O time que perdeu para o The Strongest no Pacaembu, que empatou com o semiamador Trujillanos na Venezuela, que foi atropelado pelo Audax em Osasco, esse mesmo time, outrora apático e sem vibração, encarnou novamente o espírito latino americano que anima a vida e a vitória na Libertadores. Nela, o futebol praticado é menos importante do que o espírito, a alma, o calor.

O Tricolor Paulista teve tudo isso nesta noite mágica. Teve intensidade, essa palavra tão usada no futebol moderno, que nada mais é do que a boa e velha pegada, a raça que não apenas bate, mas pressiona, empurra, amassa. O Toluca foi amassado. Vinte e duas finalizações são-paulinas no jogo, quatro gols, bolas na trave, chances de fazer cinco, seis.

Tudo foi tão diferente que até Centurión marcou gols – sim, no plural: foram dois, um golaço e outro típico de centroavante. Ganso, o melhor em campo, lembrou o meia comparado (não sem alguma blasfêmia) a Zidane no começo da carreira. Michel Bastos, o perseguido, foi quem abriu o caminho para a goleada. Um roteiro como que escrito pelo próprio Edgardo Bauza, que mostrou, por meio de seus comandados, porque é bicampeão continental.

Se existe algo que explica o que aconteceu no Morumbi, é o próprio Morumbi. Dentro dele, pela Libertadores, o São Paulo se transforma. Lembra aquele time dos anos 1990, de Telê Santana, se não na técnica, na fineza, na classe, pelo menos na capacidade de estraçalhar os adversários, mesmo os mais temidos. O Toluca, líder do grupo mais difícil da primeira fase, se encolheu até quase sumir.

O Morumbi, desfalque no começo do ano, voltou com tudo. Nele, o São Paulo conquistou três vitórias, sendo uma delas contra o atual campeão sul-americano. Marcou onze gols e sofreu apenas um. Mas, mais importante do que os números, voltou a estabelecer a simbiose com sua torcida, desta vez representada por 53 mil indivíduos que encararam o frio glacial da Capital paulista, simbiose esta que é um dos motivos de a Libertadores ser a Libertadores.

A classificação está garantida. Mais que isso: para o são-paulino, clareou-se, talvez pela primeira vez em um bom tempo, a sensação de que seu time pode ir longe. Nem que seja no estilo Galo-Louco de Cuca, que fazia os resultados em casa para compensar os reveses longe dela. O Morumbi pode ser o Independência/Mineirão de 2016.

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