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A garrafa. Nela, o manuscrito. Na tela, o senhor do corvo. Leio, não em voz alta. No silêncio da mente barulhenta, ou som do que você quer escutar.

 

“A nave da rainha se ‘transloucapassa’ pelos infinitos mares da futilidade

Sim, ao maestro, um apenas isso, quando é forma de interrogação tais qualidades reunidas num só. De cada um se vê notar que algo há. Não é tão simples o entregar sem nada obter. Arnaldo diz que é pedaço de papel.

Mas eu não consigo ainda perceber ao certo. O mar está nervoso demais.”

 

“Nave desarmada. Mais desalmada que amada por aqueles que perambulam sonâmbulos pelos convés.

Escrevo esta carta preso no barril. Preso pela suspeita de que não terei bons vivos olhos a me entregarem o indisfarçável, não pelos inexistentes pregos, amarras, correntes seja lá o que for físico, por assim dizer.

Daqui vejo que erram passos. Já são fantasmas. Não conseguem mais ver caminho sadio algum. Por isso rastejam. Peles quase ossos brancos até no negro dos olhos retirados. 

E aquele cheiro…”

 

“Repentino foi, então. Som de vários sentimentos bons, da pureza gritando sua presença, sua eterna existência. Sinos heicidicianos bradam o herói pela sua existência descomunal. De atos complicados, como humano, não longe de misticismos, apto para mito ser. Ainda que para alguns seja, como sempre foi. Sejam esses alguns desses nossos nós mesmos, que existem em comunhão com vários outros idênticos, dependendo da situação. Por exemplo, em 2005.

Almas brancas e vermelhas e negras, tudo junto, tudo em ordem, principalmente. Cada espaço ali traçado, da forma verdadeira, ainda que tapas sejam dados, tanto em senhores de óculos, tanto em estatutos, ainda que um bordô assalmonado de letras e números amarelos tenha dado ares de outro barco, daquele de da Gama. Ainda.. pra sempre. 

Para sempre lá estarão. Por isso, jamais o esquecimento. Jamais o abandonar, porque aquelas ali não abandonaram. Por isso, até nomes sagrados foram pronunciados em uníssono pulsar de corações.

 Ora, pra quem rezar, há heróis de preces antes de entrarem nos campos de batalha. Ora pra um, porque ora para todos e por todos. 

Foi-se então, Verdade.”

 

“Redemoinho.

A nave desce em circular infinito, rápido, cada vez mais rápido, cada vez mais inconsciente. Doentes já deixados, já esquecidos, ainda que atos declarem suas sentenças. Uivos, suspiros.

Mas, tão mal assim?

Se curado, corpo são é. Acolhido. Em paz.

Gaia, seja o que for. Em tempo de até renascer, ou ressuscitar, seja quando for. Contanto que limpo, como for.”

 

“Só ao escrever traço imagens eternas em memórias eletrônicas, microeletrônicas, no papel, no carvão. 

Alguns dormiam na neblina intensa que cega os maus. Intensa a claridade.

Os acordados agiam inquietos. Culpa que trinca mentes viciadas.”

 

 

“A nave sobe ao Sol. Límpida, sem arranhões. O que quer que seja que nela estivesse, de igual forma está. 

Assim ressurge e toca o vento, dança com ele, ouve seu tom. Já não há mais barril velho bolorento. 

É que os olhos, antes em breu, agora miram o céu. Contemplam estrelas. Junto, a segurança de um ter pra onde ir. 

Não são caminhos desconhecidos, ainda que esquecidos. 

O capitão escolheu seu sucessor, dizem. Não digo que mentem. Sequer lhes tacho ignorância. Sou um deles, porque somos todos idênticos. Irmãos de Fé. Que falassem soberana, pouco disso imagino ser. Mas há o mesmo sentir.

Reunidos ali, no centro. Onde não cai, porque permanece em pé. 

Lágrimas que secaram outras lágrimas recentes. 

Lágrimas do oceano eterno, leito da nave que dele é parte infinita.”

 

Ronnie Mancuzo – Sub