SPFC x Goiás | Saiba morrer o que viver não soube

Diante de tantos erros e descaminhos na vida, o poeta Bocage, libertino e irônico diante de seu próprio destino, escreveu o poema “Saiba morrer o que viver não soube”.  Texto que bem poderia servir de explicação e reflexão para o São Paulo Futebol Clube na temporada 2015.

Amanhã, fora de casa, o SPFC enfrentará o Goiás e só depende de si para conquistar uma vaga na Copa Libertadores da América 2016.  O ano do SPFC, aliás, os últimos anos, assim como a vida de Bocage foram de muitos descaminhos.  Por isso o “depender de si” venha carregado de tanto receito e desconfiança.

Em sua soberania cega, repleta de “prazeres, sócios meus e meus tiranos!”, perdeu-se pelos caminhos de contratações errôneas, muitas escusas, mudanças vertiginosas de técnicos, interferências no comando dos gramados, guerra civil entre diretores e conselheiros, dentre tantos episódios que apequenaram um clube seis vezes campeão brasileiro, três vezes campeão das Américas e do Mundo.

Assim como Bocage descreveu a vida, a natureza é implacável diante dos erros. E a vida cobra. Ou, como sintetizaria Muricy, um poeta da bola: “a bola pune”.

A situação no São Paulo é tão instável e controversa, que me defronto com torcedores declararem que o time não merece a classificação para o torneio sul-americano. Pensamento o qual não compactuo, mas que não deixa de ser compreensível.

Em meio ao turbilhão que foi o São Paulo em 2015, depois de um 6 a 1 vexatório para o maior rival, o mínimo que os jogadores do São Paulo poderiam fazer neste domingo é entregar-se de corpo e alma na partida frente ao Goiás, conquistar a classificação, para dar início a um novo ciclo no clube. Para a instituição São Paulo Futebol Clube, a vaga no G-4 possui sentido também de iniciar uma reconstrução.

Quanto ao termo “morrer”, título do poema de Bocage e deste texto, evidente que é uma ironia, assim, no caso do SPFC seria enterrar tudo de errado que se fez nos últimos anos e ter forças para renascer. O primeiro ato desse renascimento é ganhar do Goiás. Se é para morrer, que se morra no G-4 e na Libertadores.

Saiba morrer o que viver não soube (Bocage):

Meu ser evaporei na lida insana

do tropel de paixões que me arrastava.

Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava

em mim quase imortal a essência humana.

De que inúmeros sóis a mente ufana

existência falaz me não dourava!

Mas eis sucumbe Natureza escrava

ao mal, que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus e meus tiranos!

Esta alma, que sedenta e si não coube,

no abismo vos sumiu dos desenganos.

Deus, ó Deus!… Quando a morte à luz me roube

ganhe um momento o que perderam anos

saiba morrer o que viver não soube.

***RICARDO FLAITT (Alemão) é um cronista-torcedor apaixonado pelo São Paulo. Fã de Garrincha, Telê Santana, João Saldanha, Careca, Afonsinho, José Trajano, Tostão e Nelson Rodrigues. E-mail: flaitt.ricardo@gmail.com