SPFC e a TAÇA LIBERTADORES – 1994 O ANO DO TRI

24/08/1994 – Buenos Aires, Argentina. Estádio José Amalfitani, público: 51 mil pessoas.

Jogo tenso e truncado, em falha do lateral esquerdo André, o Vélez fez o gol com o atacante Assad, aos 35 minutos do primeiro tempo.

E esse foi o placar final da primeira partida: Vélez Sarsfield 1 x 0 SPFC.

 

31/08/1994 é o dia da grande final, Cidade de São Paulo, Estádio Cicero Pompeu de Toledo, o grande, famoso e inigualável Morumbi.

Antes quero deixar um relato que ocorreu comigo e me marcou consideravelmente:

A partida de volta das Oitavas de final contra o Palmeiras seria num domingo, pós-Copa do Mundo.

Eu e mais alguns amigos tivemos a ideia de promover uma excursão à São Paulo para ver o jogo.

Reservamos o ônibus e começamos a procurar interessados.

Por ser jogo de risco, por ser fim de mês e por uma série de fatores, nós não conseguimos reunir um numero mínimo de pagantes para cobrir as despesas. Tínhamos somente 10 interessados.

No dia da viagem tive que pegar dinheiro emprestado com minha mãe para pagar o ônibus.

Tínhamos a opção de pagar a multa e não ir viajar ou, pagar o valor integral e, no meu caso, conhecer o Morumbi pela primeira vez.

Escolhemos a opção de assumir uma divida alta e realizar o sonho de ver o Sacrossanto Morumbi.

Viajamos animados e chegamos a São Paulo às 8:00 horas da manhã.

Marinheiros de primeira viagem, nem nos preocupamos com nada.

Simplesmente estacionamos o ônibus no local reservado ao veiculo e fomos conhecer o bairro do Morumbi.

Andamos até 14 horas em volta do estádio.

Abriram os portões e eu subi as rampas do gigante.

Quem teve essa emoção sabe o que eu senti. Uma delicia impressionante sem precedentes.

Alegria imensa, até medo eu tive de estar naquela altura das arquibancadas.

Naquela época o estádio era dividido ao meio para ambas as torcidas.

Ficamos na arquibancada (hoje azul) sobre o símbolo do SÃO PAULO FC, as pepas ficaram do lado de lá.

Éramos maioria nas arquibancadas.

Tentei ficar dentro da Independente, mas não conseguimos.

O jogo foi maravilhoso, a vitória, a vibração, a eliminação do rival, o time jogando bem e o caminho aberto para o tri. Tudo perfeito.

Saímos cantando o hino mais algumas musicas e quando estávamos perto do nosso ônibus descobrimos que estacionamos bem no meio da torcida Alviverde.

Meu DEUS do céu…o que vamos fazer???

Pra nossa sorte, como chegamos cedo, todos tínhamos blusas amarradas nas cinturas, foi à salvação momentânea, aliás, a única possibilidade de chegar ao ônibus.

Uma vez lá dentro, fechamos as janelas, cortinas e ficamos quietos, calados.

Era impossível sair, pois havia dezenas de ônibus a nossa volta e não dava pra manobrar.

Para piorar, e muito, nosso drama, apareceu junto à torcida para conversar o zagueiro Tonhão.

Acreditem: ele ficou na frente do nosso ônibus, com integrantes da Mancha.

Nem preciso dizer que começou a aparecer torcedor de tudo quanto é lado.

O medo pairava no ar, uma simples suspeita poderia no colocar em maus lençóis.

Ficamos mais de 2 horas brincando de estatua para poder sair.

Foi um sufoco danado, mas valeu muito a pena e rendeu boas risadas (depois é claro).

Voltando ao jogo da final.

A final seria na quarta-feira, e depois de ter provado o gosto maravilhoso de ver um jogo no Morumbi me programei para ir à final.

E fui.

Eu, meu pai Xavier, meu irmão Lucas (na época com 13 anos) e mais alguns bons amigos lotamos um ônibus de Franca para São Paulo ver a final.

Saímos as 12:00 hs, a viagem foi tranquila. A parada obrigatória no posto da Anhanguera em Porto Ferreira foi providencial.

Encontramos outras caravanas, outros são-paulinos, outras famílias, outros sonhos de ver o tricampeonato.

Antes de chegamos em São Paulo o ônibus quebrou.

Ficamos parados mais de 3 horas, chegamos próximo ao Morumbi perto das 21 horas.

Eu nunca vi tanta gente juntas como naquele dia.

Saímos do ônibus correndo para tentar entrar no estádio.

Perto da bilheteria os guardas me pararam e pediram para eu retirar a pintura do rosto.

Tentei arrancar com a camisa, não saiu, só borrou.

Voltei ao ônibus e peguei água da caixa de isopor e me lavei.

Pra piorar nossa situação não sei dizer como, nosso ingresso era de Arquibancadas e nos jogaram para a Geral, atrás do gol onde foram as cobranças de pênaltis.

Mas, enfim, estávamos dentro do estádio e assistiríamos à final.

O JOGO

final 1994 (1)

Público declarado: 90.000 pessoas, público presente/aparentemente: 120.000 porque tinha gente demais naquele estádio.

