Manifesto ao Conselho Deliberativo do SPFC

Ao Conselho Deliberativo do São Paulo Futebol Clube,

Conselheiros, criem vergonha na cara!

O São Paulo Futebol Clube é gigante. Enorme! Muito maior do que qualquer ídolo que tenha passado pela nossa história, muito maior do que as vontades e manias de um Presidente ou “cartola”; e infinitamente maior do que você, Conselheiro.

Não se sinta dono do SPFC, meu caro. Ele não é seu. Aliás, se você for mesmo São Paulino, ele é seu, mas é tão seu quanto é meu e de outros 20 milhões de torcedores apaixonados espalhados pelo mundo.

Não vou me debruçar sobre a vida política do clube, até porque os Srs que aí estão, e fazem parte dela, conhecem muito mais os detalhes do que eu, que estou de fora. Mas não se esqueçam, além de conhecerem os meandros da politicagem do clube, vocês – Conselheiros – sem exceção, também são todos culpados pela situação atual do futebol do clube.

Aliás, são os ÚNICOS culpados, já que o clube vem sendo tocado como o brinquedinho de uma confraria de aristocratas há anos. Um clubinho fechado que sufoca qualquer tentativa de novas ideias, qualquer sopro do NOVO dentro do clube. Basta notar a quantidade de filhos, sobrinhos, genros e similares de conselheiros entre os membros mais recentes (e não necessariamente jovens) do Conselho Deliberativo.

Pois bem, como criticar é sempre muito fácil. Cá estou eu também para sugerir soluções para o NOSSO São Paulo FC.

São três pilares para direcionar o clube no processo de reconstrução esportiva, financeira e administrativa, em ações de curto, médio e longo prazo.

Curto Prazo (Ainda em 2016)

1) Desistam de 2016

Esqueçam esse papo de título de Copa do Brasil ou G4. Esse elenco (des)montado por Leco, Gustavo Vieira e Ataíde Gil Guerreiro já fará um milagre se não rebaixar o clube no Campeonato Brasileiro.

Organizem um pacto financeiro (que parece ser o único motivador de boa parte desses jogadores) pelos 47-48 pontos para evitar uma tragédia maior do que as que já estamos vivendo. Terminem o ano com um mínimo de dignidade.

2) Não estraguem 2017

A ambição política (e o comportamento covarde) têm marcado toda a carreira de Leco dentro do clube. Por favor Sr Carlos Augusto de Barros e Silva, não estrague o ano de 2017 com balões de ensaio e contratações pirotécnicas para tentar se reeleger.

Senhores Conselheiros, parem essa comissão de estatuto (até porque a assembleia realizada em 06 de agosto de nada vale), adiantem as eleições para dezembro e quem for eleito presidente (você ou outro) poderá escolher seu departamento de futebol, elenco etc. sem ter o primeiro ano de gestão e o orçamento comprometido pela gestão anterior.

3) Figuras viciadas do fracasso recente no futebol

Independentemente de quem vença as eleições, as últimas quatro temporadas do SPFC contaram com a presença de Gustavo Vieira de Oliveira e Ataíde Gil Guerreiro no comando do Departamento de Futebol.

Eles são a cara do fracasso recente do futebol do clube, portanto – mesmo se o candidato apoiado por grupos políticos ligados a eles ganhe a eleição – devem ser desligados do futebol Tricolor. Gustavo deve ser demitido e os integrantes do grupo de AGG têm que “largar o osso” do departamento de futebol.

Médio Prazo (A partir de 2017)

1) Reformulação da Comissão Técnica: estabilidade e método

O SPFC foi, por muitos anos, referência para os especialistas do futebol, tanto em estrutura quanto em profissionais. Os melhores médicos, melhores fisioterapeutas, melhores preparadores físicos, melhores fisiologistas. Fomos o espelho/meta para clubes que hoje nos ultrapassaram de longe, como Santos, Galo, Inter e até o Corinthians.

É preciso montar uma comissão técnica fixa nos cargos-chave, com metodologias e filosofias que norteiem o trabalho do departamento de futebol, independentemente de quem seja o Treinador, o Gerente de Futebol etc. Se necessário, inclusive, o SPFC deve buscar de volta profissionais que perdeu para rivais por conta da arrogância de Juvenal Juvêncio e Adalberto Baptista, ou mesmo “tomar” profissionais que estejam se destacando nos rivais.

2) Reformulação na Gestão do Futebol: busca pela vanguarda

O SPFC é gigante e como tal deve ser gerido, principalmente o vestiário e campo. Nosso time profissional não pode servir de estágio probatório para treinadores jovens (Doriva, Sergio Baresi, André Jardine e similares), por mais promissores que sejam.

Além disso, sempre fomos vanguardistas nos métodos de trabalhar e – sendo assim – não podemos tornar o clube um cemitério de dinossauros e medalhões (Leão, Carpeggiani, Abel Braga, Paulo Autuori, Muricy e similares) que fizeram sua carreira num tempo em que talento individual e motivação ($$$ ou psicológica) superavam o trabalho coletivo e a organização tática.

Basta ver que, entre clubes e seleções, a grande maioria dos técnicos de sucesso, e que são considerados os melhores do mundo, iniciou sua carreira de treinador já nos anos 2.000 e seguem em constante evolução dos seus conceitos.

