A Lenda do Título Perdido

roberto gomes pedrosa 1956

Há quem diga, se o leitor procurar nos sites corretos, que a Lenda do Tesouro Perdido 1 & 2, interpretados por Nicolas Cage, são os melhores filmes da história. Mas lembre-se caro leitor que você deve procurar nos sites corretos! IMDb não vale.

E o que diabos tem o São Paulo a ver com esses filmes? Se você pensou “absolutamente nada”, você está coberto de razão. A menos que um dia Nicolas Cage decida virar técnico de futebol e treine o São Paulo, nunca mais voltaremos a citar a obra prima neste blog. Entretanto, vou usar uma licença poética de emprestar o nome do filme para narrar uma história pouco conhecida dos tricolores: A Lenda do Título Perdido.

Se alguns de vocês já se prestou a decorar todos os anos em que o São Paulo foi campeão, a sequência sai como uma música: 1931, 1943, 1945, 1946, 1948, 1949, 1953, 1957 e por aí vai, até 2012.

Não vou me ater ao fato de que nós torcedores temos o péssimo habito de ignorar a Taça dos Campeões Rio-São Paulo (o tira teima entre os campeões paulista e carioca) da qual somos o maior campeão. Hoje irei narrar uma outra história, sobre um outro torneio regional.

O ano era 1956, e o Torneio Rio-São Paulo fervilhava. Conhecido a época como Torneio Roberto Gomes Pedrosa (homenagem ao ex goleiro e presidente do São Paulo), o Rio-São Paulo crescia ano a ano e iria, uma década depois, englobar outros estados e se tornar o Campeonato Brasileiro.

Mas voltando a esta disputa em especifico, o torneio de 1956 já rendia polemicas antes mesmo de começar. Os clubes cariocas alegavam que o torneio deveria ser disputado no segundo semestre, pois seus times estavam desfalcados devido a convocações para a seleção brasileira. Já os clubes paulistas alegavam que atrasar o campeonato iria gerar prejuízos financeiros muito grandes. Até a CBD se envolveu na disputa, advogando pelo lado paulista.

De pouco adiantou, e os clubes cariocas abandonaram a competição. Entre deixar de realiza-la e disputar apenas entre si, os clubes paulistas decidiram pela segunda opção, e o Roberto Gomes Pedrosa foi disputado aquele ano da mesma forma, mesmo sem os cariocas. Foi um torneio Rio-São Paulo sem o Rio. Sugiro a Alcunha de Torneio de São Paulo a este campeonato.

De qualquer forma, a disputa se dividiu em duas fases: A primeira, chamada fase internacional, foi disputada pelos 5 clubes paulistas (São Paulo, Santos, Portuguesa, time dos italiano e time sem cor) e mais três clubes estrangeiros convidados: Boca Juniors e Newell’s Old Boys da Argentina e o Nacional do Uruguai.

A primeira fase do torneio foi vencida pelo Santos em um jogo decisivo contra o Newell’s. Só faltou avisar aos santistas que esta fase não valia nada, e era praticamente uma fase amistosa. O Torneio pra valer começaria a ser disputado na segunda fase, chamada de Roberto Gomes Pedrosa Nacional, que foi disputada pelos 5 rivais paulistas.

Desnecessário se estender sobre os jogos, o São Paulo foi campeão em cima do Santos no último e decisivo jogo, vencendo por 5 a 3 (detalhe ao gol do genial e inigualável Dino Sani) e conquistava assim seu primeiro título de Rio-São Paulo, mas sem o Rio. Correto? Bem, nem tanto.

É claro que a polemica sobre a não participação dos cariocas voltaria à tona. Afinal, um clube não poderia se considerar campeão regional disputando apenas com time de seu próprio estado. Decidiram, algum tempo depois, tornar o título tricolor como um título sem efeito aos olhos do torneio regional. Ou seja, o Roberto Gomes Pedrosa de 1956 não seria considerado um torneio Rio-São Paulo. Até aí, nada de absurdo, afinal estava claro que o São Paulo havia ganhado na verdade um Torneio de São Paulo.

Curiosamente, entretanto, este título correu a toda velocidade em direção ao limbo da história, aquele lugar obscuro e de difícil acesso, em que as coisas esquecidas e consideradas sem valor são condenadas a habitar. O São Paulo não só deixou de se considerar campeão regional (ou nacional, como era moda falar na época), como deixou de se considerar campeão. Como se o Torneio não existisse. É possível encontrar esta taça listada naquelas listas imensas de títulos amistosos em alguns sites, o que é uma injustiça para um torneio que fora oficial, do início ao fim.

O correto (e justo), seria reconhecermos aquele time campeão. Não do Rio-São Paulo, afinal, quem gosta de aumentar absurdamente a importância dos torneios que ganhou é o rival verde campeão mundial do fax. Mas, por que não, reconhecermos aquele time que tinha entre seus jogadores ídolos eternos como Mauro, Gino Orlando e Dino Sani, como campeões? Sugiro, quando formos recitarmos a poesia dos anos tricolores, botarmos mais um lá no meio: 1931, 1943, 1945, 1946, 1948, 1949, 1953, 1956, 1957 e por ai vai, até 2012.

De minha parte, não esquecerei da lenda do título perdido. Afinal, pouco me importam as canetadas da CBD/CBF. Não há tinta azul no mundo que mude o que foi escrito dentro de campo.

Que se faça justiça então, com o perdão do atraso de 60 anos: Parabéns aos jogadores do São Paulo, Campeões do Roberto Gomes Pedrosa de 1956! O Eterno Torneio de São Paulo!

Lucas

Meias Pretas