Por Rafael Bueno

“Quem esquece o passado, não tem história”.

Essa velha máxima popular mostrou-se uma enorme verdade no 11 de dezembro de 2015 e fez o são-paulino recuperarmos, em parte, o orgulho ferido pelos últimos anos em franca decadência administrativa e esportiva. A festa para o M1TO Rogério Ceni, mais do que uma justíssima e linda homenagem por sua despedida após 25 anos de serviços prestados ao São Paulo FC, ao futebol e ao esporte foi uma verdadeira ode à sua grandiosa história – e deu tons de que sim, é possível retomar o sentido de organização para um futuro.

O São Paulo, sob sua direção de marketing, e o staff de Rogério Ceni estão de parabéns pelo evento. Pude presenciá-lo em parte dos bastidores como representante do nosso Blog do São Paulo e o balanço é extremamente positivo. Abaixo, os destaques desta enorme festa:

Marketing para engajamento da torcida

Detalhes, como o copo personalizado com o selo #PraSempreM1TO, são detalhes, mas que tocam o íntimo do torcedor em torno do momento histórico – a fabricante de bebidas parceira do Tricolor teve uma grande sacada, corriqueira em jogos europeus. Em fevereiro, por exemplo, estive na Alemanha e assisti a um jogo do Borussia Dortmund, válido pela Bundesliga, no Signal Iduna Park: a cada cerveja, um copo personalizado com as cores e fotos dos jogadores e treinador (à época, o competentíssimo e vibrante Jürgen Klopp, um dos copos que consegui, junto com o do craque Marco Reuss).

Há muito a melhorar no Morumbi, logicamente. O sistema de som, por exemplo, apresenta falhas. O torcedor não tem garantia de recuperar seu lugar se desejar pegar o seu copo especial com cerveja ou se precisar ir ao banheiro. Entre muitas outras coisas, algumas delas que fogem da alçada do São Paulo, como a questão do transporte público.

Apesar desses fatores, a paixão em torno do clube de coração se mostrou – e se mostra – ainda muito forte. A programação, a estrutura física de iluminação, fogos, chuva de papel, junto do roteiro da entrada em campo dos ídolos do passado mobilizou os mais de 65 mil são-paulinos presentes a tornar o evento ainda mais bonito – e emocionante!

A reunião de verdadeiras lendas do São Paulo FC

Ainda arrepia, e devemos transmitir esse ritual aos mais jovens são-paulinos, o canto uníssono de “Olê, olê, olê… Telê, Telê”. Eterno Mestre, que edificou o esquadrão de 92 admirado até por rivais.

“É… Muricy!” também está eternizado, goste você ou não dele – o trabalho, meu filho, está marcado sequencialmente em 06-07-08. Isso sem falar de 2013 – sem ele, teríamos um carimbo que desconhecemos (e que assim pretendemos manter). Muricy é digno de todo reconhecimento e agradecimento.

Raí. Quem é Rei, nunca perde a majestade. Até repeteco o “terror do Morumbi” proporcionou no #PraSempreM1TO: aquela bola na trave em reedição da jogada ensaiada que matou o dream team do Barcelona despertou calafrios e uma catarse coletiva indescritível em palavras. A bola encontrando o travessão pareceu uma mensagem subliminar a nós irmãos de sangue e alma tricolor: o destino é implacável – quando ela tinha de entrar, entrou.

Um ídolo recente, festejado com frequência e que simboliza a entrega, devoção e amor à camisa e que agora tem seu nome constantemente pedido pela torcida. Não gosto de “raça”, pura e simples, sozinha. Gosto de futebol. Lugano sabe jogar bola – sua dedicação é o diferencial. Sem Dios, arrisco dizer que a história do M1TO poderia ter sido outra. Lugano foi um dos pilares que ajudou a construir (e mudar – lembram-se de 2004 e as vaias no Pacaembu contra o rival verde?) a história de Rogério Ceni no São Paulo FC. Se não no campo e em 2016, fato é que Diego Lugano precisa ser mantido próximo de algum modo. Ao menos no coração do são-paulino ele sempre estará.

Esse desencadeamento proposital até chegar ao protagonista da maravilhosa festa do 11 de dezembro tem uma razão de ser. Rogério Ceni foi merecedor da homenagem. Defendeu. Atacou. Mitou. Ajudou a fazer o São Paulo ser maior do que já era com a terceira estrela pintada nas defesas contra o “invencível” Liverpool. E o que era grande, só foi possível ser desenhado por todos os outros “coadjuvantes” da festa, mas igualmente protagonistas no todo.

Foi Telê que o lançou Rogério. Foi Muricy quem o deixou bater a falta do 1º gol e o comandante do Tri-Hexa. Foi Raí o espelho de liderança. Foi Lugano o alicerce. E foram Zetti, Cafu, Cerezo, Pintado, Pavão, Vítor, Ronaldão, Ronaldo Luís, Doriva, Dinho, Leonardo, Cicinho, Mineiro, Aloísio, Amoroso, Josué e outros tantos que colaboraram para dar a essa história um roteiro de ficção, de lenda. De M1TO.

Não vi a despedida de Pelé. Não vi a de Zico. Vi a de Rogério Ceni e li e ouvi relatos de jornalistas e amigos mais antigos sobre essas outras duas lendas do futebol brasileiro. O senso comum é que, na história desse esporte no Brasil, não há precedentes que cheguem perto ao adeus do M1TO dos gramados.

O nosso orgulho são-paulino anda ferido. Mas olhar pra trás fez um bem tremendo para ver que há uma instituição gigante que pode pavimentar um futuro dentro das proporções de sua história. E o evento em homenagem deu grandes mostras de que o São Paulo pode, sim, recuperar o caminho das vitórias que lhe são tão comuns.

FOTOS DA FESTA