O SPFC precisa de um trabalho sério, de pelo menos 2, 3 anos, para montagem de um time, assimilação de uma filosofia de trabalho e conquista/disputa de títulos.

Não importa se estrangeiro ou brasileiro (embora poucos nomes nacionais se mostrem capacitados), precisamos de um treinador moderno, antenado, capacitado, mas com tarimba. Com experiência na disputa/conquista de títulos, revelação de jogadores e com passagem por times grandes (acostumado com a pressão).

Exemplos? De cabeça consigo lembrar de Fernando Jubero (Olímpia-PAR), Reinaldo Rueda (Atlético Nacional-COL), Roger Machado (Grêmio) e Dorival Júnior (Santos).

3) Reformulação do elenco: comprometimento e potencial

Está claro que o(s) elenco(s) montado(s) por Gustavo Vieira e Ataíde Gil Guerreiro no(s) último(s) ano(s) não serve(m). Embora possamos identificar bons valores e também jovens com potencial ali no meio, é nítido que – no geral – a grande maioria desses atletas não deu e não dará certo no SPFC.

Portanto, a nova comissão técnica e o novo treinador devem ter total apoio e autonomia na reformulação do elenco. Nada de apadrinhados, jogadores amigos de diretores/conselheiros etc. no elenco. O importante não são os nomes, mas sim que a sua escolha respeite critérios técnicos e não de “business”.

Longo Prazo (no decorrer do mandato do próximo presidente)

1) Novo Estatuto: Modernidade

Não são 120 dias de “discussão e sugestões” que vão definir um novo Estatuto que vá corrigir anos e mais anos de atraso no feudo montado por Juvenal Juvêncio e sua trupe.

É preciso discutir seriamente isso durante os três anos da próxima gestão presidencial, pois o novo estatuto deverá nortear tópicos importantes da gestão Tricolor, dos quais falo a seguir.

2) Sócios devem votar

Chega das eleições viciadas dessa confraria de aristocratas que se tornou o nosso Conselho Deliberativo, sempre decididas na base da troca de votos por cargos do que com base na plataforma de governo e dos planos para o clube.

É preciso definir um modelo para que Sócios do Clube e também os Sócios Torcedores possam votar nas eleições presidenciais. Não importa se seja um modelo de eleições diretas ou indiretas, os Sócios têm o direito de participar e decidir o processo.

3) Separação Social e Futebol Profissional

Os caminhos do futebol não podem ficar amarrados à reforma de piscina, novas churrasqueiras ou a uma quadra de biribol. Essa “massaroca” de interesses só favorece a politicagem em detrimento de uma administração profissional.

4) Profissionalização da Gestão

Mais uma vez a busca pela vanguarda. O futebol movimenta muito dinheiro e más decisões (ou más intenções) podem jogar pelo ralo dezenas de milhões. Assim como os negócios no entorno do esporte (marketing, TV, contratos de imagem etc.) se profissionalizaram, a gestão esportiva precisa ser feita por profissionais orientados e cobrados para apresentar resultados, esportivos e financeiros.

Chega desses supostos abnegados e amadores administrarem o clube sem qualquer responsabilidade ou consequência por atos irresponsáveis.

Precisamos de uma estrutura executiva na gestão do clube de futebol, com CEO > Diretores > Gestores e Coordenadores > Analistas e Assistentes. Todos remunerados, trazidos do mercado, com metas a cumprir, constantemente auditados e – o principal – sem qualquer apadrinhamento político.

A partir daí, a estrutura eleita (Presidente e VPs) passaria a compor um Conselho Administrativo que vai orientar, aconselhar, acompanhar e dar suporte aos executivos, mas que não tomará mais as rédeas das decisões diárias e sim cuidará de definir metas e objetivos de longo prazo para o clube, avaliar a gestão executiva e servir de ponte entre a gestão executiva e o Conselho Deliberativo.

Governança corporativa e gestão executiva profissional urgente!

5) Enfrentamento da Dívida

Anos e anos de gestões amadoras levaram diversos clubes brasileiros (e do exterior) ao caos financeiro, quando não à completa bancarrota. Com o SPFC não é diferente. Estamos endividados e – por incrível que possa parecer – a dívida cresceu quase que na mesma medida em que as receitas aumentaram (consideravelmente) durante a primeira década dos anos 2.000.

A próxima gestão (e o final dessa atual) devem manter o compromisso de não ampliar a dívida, renegociar pendências, controlar empréstimos, juros bancários e não adiantar receitas para preparar o terreno ao enfrentamento da dívida atual pela gestão executiva vindoura.

Conclamo os Conselheiros do clube a se mostrarem são paulinos de verdade. Dispam-se de vossas vaidades e coloquem o São Paulo em primeiro lugar.

Parem com essa sede doentia por poder, por querer aparecer e lutem para mudar o clube nos próximos três anos. Atacando firmemente os problemas atuais, mas – principalmente – pavimentando o caminho para voltarmos a crescer e vencer num futuro próximo.

Ainda há tempo, mas ele está acabando e muito em breve acabaremos entrando num looping 1ª e 2ª Divisão, como muitos outros (ex)grandes do País.

Senhores Conselheiros, criem vergonha na cara e lutem em prol do São Paulo, não pelo poder no São Paulo.

Atenciosamente,

Danilo Pádua

Jornalista, 31 anos, são-paulino