Ultimamente a torcida parece ter se polarizado entre os críticos da gestão atual e os que os defendem.

Isso é natural em uma sociedade democrática.  E ainda mais em um clube que visa em primeiro lugar o objetivo desportivo, a glória por títulos.

É por isso que pelo eu, torço!  E pensando a longo prazo, e chegar no topo e poder se manter.

Não queremos ser como outros clubes, que ganham um título e nos anos seguintes, ficam várias rodadas na zona de rebaixamento.

Cresci ouvindo de Milton Neves (esse mesmo que agora só nos ironiza) a frase:  “Torcer para o São Paulo é uma grande moleza” .  E isso virou até adesivo de carro.

E ele dizia isso, porque o São Paulo sempre chegava na final ou ganhava títulos na década de 80 e início da década de 90.

O São Paulo fazia algo, que talvez aprendeu um pouco com primeiro técnico campeão brasileiro com São Paulo:  Rubens Minelli.

Ele tinha conceitos claros, transparentes e simples para servir de norte a qualquer clube de futebol:

“É a CONTINUIDADE DE UM TRABALHO, de uma FILOSOFIA DE JOGO. É a MANUTENÇÃO DE UMA BASE. Pena que são poucos os dirigentes que entendem isso no futebol. Fiquei três anos montando uma equipe, apurando a condição técnica e tática. NUM TIME MONTADO, QUALQUER REFORÇO SE ENCAIXA. Meu grande mérito foi a equipe ter uma grande OBEDIÊNCIA TÁTICA. Eram ESTRELAS DISCIPLINADAS. A cada ano conseguíamos jogadores melhor qualificados, e, por isso, tivemos o grande aproveitamento em 1976 [84% dos pontos conquistados, o maior campeão da história do Brasileirão>. Além disso, era um grupo raro, de estrelas sem vaidades. Eles compreendiam o que eu queria taticamente e conseguiam desenvolver esse futebol dentro de campo. O MEU CONCEITO SEMPRE FOI QUE O JOGADOR TEM LIBERDADE PARA FAZER O QUE QUER QUANDO TEM A BOLA. MAS, SEM A BOLA VÃO JOGAR COMO EU QUERO.”

FUTEBOL EUROPEU AINDA USA TODOS ESSES CONCEITOS

Isso é feito no Barcelona e Real Madrid há anos!

Há quantos anos, o Barcelona ficou com Dani Alves, Pique, Mascherano, Alba; Brusquets, Iniesta, Xavi; Messi?

Ou seja,  CONTINUIDADE DE UM TRABALHO, de uma FILOSOFIA DE JOGO. É a MANUTENÇÃO DE UMA BASE.  NUM TIME MONTADO, QUALQUER REFORÇO SE ENCAIXA.

E todo jogador que chega ao Barcelona, se encaixa rapidamente (tem exceções, mas temos sempre que nos basearmos na regra).

Raktic, foi uma reposição de Xavi.  Não é tão brilhante, mas quando o segundo deixou o time, já tinha alguém com características e números que pudesse suprir a carência em sua saída.

Não foi um reforço.

Reforço é Neymar, que era melhor na concepção e filosofia do Barcelona, do que Alexis Sanchez, que era ótimo!

Reforço é Suarez, pois é centroavante, algo que Fabregas cumpria bem improvisado por sua polivalência, mas que o uruguaio faz melhor.

Enfim, o Real tem um estilo aguerrido, de contato, diferente do Barcelona.  Tem jogadores com Pepe, Sergio Ramos, Marcelo, Cristiano Ronaldo e Benzema, há muito tempo.

Reforçou, na verdade repôs Xabi Alonso por Kross.  Pois Xabi Alonso por enquanto ainda é melhor.  Mas, Kross é jovem e pode passa-lo a longo prazo.

Gareth Bale, foi um reforço, pois Di Maria era fantástico, mas o galês é melhor!

Enfim, isso é Europa, e lá eles conseguem manter suas estrelas.

E NO BRASIL?  E NO SÃO PAULO?

Muricy foi jogador de Minelli no São Paulo.  E ele diz abertamente, que apesar de ter aprendido muito com Tele e Parreira de quem foi auxiliar no São Paulo, o técnico que ele se espelhava era Rubens Minelli.

E fato é que os dois são os únicos tri-campeões brasileiro na sequencia.

De 2004 a 2008, o São Paulo manteve uma base, uma filosofia de jogo (3-5-2, com linha avançada e marcação alta), e dava continuidade no trabalho.

