no jogo da reeleição. Ele estimula os dois. Insinua que ambos podem comandar, organizar, montar o time de 2017.

O que mostra o quanto ele é indeciso, não tem qualquer convicção. Porque cada um deles representa uma filosofia completamente inversa. Ricardo Gomes tem exatos 20 anos de carreira. Seus times são compactos, optam pelos contragolpes em velocidade, pelos lados do campo. São intensos quando atuam em casa, com marcação alta. Mostram certo problema de recomposição. E nas bolas aéreas. Ele é um líder discreto, que costuma respeitar muito os jogadores. Por isso são raríssimos os problemas no ambiente dos grupos que forma.

Rogério Ceni como técnico é uma verdadeira incógnita. Ele sempre teve uma visão tática quando foi jogador. Apesar de goleiro, muitas vezes, atuava como líbero. Nas entrevistas detalhava com perfeição a dinâmica do São Paulo e do adversário. Apontava erros e acertos que escapavam dos críticos, dos jornalistas. Alguém especial, com muito embasamento.

Nos 1.238 jogos e 132 gols que marcou pelo São Paulo, Ceni teve íntima relação com os mais variados treinadores. Desde vitoriosos como Telê Santana, Muricy Ramalho, Parreira, Carpegiani, Levir Culpi, Cuca, Juan Carlos Osório. Até outros nem tanto, como Leão, Adilson Baptista, Ney Franco, Doriva. Teve um painel espetacular.

Além disso, foi fazer curso na Inglaterra. E está estagiando com Jorge Sampaoli no Sevilla.

Mas não tem prática alguma.

Tanto Ricardo Gomes como Rogério Ceni não param de dar recado pela imprensa. Querem estar no comando do São Paulo em 2017. Mas Leco, inseguro como sempre, está enrolando os dois. Sondando conselheiro por conselheiro. Quer saber qual dos dois traria mais apoio, mais votos na eleição de abril.

Faltam apenas seis jogos para a temporada acabar para o São Paulo. O time não ganhou nenhum título em 2016. Não estará na Libertadores de 2017. Em termos práticos, o ano foi um fracasso dentro do gramado para Leco. Desde que assumiu, o time perdeu por 6 a 1 para o Corinthians. Chegou à semifinal da Libertadores. Perdeu Edgardo Bauza porque o presidente não acreditou que ele iria ser chamado para a Argentina. Gastou cerca de R$ 30 milhões com Maicon, um jogador de 28 anos, sem poder de revenda nem pela metade para a Europa.

E foi sob a direção de Leco que o CCT da Barra Funda foi invadido. Jogadores tomaram tapas e chutes de vândalos das organizadas. E nada de prático aconteceu com os invasores.

Para não perder força política manteve na sua diretoria, Ataíde Gil Guerreiro, homem que foi expulso do Conselho Deliberativo do clube por suas negociações com o também expulso, o ex-presidente Carlos Miguel Aidar. Viu seu vice, Roberto Natel, abandonar a diretoria. Luiz Cunha, diretor de futebol, abandonou o cargo depois de três meses. Gustavo Vieira deixou de ser protegido por Leco foi demitido por cair em desgraça com os conselheiros. O presidente se viu obrigado a convidar seu inimigo político Marco Aurélio Cunha, também pensando mais em eleição do que no time.

A prometida reformulação no elenco também tem depende do que os conselheiros querem. Não há postura definida de Leco sobre nada. Se contrata um novo goleiro, se segue apostando em Denis. O que fazer com Wesley. Carlinhos e Michel Bastos vão sair porque querem. Não há uma definição sobre a filosofia do time de 2017. Contratação de grandes jogadores ou investimento maciço na base? Cada dia, Leco fala uma coisa.

Só tem certeza que venderá Rodrigo Caio.

E que investirá esse dinheiro na busca de jogadores.

Leco segue cruel, perdido em relação ao técnico. Embora tenha se animado com Ricardo Gomes, porque o time acabou o namoro com a zona do rebaixamento, ele teve uma longa conversa em agosto com Rogério Ceni. Ouviu a pretensão do ídolo em ser o técnico do São Paulo. E já em 2017.

Aos 43 anos, Ceni é muito vivido e inteligente. Sabe que é um enorme trunfo político na eleição de abril. Sabe que se Leco o anuncia como treinador, virará escudo do dirigente. Só que, inseguro como sempre, o presidente tem medo dos primeiros meses, do Campeonato Paulista. Ele não sabe se o início de carreira do ex-goleiro será fulminante como ele precisa.

Porque se Ceni fracassar, além de decepcionar aos conselheiros e torcedores, o afundará junto. Sabe que será acusado de apostar em um novato. Leco adoraria que Rogério assumisse os juniores. Mas o ídolo não quer. O que torna tudo difícil.

O próprio interessado deixa escapar como é prisioneiro do seu ego.

“Eu tenho vontade de ser técnico, mas um medo desgraçado, porque vão me chamar de burro. Você já parte como burro, os outros adjetivos você ganha no caminho. Quando você escala um time, você já é burro. Você deixou de fora alguém que uma pessoa gostaria que estivesse em campo”, disse à ESPN/Brasil.

O presidente também tem medo da personalidade do ex-goleiro. Mas sabe quantos votos ele poderia trazer. Por afinidade, Leco estaria mais disposto a manter Ricardo Gomes. Só que uma análise fria da campanha do técnico mostra o quanto ela foi fraca.

A verdade é que o presidente do São Paulo está jogando politicamente com Rogério Ceni e Ricardo Gomes. O treinador dependerá de quem puder trazer mais votos no pleito de abril. Simples e cruel assim.

Se o atual treinador ganhar os seis últimos jogos, com ênfase ao clássico contra o Corinthians, no Morumbi, poderá ficar. Se perder, o time for humilhado, a aposta será em Ceni.

Ambos estão sendo usados, sem piedade.

Poucas vezes na história, o São Paulo foi tão amador.

Com um presidente/candidato completamente perdido.

Inseguro e pensando mais no seu futuro do que no clube.

Situação constrangedora.

Mais até do que a comissão na venda de Jorginho Paulista…

R7 – Comes Rímoli