Há alguns anos frequento o Blog do São Paulo (que ainda era Blog do Zanquetta quando eu comecei a acompanhar). Durante todos esses anos, nunca usei outro “nick” que não fosse meu primeiro nome, Lucas, simples como deve ser. Contudo, os anos passam, o blog foi ganhando o merecido reconhecimento e cresceu, e passou a abrigar os mais variados Lucas. Do Lucas (Jogador) ao Lucas (este que vos escreve), passam uma variedade de jogadores, comentaristas, cornetas, cavaleiros do apocalipse.

Durante anos resisti com meu “nick” intacto. A foto escolhida para ser avatar do wordpress me parecia suficientemente distinta para não gerar confusões, e apesar do nome Lucas ser o decimo mais comum das terras brasileiras, no blog eu sentia como se o nome Lucas fosse de minha propriedade inalienável.

Claro, o dia da mudança chegou. A quantidade de Lucas no blog aumentou tanto que me senti na obrigação de me distinguir um pouco mais. Talvez o avatar das tirinhas do Cyanide & Happiness vestido de tricolor ainda fosse suficiente, mas isso é debate para outro dia. Escolhi adotar, na sequência do meu nome, um pedido eterno – Meias Pretas

“To lendo uma coluna sobre o por que ele mudou o nick dele?” O leitor pode estar pensando. Admito, a deixa para entrar no real assunto desta coluna pode não ser das melhores ou das mais interessantes, mas agora é tarde demais para voltar atrás. “ Mas afinal de contas colunista, por que a fixação com as meias pretas? ”

Não é tão difícil explicar. O pessoal do blog que tiver uma memória melhor, lembrará de minha coluna de alguns meses atrás, onde eu defendia um conceito singular e um tanto controverso de que não existe absolutamente nenhuma diferença esportiva entre o C. A. Paulistano e o São Paulo F.C. e, portanto, deveríamos considerar toda a história conjunta do Paulistano e do São Paulo como uma única história de um time nascido da elite paulistana de origens brasileiras ( e não estrangeiras, ponto fundamental que diferenciava o Paulistano dos outros clubes na fundação da primeira federação paulista).

Há muitos elementos que argumentam a favor da minha “tese”: os jogadores que compunham o time, como se deu a formação do São Paulo, a própria escolha do nome do clube, e principalmente, o fato da torcida do Paulistano ter se tornado a torcida do São Paulo. Mas há ainda, um outro ponto de ligação ainda mais sutil. Qual? As meias pretas.

O uniforme do Paulistano consistia de uma camisa branca (camisa mesmo, com botões), um short branco amarrado com o um cordão vermelho e meias pretas. Não diferente disto, o primeiro uniforme do São Paulo consistia de Camiseta branca cruzada por faixas vermelha, branca e preta, um short branco e meias pretas. A intenção do clube ao meu ver sempre foi óbvia: Era nítido que o São Paulo queria ser reconhecido como o Paulistano repaginado, ou como defendi em outra coluna, o Departamento de Futebol do Paulistano que ganhou vida própria.

As tradições do Paulistano viviam no recém fundado São Paulo. O novíssimo clube tricolor projetava uma enorme sombra alvirrubra por trás de si. Uma sombra que invocava os 14 títulos paulistas, o futebol galante de ídolos como Prado Junior e Fried, a sombra do primeiro clube a ser campeão nacional. Era a invocação constante do passado dos Reis do Futebol.

Mais do que um simples capricho, as meias pretas eram também um símbolo de continuidade. O tricolor manteve-se com o mesmo uniforme durante uma década e meia. As meias pretas sobreviveram a extinção do São Paulo em 1935 por motivos políticos (Não, o São Paulo não faliu), voltaram junto com o São Paulo na refundação do clube. As meias pretas estavam nos títulos de 1931 e 1943. Nos vices de 1930, 1932, 1933, 1934, 1938 e 1941.

Até que de repente, e não mais que de repente, o uniforme se tornou semi monocromático. Um branco da gola ao último fio dos pés, quebrado apenas pelas faixas tricolores. O ano do abandono das meias pretas foi em 1944. Procurei o Michael Serra, historiador do São Paulo, para procurar mais informações sobre o porquê da mudança: “ Até hoje, nunca descobri” disse ele. Aparentemente, não há algum motivo consistente. Talvez tenha sido apenas algum capricho dos dirigentes. Talvez tenha faltado meião preto na loja naquele dia. Talvez eles tenham chegado à conclusão que “ Da para lavar meia branca agora, os gramados não são mais tão lamacentos. ” A verdade? Esta meus amigos, está perdida no tempo.

Não mais curioso que o abandono das meias pretas, foi seu resgate em 1993: Também sem nenhum motivo aparente, o São Paulo readotou as meias pretas durante o primeiro semestre daquele ano, eternamente lembrado pelo título da Libertadores. Porém, o resgate não foi mais do que um sonho de verão, e tão logo como voltaram, foram embora.

Existe outro episódio também que gera uma baita duma confusão: No ano 2000, ano do centenário de nossa história, o São Paulo entrou em campo durante o torneio Constantino Cury com o uniforme do Paulistano, para homenagear os 100 anos do clube. Porém, há algo no mínimo intrigante nessa homenagem: O São Paulo utilizou meias vermelhas durante a homenagem. Questionei o Michael sobre este episódio também, e indaguei se teria sido um erro ou seria proposital. A resposta não foi muito conclusiva “ não se sabe, pode ser um erro ou pode ter sido proposital. Alguns livros constam que o paulistano usava meias vermelhas, apesar de na maioria das fotos, ser evidente que eram pretas”.

Talvez nunca descobriremos o porquê das mudanças, e agora também, não importam tanto assim. Mas eu me manterei firme em meu pedido: Voltemos a usar as meias pretas! Um sinal de respeito com nossa própria história. Não a que dizem ter começado em 1930, mas sim toda a nossa história, que começou naquele distante ano de 1900.

Lucas
O das meias pretas

Em tempo: Obrigado ao Michael Serra por ter sido tão solicito no Twitter!

Link das imagens

http://cacellain.com.br/blog/?cat=51

http://noticiasspfc.com.br/a-fundacao-do-sao-paulo-futebol-clube/