Assim como de 1991 a 1994, fizemos no São Paulo.

Nesses períodos perdiamos jogadores, mas repunhamos rapidamente, para o time não perder suas características coletivas.

Saia Antonio Carlos, vinha Valber, saia Raí, vinha Leonardo, saia Pintado, vinha Dinho, etc. etc.

Com Muricy, saia Lugano, vinha Miranda, saia Junior, vinha Jorge Wagner, saia Mineiro, tinha Jean, saia Josué, vinha Hernanes.

Mas, desde 2009, fazemos tudo diferente dessa receita tão simples de Minelli.

Trocamos de elenco, de técnico, não temos filosofia de jogo, não mantemos uma base, e…..em um time desmontado, qualquer reforço, não se encaixa rapidamente.

E assim, contratamos, contratamos e pouquíssimos jogadores rendem, e antes de renderem, já os vendemos ou emprestamos.

Tem exceções como Maicon?  Mas, a regra é W. Diniz, Edison Ratinho, L. Ricardo, Piris, Adrian Gonzalez, Juan, Carleto, Junior Cesar, Clemente Rodriguez, Cortez, Reinaldo, e podemos citar uma infinidade de jogadores que deram errado.

Pois se a regra fosse dar certo, teriamos em 2016, um time com a maioria com mais de 100 jogos pelo São Paulo.

E o que acontece é que começamos o ano, com apenas Paulo Henrique Ganso e Rodrigo Caio com esses números.  Pois no final do ano passado, Rogerio Ceni (mais de 1000 jogos), Luis Fabiano (mais de 400 jogos) e Alexandre Pato (101 jogos), sairam.

Chegamos em julho, e não temos mais Ganso, e talvez não teremos mais Rodrigo Caio.

E esse ano, Denis, Hudson e Michel Bastos atingiram essa marca, e Lugano voltou em fevereiro.  Mas, nenhum deles é incontestável.

De qualquer modo, a defesa se reforçou esse ano com Buffarini, Maicon, Lugano e Mena.

Entretanto, o setor ofensivo, mudou demais.  Começou a pré-temporada com Ganso, Centurion, Kardec e Michel Bastos.

Em fevereiro, chegaram (estrearam) Calleri, Kieza, Kelvin.

Em março, Kieza foi embora.

Em maio veio Ytalo, por empréstimo junto ao Audax.

Em junho, sairam Rogério, Wilder e Auro (que voltou).

E chegaram Cueva e Getterson (que não foi contratado no final).

Em julho, perdemos Calleri, Ganso, Kardec e Centurion.  Chegou Gilberto e Chavez.

Sem manter uma BASE, é difícil dar CONTINUIDADE DO TRABALHO, e implantar uma FILOSOFIA DE JOGO. E assim, qualquer reforço no setor ofensivo terá dificuldade de manter a regularidade nas próximas partidas.

Cueva chego, não sei se conseguiu jogar com Ganso e Calleri, mas já jogou com Centurion, Kardec, Gilberto, Luiz Araújo, Kelvin, Ytalo, Wesley, e deve jogar com Chavez esse final de semana.  Isso tudo em 4 ou 5 jogos.

Entendo quem diz que a diretoria esta tentando reforçar.  Mas, na verdade ela não esta conseguindo nem repor.

Façam o balanço do que saiu desde outubro/2015, com o que chegou, seja em quantidade e qualidade.  Tem erros e acertos?  Sim!  Mas, são muitos acertos e muitos erros de uma vez.

Para que emprestar tantos jogadores nossos?  E depois pegar tantos jogadores emprestados?

Porque temos o medo de arriscar, e arrepender no futuro.

As decisões são sempre pensando no que pode dar errado.  Emprestamos pois o risco é pequeno, contratamos jogadores que já passaram em time grande e agora, tentam uma nova chance, pois são mais baratos.

A crítica não é de cada contratação!  É do conjunto de tudo!  É de pensar em um time, e não um monte jogadores desentrosados e em adaptação.

E é isso que Paton esta querendo que todos entendam.  Ele quer um time para defender as glórias e a história desse clube gigante!

Não temos UMA BASE (não é Cotia, é um time base) FORMADA, pois podemos ter uma zaga com jogadores com no máximo 6 meses no clube, não temos uma FILOSOFIA DE JOGO (sem Calleri e Ganso, o time terá que mudar) e assim não estamos dando CONTINUIDADE da pré-temporada (boa parte já saiu do clube).

Ernani Takahashi