O SPFC foi a campo com Zetti, Vitor (depois Juninho Paulista), Junior Baiano, Gilmar e André Luiz; Válber, Axel, Cafu e Palhinha; Euller e Muller; Técnico Telê Santana.

O Vélez foi com Chilavert, Zandoná, Trotta, Almandoz e Cardozo; Basualdo, (Pompei), Gomez, Bassedas e Pellegrino; Turu Flores (Claudio Husain) e Asad. Técnico Carlos Bianchi.

O São Paulo todo de branco tradicional e o Vélez todo de azul.

O tricolor tomava a iniciativa de atacar, Cafu tabelou com Euller e chutou forte, Chilavert defendeu para escanteio.

O Vélez era perigoso e Bassedas obrigou Zetti a uma linda defesa.

Aos 30 minutos, Euller entra na área pela ponta esquerda e é puxado pela camisa.

Pênalti para o SÃO PAULO.

muller 1994

Chilavert catimba, tenta de todas as formas desequilibrar Muller.

O camisa 7 tricolor vai para a cobrança e desloca o goleiro paraguaio, SPFC 1×0 Vélez.

E terminou assim o primeiro tempo.

Veio o segundo e a história poderia (deveria) ter sido outra.

Logo no inicio da etapa complementar Palhinha cruzou, a bola subiu muito, mas ela cairia nos pés de Muller que preparava o domínio. Cardozo subiu e esticou o braço esquerdo, ele praticamente dominou a bola com a mão. Todo mundo viu, menos o arbitro Ernesto Fillipi do Uruguai.

Pênalti escandaloso não marcado.

O jogo prosseguiu e Junior Baiano soltou um petardo de direita do meio do campo. Chilavert bateu roupa e Muller pegou o rebote e tentou o voleio de primeira, a bola bateu na perna do goleiro e saiu para escanteio.

Vendo o lance novamente percebo que a bola pingou no chão e subiu mais que deveria, tirando a possibilidade de um chute mais preciso.

Aos 19 minutos do segundo tempo, Cardozo (o mesmo do pênalti) faz falta violentíssima em Vitor e é expulso diretamente.

Telê Santana coloca Juninho Paulista no lugar de Vitor para tentar o gol do título, só que ele não veio no tempo normal.

Teríamos que passar pelo Vélez nos pênaltis, assim como havia sido contra o Newell´s dois anos antes.

Fim de jogo, SPFC 1 x 1 Vélez Sarsfield

Os argentinos se abraçaram e comemoram demais ao apito do árbitro.

Pareciam saber o que estava por vir. A equipe argentina havia eliminado Defensor (URU) por 4×2 e na semifinal o Atlético Junior (COL) por 5×4;

PENALTIS

penalti 1994

Vélez começa com Trotta que bate forte e abre o placar, 0 x 1;

Palhinha (o craque) foi para a cobrança e bate rasteiro, no canto esquerdo, Chilavert acerta o canto e faz a defesa, SPFC 0 X 1.

O próprio Chilavert vai para a cobrança e estufa as redes com uma cobrança forte e no canto esquerdo de Zetti, SPFC 0 x 2.

André Luiz foi o segundo a cobrar e bateu no mesmo canto de Palhinha, só que com mais força e precisão, gol do São Paulo, SPFC 1 x 2.

Zandoná o terceiro do time argentino foi para a cobrança e deslocou Zetti, SPFC 1 x 3.

 

Muller era nosso encarregado de bater o terceiro e diminuir o prejuízo. Chilavert camtibou outra vez, Muller estava pilhado, chegou gesticulando e correu para a batida.

Bola no canto direito rasteiro, o paraguaio caiu do outro lado, gol do tricolor. Muller foi tirar satisfação com o goleiro, SPFC 2 x 3.

Precisávamos pegar um pênalti.

Almandoz o zagueiro foi para a cobrança, pressão do estádio inteiro na cabeça do argentino, mas ele bateu com muita violência, uma cacetada na bola que entrou no canto superior direito, Zetti pulou no canto certo, foi pra bola, mas não dava para chegar nela, SPFC 2 x 4.

Era a vez de Euller, o filho do vento, atacante que nos classificou com dois gols contra o Palmeiras.

O camisa 11 tomou muita distância.

Se ele errar o São Paulo perde o titulo.

Autoriza o árbitro, ele corre pega velocidade e chuta.

Chilavert cai pro lado direito

A bola vai rasteira

Mas entra quase no meio do gol, um pouco pro lado direito e é caixa, gol do São Paulo, SPFC 3 x 4.

Agora era tudo ou nada.

Pompei era o encarregado.

O argentino ajeita a bola com carinho.

Vaias e mais vaias sobre ele.

Ele bate.

A bola sobe.

Zetti voa.

Junto dele mais de 16 milhões de torcedores.

Zetti se estica todo.

A bola passa por ele e continua a subir.

Caprichosa ela bate no travessão.

E cai dentro do gol tricolor.

Vélez Sarsfield, campeão da Taça Libertadores da América 1994.

Nada a declarar.

Volta pra casa de ônibus, um silêncio descomunal.

Dor no coração e na alma.

Trabalhei o dia seguinte com a camisa tricolor no corpo.

Recebi muitas gozações e alguns elogios.

Meu coração é de três cores.

VERMELHO, BRANCO E PRETO.

Nada me faz mudar, nada!

Obrigado a todos pela leitura, até a próxima;